Lembrando o velho ditado de que “do boi só não se aproveita o berro”, uma instituição de ensino superior encarou um grande desafio: provar a viabilidade da adoção de práticas de sustentabilidade ambiental, seguindo o que preconiza a Política Nacional de Resíduos, investir em pesquisas e, ao mesmo tempo, contribuir para a formação de profissionais mais conscientes. E como se tudo isso não bastasse, também conseguiu gerar renda com o que seria descartado nos aterros sanitários.
Suzana em sala de aula: o envolvimento dos alunos foi fundamental |
Tudo começou há quatro anos, recorda Suzana: “Sou professora do curso de medicina veterinária e comecei a ficar muito incomodada em ver o lixo todo misturado, principalmente os resíduos hospitalares com o material reciclável que estava sendo desperdiçado. Como tenho experiência como consultora ambiental nessa área, escrevi um projeto e fiz a proposta para a Faculdade.”
O lixo orgânico vai para compostagem e se transforma em adubo |
Na sequência, foi a vez da sensibilização dos alunos, docentes e coordenadores. Conforme disse, “todos os alunos de todos os cursos passam por capacitações. Fazemos um trabalho de comunicação, com informativos e vídeos publicados nas redes sociais da faculdade, para reforçar o trabalho de educação que já é feito. Tanto em Garça na FAEF, como aqui na FAIP, o Programa de Gerenciamento de Resíduos é desenvolvido através do Núcleo de Educação Ambiental (NUEMA)”.
Capacitações permanentes: funcionários recebem orientações |
NÚMEROS EXPRESSIVOS
Em três anos de programa, as instituições conseguiram recolher e destinar 20 toneladas de recicláveis que seriam descartados em aterros sanitários. Por isso, a coordenadora afirma que “o projeto de Garça serve para mostrar que é possível, que não é nenhum bicho de sete cabeças; que sirva de exemplo para outras instituições e outras empresas”.
Em três anos, 20 toneladas de recicláveis deixaram de ir para os aterros |
E as boas notícias não terminam aí: “Esse material ia todo misturado para o lixo comum, para o aterro. Os recicláveis vão para recicladoras e viram outros produtos; os orgânicos se transformam em adubo usado nas fazendas da instituição. No curso de agronomia e engenharia florestal, aproveitamos a experiência como fonte de pesquisa tendo sido publicados vários artigos científicos e trabalhos de conclusão de curso de alunos da agronomia com a compostagem”, observou.
ESTRATÉGIA
Uma das estratégias utilizadas foi a separação por cores: “Tudo que é reciclável vai para o saco azul e é depositado na lixeira azul; orgânico é verde e o não reciclável vai no saco preto. Então, os funcionários tiram o lixo dos setores e levam para casinhas construídas como locais de armazenamento temporário ao longo do campus. Os sacos de cores diferentes facilitam porque os funcionários já sabem o que tem em cada um. Um funcionário passa com o trator, uma vez por dia, e faz a coleta”, detalhou.
As cores ajudam a identificar o lixo: cada coisa em seu lugar |
A coordenadora destacou que “tudo foi feito de acordo com a lei: o piso impermeabilizado tem canaleta para captação de chorume que é armazenado em uma caixa e depois utilizado como biofertilizante. Em Marília, o chorume é colocado em uma bomba pulverizadora para irrigar o campo de futebol. Em Garça foi adquirida uma chorumeira que é levado para o campus para irrigação das pastagens”.
Adubo orgânico e biofertilizantes, a partir do lixo, vão para plantações. |
A transformação envolvendo as duas instituições salta aos olhos: “No caso dos funcionários, a gente vê uma mudança de comportamento. Os que eram resistentes, hoje são aliados. Levam o lixo reciclável de casa para a faculdade. Há alunos querendo se especializar nesta área, como duas alunas da veterinária. Uma fez TCC de Gestão de Resíduos Hospitalares usando os dados da nossa implantação. E outra está procurando curso de mestrado nesta área, fez estágio comigo e educou a família inteira que agora separa os recicláveis. Aos sábados, ela vai com o namorado em uma caminhonete para Garça levar os recicláveis”, revelou.
Lixo orgânico na composteira |
Neste sentido, Suzana manifesta seu otimismo: “As pessoas mudam se você educá-las e conscientizá-las. É possível ter uma mudança de hábitos”.
FUTURAS GERAÇÕES
Com um currículo invejável, que inclui trabalhos para grandes empresas como a Petrobrás, Suzana Más Rosa tem outro bom motivo para acreditar neste projeto: o filho Kauã. “Acho muito importante servir de exemplo pro meu filho, desde as pequenas atitudes dentro de casa, separar o lixo, economizar água e envolvendo meu trabalho como professora e ambientalista”, assinalou.
Ela finalizou lembrando que seu trabalho “é cuidar do meio ambiente pensando, principalmente, nas futuras gerações. Então, meu filho está incluso neste pacote. Ele já ajuda a separar o lixo, ele acompanha meu trabalho, está sempre junto, e tem uma consciência diferenciada. É uma maneira de fazer com que isso tenha continuidade
depois dele”.
Suzana e o filho Kauã: pensando no futuro |