Embora não
haja nenhuma estatística oficial, estima-se que existam milhares de catadores
de recicláveis em Marília. Castigados pelo sol forte, eles aparentam mais idade
e trabalham duro para sobreviverem com o que as pessoas descartam no lixo. Para
um grupo de 40 catadores, além dos problemas do dia-a-dia, a preocupação agora fica
por conta do futuro quando for desativado um depósito localizado no bairro
Palmital, no próximo dia 28 de maio.
Paulo sai de casa de madrugada, diariamente. |
Esta é a data limite para que Claudenice Santana, 35 anos, desocupe um terreno da Rua Independência, 652, de onde dezenas de famílias tiram sua subsistência. A ordem foi expedida pela Prefeitura Municipal de Marília que, segundo a recicladora, “quer que a gente vá para alguma área na beira da estrada”.
Casada e mãe
de três filhos, Claudenice seguiu os passos de sua mãe que mantém um
ferro-velho há muitos na Vila Nova. Há três anos, ocupou a área do Palmital,
segundo garantiu, com autorização do proprietário, passando a receber papelão,
plástico, vidro, alumínio, metal, sucata etc, de catadores independentes que
chegam com os carrinhos abarrotados com toda sorte de materiais.
Diversos tipos de recicláveis no terreno do Palmital |
Em média, um “carrinheiro”, como é chamado o catador de recicláveis, chega a faturar de 50 a 70 reais por dia. Eles começam muito cedo, quando a cidade ainda dorme. Às 5 horas da manhã, Paulo Lucas Cardoso, de 42 anos, já está na rua. Na última quarta-feira, ele separava seus materiais enquanto atendia o Correio Mariliense, com a pressa típica de quem não tem tempo a perder.
Como Paulo,
quase 40 catadores vendem os recicláveis para dona Claudenice que não economiza
críticas à Prefeitura. Conforme disse, “o dono do terreno não quer que eu saia.
Mas, a Prefeitura encurralou ele (sic)” com uma multa de nove mil reais! “A
Prefeitura quer que eu saia daqui e vá para a beira da rodovia. Mas, quem
aguenta empurrar um carrinho com 200 quilos do centro da cidade até a
rodovia?”, desabafou.
Claudenice critica o descaso da Prefeitura |
Para Claudenice, falta uma política ambiental focada na reciclagem de lixo: “Eles não se importam de pagar milhões para jogar fora o lixo. Não querem saber porque o dinheiro é do povo”, criticou, referindo-se à falta de uma cooperativa ou central de reciclagem de lixo apoiada pelo poder público local.
Ela lembrou
que muitas cidades estão muito mais avançadas nesta área, citando o vizinho
município de Pompéia. “O prefeito dá os sacos próprios com alças para as
pessoas recolherem o lixo reciclável que tem dia certo para colocarem na rua.
Daí, eles pegam os sacos cheios e deixam outros sacos limpos”, assinalou.
ORGANIZAÇÃO
Apesar da
informalidade do negócio, Claudenice mostrou ser bem organizada: recebe
diariamente os recicláveis dos catadores independentes e ainda mantém quatro
catadores diaristas. Todo o material é separado e pesado. Depois, o valor
devido é anotado e o pagamento realizado todos os sábados. O local só não abre
aos domingos. Nos demais dias, de 7 às 19h, o movimento é intenso por lá.
Casal trabalha junto nas ruas há cinco anos. |
A
recicladora relatou inúmeras histórias de superação das pessoas com quem
convive no depósito: “Tem a Márcia que deixa a filhinha na creche e sai catando
recicláveis. Ela consegue o dinheiro dela aqui, até 60 reais por dia, e com
isso mantém a família, tem nome limpo e faz compras no comércio. A menina dela
anda sempre bem arrumada, como uma bonequinha.”
Muitos
casais também trabalham juntos na rua, como Margarida Silva e Paulo. De
aparência frágil, a catadora contou que há cinco anos recolhe recicláveis das
ruas com o marido e o dinheiro sustenta a família. Com a iminente desocupação
do terreno, ela se mostrou desolada, sem
saber como vai fazer.
PREFEITURA
Em nota, a Diretoria de Divulgação e Comunicação da Prefeitura Municipal de Marília afirmou que: “Segundo a área jurídica da Prefeitura, após o recebimento de uma denúncia de vizinhos, apurou-se duas irregularidades: a área é particular e foi invadida; o depósito de vários tipos de material fere totalmente o Código de Posturas. Daí, a reclamação de vizinhos. Por tudo isso, a Prefeitura estabeleceu o prazo para a desocupação”.
Destalhe dos recicláveis armazenados |
* Reportagem publicada na edição de 31.03.2013 do Correio Mariliense