Por Célia Ribeiro
Se receber o diagnóstico é uma punhalada na alma, o que dizer das
famílias que percorrem longas distâncias em busca de tratamento para os filhos,
sem dinheiro para hospedagem ou refeição decentes? Há 20 anos, houve quem se
sensibilizou com essa situação e reuniu amigos para locarem um pequeno imóvel destinado
a acolher quem precisava: assim nasceu o GACCH (Grupo de Apoio à Criança com
Câncer e Hemopatias).
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Cantinho da leitura |
Na última quinta-feira (23), voluntárias e apoiadores se reuniram no
Espaço OZ para celebrarem as duas décadas da entidade que é considerada uma das
mais importantes ONGs voltadas ao atendimento de crianças portadoras de câncer
e doenças do sangue (hemopatias). Lembrando a saudade das benfeitoras que se
foram, como Nanci Brabo Gimenez, e felizes por terem conseguido se manter de pé
na pandemia, as voluntárias conseguiram se confraternizar após três anos.
Em entrevista ao JM na sede do GACCH, esta semana, Maria Angélica Bonilha Vianna fez um balanço
dos últimos anos em que a entidade precisou se adaptar durante o isolamento
social: “O câncer não acabou. A doença não parou”, observou, explicando que
embora o número de voluntárias, que atuava diretamente na casa, caiu de mais de
50 para em torno de 10, nenhuma criança acompanhada da mãe deixou de ser
acolhida.
Ela destacou que o GACCH sobrevive da ajuda da comunidade que
reconhece a importância do seu papel. Afinal, a sede inaugurada em 2014, em
terreno cedido pela Santa Casa de Misericórdia de Marília e construída com
recursos do McDia Feliz e Tauste Social, possui acomodações completas para que
as crianças e acompanhantes de 62 municípios tenham pouso e refeições garantidos.
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Parte das voluntárias no jantar dos 20 anos em 23/03/2023 |
A voluntária contou como tudo começou destacando que a presidente,
Dra. Doralice Tan, médica hematologista, era uma das pessoas que não se
conformaram em ver as famílias dormirem na porta dos hospitais, embaixo de
chuva, passando fome e frio, enquanto aguardavam atendimento para as crianças.
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Um dos três quartos completos com banheiro |
Inicialmente, o pequeno grupo alugou uma casa que foi mobiliada com doações
e passou a acolher quem mais necessitava. Da simplicidade daquele gesto brotou
a vontade em mais pessoas apoiarem e, aos poucos, foi se estruturando a ONG que
atualmente possui certificação de Utilidade Pública Municipal, Estadual e
Federal.
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Maria Angélica e roupas disponibilizadas às famílias |
“A casa funcionou normalmente. A única coisa que mudamos foi que não
fizemos mais artesanato, bolacha e coisas para vender durante a pandemia”,
explicou Maria Angélica. Como muitas voluntárias eram do grupo de risco, apenas
algumas puderam estar presentes nas rotinas do lugar, embora todas continuassem
contribuindo de alguma maneira com a instituição.
CUIDADOS
Tendo em vista que as crianças e suas mães iam e vinham de hospitais para
consultas, exames e sessões de quimioterapia,
a preocupação com a higienização da casa era prioridade. Ainda hoje, o
espaço é limpo três vezes por dia. As crianças e adolescentes, de zero a 18
anos, são hospedadas com suas mães em quartos com banheiro e toda privacidade e
segurança.
A ONG parece casa de avó, brinca Maria Angélica. Além da cozinha
industrial destinada à produção de itens para geração de renda (bolos, tortas,
pizzas, bolachas etc), há uma cozinha menor em que as mães também podem cozinhar,
se desejarem. Lá sempre tem bolo com café fresquinho e uma colaboradora da
entidade prepara todas as refeições que são compartilhadas em uma grande mesa,
como as de famílias numerosas.
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Artesanato das mães antes da pandemia |
Por isso, a doação de alimentos pela comunidade é tão importante. Eles
vão para as refeições de quem está hospedado e também compõem as cestas básicas
que são doadas a 58 famílias de crianças em tratamento cadastradas pela
assistente social da instituição. Maria Angélica disse que o local foi
concebido com toda a estrutura necessária, seja na parte física, como de
acolhimento às mães.
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Playground foi coberto pela ONG Amigos do Bar |
As aulas de artesanato de antigamente foram temporariamente suspensas.
Mas, há máquinas de costura para que as mães possam aprender um ofício. Ao lado
também funciona o bazar com artesanato que as voluntárias produzem o ano todo e
geram renda tão importante para ajudar no custeio das despesas.
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Brinquedoteca |
Para as crianças, há brinquedoteca e espaço de leitura. Uma professora
voluntária também vai ao local para auxiliar os pequenos nos deveres da escola.
Além disso, a área externa possui um playground que ganhou cobertura da ONG
Amigos do Bar aonde os pequenos podem brincar mesmo em dia de chuva.
Os quase 300 metros quadrados da construção abrigam uma despensa em
que são armazenados os alimentos doados e as latas de Sustagen que muitas
crianças levam para casa, sobretudo no caso dos que perdem o apetite durante os
ciclos de quimioterapia: “Essas famílias, quando se encontram em uma
fragilidade tão grande, que é a doença da criança, elas perdem o chão. O que o
GACCH faz é pegar no colo porque nós não tratamos aqui. Nós tratamos da alma. A
gente acolhe essas famílias, essas crianças. A gente dá, literalmente, café com
leite, pão com manteiga e amor”, finalizou Maria Angélica.
COMO AJUDAR
Para contribuir com esse trabalho tão importante, a comunidade pode
levar alimentos não perecíveis, caixas de leite e de Sustagen na sede,
localizada à Rua Júlio Mesquita, 50, ao lado do antigo Educandário. A nota
fiscal paulista é outra importante fonte de receita, gerando em torno de 4 mil
reais mensais. As notas fiscais também podem ser entregues na ONG que funciona
das 8 às 17h de segunda a sexta-feira. O telefone é (14) 34224111 e a chave PIX
para transferência de qualquer valor é:
o CNPJ 05.632.239/0001-06.
Leia outras reportagens do GACCH AQUI, AQUI e AQUI
*Reportagem publicada na edição impressa de 26/03/2023 do Jornal da Manhã
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