domingo, 4 de setembro de 2011

COM A AJUDA DE PARCEIROS, ENTIDADE INVESTE NO FUTURO DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES CARENTES

Por Célia Ribeiro

Na chuvosa manhã de quarta-feira, um sotaque diferente podia ser ouvido do lado de fora da sala de aula, numa escola diferente da zona norte. O barulho da chuva, bem-vinda após um longo período de estiagem, não deixava identificar o idioma falado por um grupo animado de crianças. “É aula de espanhol”, explicou um rapaz que percebeu a curiosidade da reportagem. Mas, poderia ser uma aula de italiano. Ali não existem barreiras para quem quer aprender e a única dúvida é escolher entre as opções de língua estrangeira.
Muita alegria nas brincadeiras
As portas abertas à comunidade, que chega sem cerimônia, deixam claro que o Centro Comunitário São Judas Tadeu é de todos. Com 33 anos de existência e localizado no bairro Palmital Prolongamento, um de seus projetos sociais, o Procria (Projeto Comunitário de Atendimento à Criança e ao Adolescente) é a face mais vistosa da entidade que enche de orgulho e motivação todos que dele participam.

Música no ar
Para conhecer a trajetória da instituição concebida pela comunidade da zona norte, o Correio acompanhou uma manhã de atividades e conversou com as coordenadoras Sandra de Fátima Cordeiro Roim (administrativa)e Fernanda Cristina do Nascimento Cantoara (pedagógica), com a assistente social Wanderléia Maria Malaguti e com o vereador Donizeti Alves, membro do Centro Comunitário desde sua fundação.

DE ESCOLA A PROJETO MODELO

Nos anos 80, funcionava no local uma escola estadual agrupada que acabou extinta. Assim, diante da necessidade de assistir as crianças e adolescentes de baixa renda, nasceu o Projeto Procria que hoje atende 350 crianças e adolescentes de zero a 17 anos e 10 meses. Com 04 horas de atividades diárias em período inverso ao escolar, meninos e meninas têm a oportunidade de desenvolverem suas aptidões e construírem um futuro de sucesso pessoal e profissional.

A seriedade da proposta e o envolvimento da equipe profissional foram determinantes para que o Procria atraísse apoiadores na iniciativa privada. Dois patrocinados do setor financeiro (Fundação Banco do Brasil – Federação de AABBs e HSBC Solidariedade), por exemplo, apoiam projetos esportivos e de reforço na aprendizagem escolar. Na outra ponta, o Instituto Cooperforte apoia o projeto de capacitação profissional onde meninos são formados em cursos no SENAI (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial) e inseridos no mercado de trabalho.
Vanderléia, Fernanda, Sandra e o vereador Donizeti
Instalado ao lado da Igreja São Judas Tadeu, parece que o Centro Comunitário faz milagres para manter o Procria: a Prefeitura Municipal cede parte da alimentação e alguns funcionários e contribui com uma subvenção mensal de cinco mil reais. O governo do Estado libera outros quatro mil reais. O restante é conseguido com promoções (bingos, vendas de pizza, quermesses etc).

No entanto, o pessoal caminha para emplacar projetos que garantam a sustentabilidade econômica da entidade. Uma fábrica de hóstia está em fase de instalação após um empresário doar 35 mil em equipamentos e reformar o local. A ideia é comercializar a produção para igrejas de Marília e região, gerando renda aos projetos comunitários.

MÚLTIPLAS ATIVIDADES
Monitores orientam os trabalhos
De manhã e à tarde, crianças e adolescentes são atendidos nas 10 salas de aula onde, inicialmente fazem a tarefa e trabalhos escolares e, na sequência partem para as atividades que escolheram: música (flauta, violão, teclado, coral), informática (básico, avançado e profissionalizante), artesanato (gesso, bordado, corte e costura, reciclados), desenho e pintura em tela, língua estrangeira (espanhol e italiano) e muitos outros.

As famílias também são acolhidas. Cursos e palestras sobre violência doméstica, alcoolismo e drogas, DST/Aids, planejamento familiar etc são destinados aos pais das crianças. Os públicos alvos do projeto são das famílias que ganham até dois salários mínimos e moram nas imediações (Palmital Prolongamento, Vila Barros, Salvador Salgueiro e imediações).
Crianças aprendem brincando
Todos os atendidos no Procria contam com acompanhamento escolar, atendimento psicológico e passam por consultas médicas e odontológicas agendadas na UBS São Judas Tadeu. Durante o período em que estão no Centro Comunitário, fazem duas refeições (almoço e lanche) seguindo uma dieta equilibrada e recebem material para as atividades.

 HISTÓRIAS DE SUCESSO

Todos os esforços e a dedicação da equipe multiprofissional estão resultando em emocionantes histórias de sucesso. Meninos e meninas que viviam em situação de risco social saem do projeto prontos para o mercado de trabalho. No Procria eles são preparados com tanta competência que se tornam trabalhadores diferenciados.
O xadrez ajuda na concentração e raciocínio

As coordenadoras contaram que quando foi formada a primeira turma do curso profissionalizante no SENAI com os adolescentes do projeto, houve certa resistência por parte da escola devido às experiências ruins anteriores com outros menores que não se comportaram adequadamente. Nos cursos de metalomecânica e panificação com os meninos do Procria, ao final, os resultados foram os melhores e todos acabaram empregados.
Pais assistem palestras
A assistente social lembrou o início do trabalho de visita às empresas visando garantir que os menores, pelo menos, tivessem acesso ao processo seletivo: “Nós os preparamos para as entrevistas, eles aprendem sobre relacionamento interpessoal, disciplina, como se portar. Hoje, são as empresas que nos procuram atrás de jovens (menor aprendiz) porque nossos adolescentes são diferenciados”, afirmou.

NOVOS PLANOS

A entidade presidida por Nivaldo José Zanoni tem novos desafios pela frente. A grande necessidade atual é a construção de uma quadra esportiva para as atividades das crianças e adolescentes. Hoje, 120 menores que participam do projeto patrocinado pela Fundação Banco do Brasil vão à Associação Atlética Banco do Brasil (AABB) para atividades esportivas, semanalmente. Os demais ficam no Procria fazendo outras atividades. Com a quadra no Centro Comunitário, todos teriam acesso.
A leitura é estimulada
Outro desafio é a construção de um barracão para instalação de uma oficina de costura. Animada, a coordenadora administrativa já deu até o nome “Confecções La Barros” que empregaria as meninas do projeto e suas mães numa proposta de geração de renda. Segundo o vereador Donizeti Alves, a presidente do Fundo Social de Solidariedade de Marília, Fátima Bulgareli, doou diversas máquinas. Só falta o prédio.

 E com isso, de sonho em sonho, a equipe do Procria e o Centro Comunitário São Judas Tadeu provam que quando se tem vontade, fé e determinação, é possível chegar cada vez mais longe e contribuir, verdadeiramente, para a construção de uma sociedade mais justa e fraterna.

* Reportagem publicada na edição de 04.09.2011 do Correio Mariliense

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