Depois de uma semana de trabalho duro, dois amigos organizam as tralhas de pescaria, verificam as iscas, conferem se há gelo suficiente para manter as cervejas geladas e só então colocam o bote na água. Tudo pronto para algumas horas de lazer que, com um pouco de sorte, podem render alguns peixes. A semelhança com a vida real para por aí: o barquinho dos pescadores é, na verdade, uma simples casca de amendoim.
Pescadores na casquinha de amendoim |
Criada numa grande família ---cinco irmãs e três irmãos--- Marcinha, como é mais conhecida, busca nas lembranças de infância a inspiração para seus trabalhos. Apesar de sempre ter feito artesanato, a exemplo da mãe e das irmãs, a artesã passou a se dedicar às artes em 2.000, quando se desligou do último jornal em que trabalhou como repórter.
Marcinha de Oliveira e suas criações |
“Jornal toma muito tempo. Só tinha o domingo livre e neste dia eu queria descansar. Depois que eu saí do jornal eu tinha todo tempo do mundo. Em dois dias montei meu ateliê. Ficava o dia todo trancada produzindo”, conta lembrando, no entanto, que teve um insight em 2007 quando visitou uma irmã em Campo Grande. Como o artesanato é muito forte naquela região, Marcinha conseguiu comercializar algumas peças através de uma associação de artesãos. Ela viu ali a possibilidade de gerar renda com o hobby.
ENCOMENDAS
Aproveitando as vantagens da internet, atualmente a artesã produz muitas peças sob encomenda e despacha para todo o Brasil, com preços que variam de 15 a 80 reais. A arte sacra é um dos pontos fortes do seu trabalho. Os oratórios feitos em caixas de fósforo fazem o maior sucesso, assim como os santos muito solicitados por colecionadores. Fotos das criações estão disponíveis no seu perfil do Facebook.
Presépio do Laboratório Osvaldo Cruz |
Rindo, ela conta que tem uma cliente de Marília com quem só mantém contato por e-mail e telefone. A moça costuma solicitar as peças, paga com depósito eletrônico e manda um mototáxi buscar os trabalhos. Nunca se encontraram pessoalmente. Coisas da vida moderna!
As miniaturas que a artesã cria chamam a atenção pela riqueza de detalhes. Sem usar lupa, ela consegue fazer peças muito originais: “A acuidade visual é uma coisa que você vai aprimorando quanto mais você faz”, comenta. Da mesma forma, a matéria-prima dos trabalhos é um diferencial: “Uma folha vira um presepinho. Eu sou uma catadora de coisas contumaz. As caixas, além de usar nos trabalhos, aproveito para mandar as peças para fora”, explica, revelando que tem clientes em São Paulo, Rio de Janeiro e estados do Nordeste.
Márcia de Oliveira faz questão de frisar que as peças são todas exclusivas. Ela conta que fez um curso de modelagem na Capital e domina a técnica para replicar os trabalhos a partir de um molde, mas se nega a fazê-lo: “Aí não é arte. Para fazer em série já tem a China”, observa a artista que, às vezes, tem trabalho para se desapegar das suas criações: “Alguns santos, como esse aqui (aponta para um São Judas) ficam dias comigo. Depois é duro quando vão embora”.
Oratórios na caixinha de fósforo |
O ateliê montado em casa, mais que uma fonte de renda é um local terapêutico. Afastada por problemas de saúde, Marcinha está em vias de se aposentar. Nascida com uma doença congênita (luxação coxofemoral), ela já fez 06 cirurgias, a última aos 19 anos, e está relutando em fazer mais uma. Aos 52 anos, a artista recorre a medicamentos para controle da dor, faz acompanhamento médico semestral e pratica hidroterapia.
Artesanato exclusivo |