Apresentação no "Dia das Crianças" |
Cabelos longos, invariavelmente presos sob um lenço, camiseta regata que deixa à mostra suas tatuagens, Ademar é uma figura que não passa despercebida: articulado, fala rápido e despeja toda informação que consegue como se o relógio estivesse jogando contra. Mas, acima de tudo, tem uma postura de gratidão e enumera várias pessoas e empresas que acreditaram no seu sonho e ajudam a manter a ONG “Renovi” em pé.
Ademar, à esquerda, e instrutores de hip hop |
Ele cita a Pastoral Carcerária como o começo da virada. “Eu estava preso à matéria, mas nunca permiti que meu espírito se perdesse” afirmou para, em seguida, narrar sua trajetória. Autodidata, por 12 anos estudou Direito na penitenciária. Ajudou outros detentos nas suas defesas e foi monitor de aulas de digitação para os presos.
Exercitando sua liderança, Ademar chegou a trabalhar numa confecção instalada na prisão que produzia 20 mil peças por mês. O trabalho, a leitura e dois apoios foram determinantes para a guinada: seu advogado Rômulo Renan e o empresário Carlos Alberto Moreira, do Restaurante “O Forno”, passaram a visita-lo com frequência.
“O Carlão do ‘Forno’ é nosso grande apoiador. Ele ajuda com tudo, a começar pelo carro da ONG, ajuda no aluguel do prédio, com as sacolas plásticas onde levamos verduras, legumes e frutas para as famílias carentes e muito mais”, afirmou.
ONG RENOVI
Distribuição de alimentos na periferia |
Ademar, que tem seis filhos e dois netos, adota uma postura de pai rigoroso. Não admite cigarro ou bebida alcóolica e ainda dá broncas nas meninas alertando-as “para se valorizarem e não se deixarem usar sexualmente pelos meninos”. Exigente, só aceita na ONG quem estiver estudando: “Tem que estar na escola, não adianta vir aprender dança de rua se está solto por aí”, pontua.
Silenciosamente, a ONG vai conquistando respeito. E os apoiadores começam a acreditar nos projetos sociais, como a distribuição de alimentos para famílias carentes. Todo sábado, o carro sai carregado de produtos distribuídos na periferia. Por isso, Ademar não cansa de agradecer o Wal-Mart, Dori, Bel, Marilan, Maritucs, Restaurante Geleia, Padaria Lavínia, Paulinho Palmital, o médico Sidney Gobetti de Souza, o secretário da Assistência Social, Clóvis de Mello e, claro, o “Carlão do Forno”.
Famílias acompanham as apresentações |
Recentemente, a Secretaria Municipal da Assistência Social contratou a ONG Renovi para ministrar aulas de teatro e hip hop para os assistidos na Unidade XII da Casa do Pequeno Cidadão: “O Ademar faz um belo trabalho. Ele tem uma história de vida incrível”, afirmou o secretário Clóvis de Mello.
Segundo a monitora de dança de rua Elisângela (Negra Elis), o trabalho com os jovens já está fazendo a diferença. “Muitos meninos mudaram muito desde que começaram aqui. Isso dá pra ver de cara”, destacou.
E assim, com música, dança e, principalmente, solidariedade Ademar de Jesus está reescrevendo sua história. Com seu exemplo de vida ele mostra, sem hipocrisia, que dá para recomeçar e fazer um novo final. Depende de cada um.
* Reportagem publicada na edição de 24.10.2010 do "Correio Mariliense"
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