Na
paradisíaca Ilha de Maio, em Cabo Verde (África), quando o sol se põe, o happy
hour de duas universitárias de Marília não tem música, paquera ou outra
atividade típica dos jovens em férias na praia. É hora de começarem a se
preparar para a longa jornada de vigília que visa estudar os hábitos das
tartarugas marinhas “Caretta careta” ameaçadas de extinção, em um trabalho
voluntário junto à Fundação Maio de Biodiversidade.
Tartaruga marinha ameaçada de extinção |
Estudantes da UNIMAR, Luiza Arantes Sampaio, 21 anos (Medicina Veterinária) e Marina Bughi Valério, 20 anos (Direito) estão no continente africano desde o início de julho e só retornarão em agosto, após sete semanas. Pela internet, elas concederam entrevista ao Correio Mariliense contando um pouco da rotina junto aos nativos e da rica experiência de atuar em um projeto ambiental fora do Brasil.
Denominado
“Mar & Ilha”, o projeto saiu do papel graças a alguns apoiadores marilienses.
Luiza e Marina levantaram pouco mais de sete mil reais para a viagem levando na
bagagem, além de câmeras fotográficas e filmadora, a determinação de fazerem a
diferença contribuindo para a preservação das tartarugas marinhas em época de
desova e o fomento do turismo sustentável no lugar.
Estudantes organizam limpeza de praias em Cabo Verde |
“O foco
principal do projeto é abordar assuntos como a preservação do meio-ambiente e a
importância que a prática de ações sustentáveis causa em uma sociedade”,
explicou Luiza. Conforme disse, “trabalhamos no ramo da educação, dentro das
escolas e da comunidade em geral, desenvolvendo atividades teatrais, jogos
educacionais, oficinas, programa de limpeza de praias com a comunidade local
etc”. E acrescentaram: “O impacto criado pelo intercâmbio de duas jovens
brasileiras que atuam na defesa de um patrimônio não só local, mas mundial, é a
principal ferramenta para sensibilizar as pessoas”.
Luiza e Marina contaram que estão registrando tudo em fotos e vídeos para produção de um documentário, após retornarem ao Brasil, que será divulgado em exposições, congressos e nas escolas. Elas disseram que, a convite do delegado de Educação e Esportes, Teixeira Valera, também estão atuando “dentro das escolas cabo-verdianas”.
Elas fizeram
questão de destacar que foram muito bem recebidas e estão se sentindo “em casa
devido à semelhança entre os povos”. Hospedadas em casas de família, as
universitárias têm a oportunidade de aprenderem sobre a cultura local e
interagirem com a população. A língua, pelo visto, não tem sido empecilho.
“O criolo é
uma língua semelhante ao português, mas é falado muito rápido e por isso não
compreendemos o tempo todo o que dizem. As escolas ensinam inglês e francês e muitos falam essas
línguas. Com a equipe da Fundação Maio de Biodiversidade e voluntários de vários
lugares do mundo que também estão aqui, como França, Alemanha e Suécia, estamos
praticando nosso inglês”, assinalou Luiza.
Marina mostra os peixes, alimento mais consumido no lugar; |
INTERCÂMBIO
“Moramos na
casa de uma família: a mãe Yolanda, o marido Manoel e um filho de 17 anos,
Vilson. Nanda, como chamamos Yolanda, é conhecida em toda a zona Pedro Vaz por
fazer o melhor pão, que é fonte de renda para a família também. Então, por ser
tão bom, gostamos de comer no café da manhã, com café com leite, e algumas
frutas”, comentou a estudante de Veterinária.
Luiza e Marina junto à Amanda Dutra da FMB
e
Teixeira Valera na formatura de alunos
|
Nas refeições
principais, os peixes são servidos de várias formas: grelhado, assado e frito.
Apesar do hábito dos moradores comerem Moreia, as marilienses só experimentaram
a iguaria. Elas preferem o Xixarro, Cavala e Garoupa. E no lanche da tarde,
consomem o Daf, semelhante ao brasileiro “bolinho de chuva”, pão de açúcar
queimado (parecido com pão de mel) e bolos.
Diversidade
culinária à parte, as garotas trabalham duro. As incursões pelas praias são
realizadas à noite e no escuro para não prejudicarem as tartarugas marinhas.
Para chegarem aos pontos de observação e estudo, caminham por cerca de 30
minutos, diariamente, com o grupo que acampa em barracas para proteção contra o
vento, onde os integrantes se revezam para o descanso.
Na praia, a integração com jovens da comunidade local. |
O estudo
compreende o levantamento de informações como comprimento e largura das
tartarugas, se fizeram ninho ou não, quanto tempo durou a atividade etc. “Estamos
sempre atentas à presença de outras pessoas porque aqui existe um hábito muito
grande de se comer tartarugas e consumir também seus ovos”, complementou,
indignada.
Foto noturna, sem luz, para documentar as tartarugas marinhas com segurança. |
Nas primeiras horas da manhã, as estudantes retornam à casa onde tomam café, descansam e depois ajudam nas tarefas domésticas, como lavar louça. Elas também lavam as próprias roupas antes de seguirem para atividades com as crianças. Aliás, Luiza e Marina têm chamado a atenção com as gincanas e os teatros educativos onde utilizam uma das bonecas de pano produzidas pela Natália Sampaio, irmã de Luiza, que o Correio Mariliense mostrou domingo passado.
Outro
trabalho realizado nas horas de folga são os mutirões para limpeza das praias.
Envolvendo toda a comunidade, as estudantes orientam no recolhimento de lixo e
entulho. Nos fins de semana costumam ir à Vila do Maio, ondem se hospedam em
uma casa da FMB e podem acessar a internet para se comunicarem com os
familiares. E para matar a saudade do Brasil, tomam “fresquinhas”, uma espécie
de sorvete que elogiam usando uma palavra comum ao vocabulário da ilha, “Fich”.
Quer dizer, legal!
APOIADORES
A viagem ao
continente africano foi possível graças ao patrocínio do Colégio Esquema Único,
Universidade de Marília – Unimar, Life, Fortunato Gestão Empresarial, FMC,
W-Ecos, Cine Esmeralda, Revista D’Marília e Tauste. Como apoiadores ao projeto
constam as Secretarias Municipais do Meio Ambiente, Educação e Cultura de
Marília.