O menino estudioso, que sempre teve intimidade com a matemática, chegou às portas da faculdade de engenharia. Quis o destino que sua trajetória profissional guinasse para o lado das Ciências Humanas. No entanto, o talento de pesquisador prevaleceu levando-o a estudar as energias alternativas que culminaram com o desenvolvimento de um aquecedor solar artesanal, há cerca de 10 anos.
Antônio e as fotos das oficinas |
Em 1.976, o jovem Antônio Corrêa ingressou na UNESP – campus de Marília. Ao invés de remoer a frustração por ter chegado tão perto do seu sonho, aproveitou a oportunidade que a vida lhe oferecia. Passou num concurso público e, no segundo ano do curso, começou a trabalhar na biblioteca da universidade onde os livros lhe abririam os horizontes.
“Eu tinha muita curiosidade sobre as energias alternativas. Naquele tempo começava a se discutir isso. Então, sempre que eu encontrava algum material interessante na biblioteca eu tirava xerox e guardava numa pasta”, contou. Havia tanto material que, ao se formar, o jovem conseguiu reunir mais de 80 artigos de alto nível.
O passo a passo na oficina |
Com o diploma na mão, e a curiosidade em ebulição, o estudioso prestou novo concurso e desta vez chegou mais perto do seu objeto de desejo: a biblioteca do Instituto de Energia Nuclear, no campus da USP (Universidade de São Paulo), bem ao lado do prédio da Física: “Daí foi uma festa”, recordou sorrindo.
Foi um período muito rico, de descobertas, em que as ideias ficaram latentes com a certeza que no futuro poderia colocar em prática alguns experimentos. E foi o que aconteceu. De volta a Marília, aposentado, casado e com quatro filhos, foi trabalhar na região de Ourinhos na empresa de energia Duke Energy. Como sempre, aproveitou a oportunidade para continuar estudando.
Antônio trabalhava na organização da documentação da companhia de geração de energia elétrica onde encontrou um sem número de documentos e informações a respeito de energias alternativas. Foram três anos muito produtivos e fascinantes para quem mantinha acesa a chama da curiosidade dos jovens.
TRABALHO VOLUNTÁRIO
Definitivamente aposentado, Antônio Correa começou a se dedicar à fotografia. Entrou para o Foto Clube de Marília onde a também bibliotecária Wilza Matos lhe falou sobre uma biblioteca que precisava de um voluntário para organizar seus arquivos. Não pensou duas vezes e lá encontrou as condições para começar a colocar em prática suas ideias.
Estudantes no laboratório da USP |
O Centro Estadual de Educação de Jovens e Adultos (CEEJA) “Professora Sebastiana Ulian Pessini”, foi retratado, na edição de 27 de março, do Correio Mariliense, como exemplo de Escola Verde. Foi nesta escola que, além de organizar a biblioteca, Antônio Correa ajudou na implantação dos conceitos de sustentabilidade da instituição de ensino.
“A diretora gostava de energias alternativas. Então fizemos o sistema de captação de água da chuva e a instalação da cisterna. Ela também queria um moinho de vento. Mas, expliquei que à noite faria muito barulho e incomodaria os vizinhos. Usar a energia eólica na cidade é complicado”, relembrou.
O PRIMEIRO EXPERIMENTO
Garrafas PET e placas de latas usadas são materiais reaproveitados |
A explicação é simples: disposto a compartilhar sua experiência, além de ministrar oficinas para construção de aquecedores solares artesanais para ONGs e associações de moradores, ele conseguiu disponibilizar seu manual no site da “Sociedade do Sol”, uma organização vinculada à USP (Universidade de São Paulo). Assim, de tempos em tempos ele recebe e-mails de vários países narrando o funcionamento do protótipo.
E por falar em USP, Antônio Correa chegou a ministrar oficina para alunos da universidade, em São Paulo, dividindo com os jovens alunos a sua curiosidade e a vontade de descobrir maneiras de usar a energia limpa, sem prejudicar o meio ambiente e de forma econômica.
O primeiro aquecedor solar que construiu, há cerca de 09 anos, ainda está em pleno funcionamento, na residência de sua mãe. Outro aquecedor, que Antônio instalou na sua própria residência hoje está com um irmão, também em Marília.
O sistema consiste na instalação de chapas de metal pintadas de preto e sobre elas a tubulação no interior das garrafas PET. O conjunto é colocado no telhado para captar o sol e armazenar calor. O sol penetra e forma uma estufa gerando o calor que é transferido para a água dos tubos. Em pouco tempo a temperatura chega a 60 graus e pode ser mantida em caixas de isopor preparadas com isolamento interno.
Detalhe da instalação |
No entanto, Antônio ressalva que é preciso seguir corretamente as orientações, principalmente, quanto ao sistema de escape do vapor de água, conhecido como “ladrão”: “Outro dia recebi um e-mail da África, em que uma pessoa reclamava que apodreceu a madeira do telhado por causa da saída do vapor”, disse, sorrindo, antes de explicar: “As construções lá são bem simples, usam sapé na cobertura. Imagine vapor de água saindo pelo telhado sem o escape?”.
Água aquecendo |
*Reportagem publicada na edição de 29.05.2011 do Jornal "Correio Mariliense"