Numa casa simples da Rua Salvador Salgueiro, na periferia de Marília, às 3h30 da madrugada, a vendedora ambulante Luciana Sayugri acorda ao toque do despertador, deixa pronto o café para o marido acamado, e começa o domingo com uma caminhada de quase duas horas. No meio do percurso encontra a mãe e ambas seguem para a Rua XV de Novembro, 1.146: há quase um ano, essa rotina se repete toda semana porque mãe e filha fazem parte do grupo de 120 famílias assistidas pelo Centro Espírita Luz e Verdade.
Voluntários chegam bem cedo |
A fila em frente à entidade começa antes do sol nascer. No último domingo, o “Correio Mariliense” acompanhou o atendimento desde 6h quando o burburinho de voluntários podia ser ouvido da calçada. Engenheiros, advogados, médicos, professores, donas de casa, aposentados e trabalhadores em geral se revezam nas tarefas. A alegria é contagiante e nem parece que todo mundo saiu da cama de madrugada, em pleno domingo.
Logo no portão, a surpresa pelo encontro de duas figuras conhecidas: o advogado César Pillon e o engenheiro e ex-vereador Roberto Monteiro. De aventais e gorros brancos, eles ajudam na cozinha onde estão sendo preparadas as refeições: o café da manhã reforçado de boas-vindas às famílias e o almoço que cada um levará para casa no fim da manhã.
ATENDIMENTO
Café da manhã reforçado |
Mais de 130 voluntários, organizados em escalas semanais, alternam-se nas tarefas do atendimento social. No dia 17, o vice-presidente Ismael Gonçalves de Mattos, de prancheta na mão, fazia a chamada dos cadastrados. Eles têm que registrar 75% de presença (03 domingos) para terem direito a uma cesta básica por mês.
Mas, de nada adiantaria só cuidar do bem estar físico. Assim, o Centro Luz e Verdade oferece alimento para o corpo, mas também o alimento para a alma: após a recepção aos assistidos, um dos voluntários conduz a oração acompanhada por todos, com atenção. Em seguida, é servido o café da manhã no refeitório: café com leite, pão com presunto e queijo além de bolachas doces e salgadas.
Momento da oração: alimento para a alma |
Café da manhã de boas-vindas |
ALCANCE SOCIAL
Ismael e o presidente Cezar Sad |
Segundo Ismael Gonçalves de Mattos, as famílias cadastradas são assistidas por um ano ou um pouco mais, nos casos de extrema necessidade. Dessa forma, há um revezamento para que mais pessoas carentes sejam beneficiadas. Além das refeições e da cesta básica, os cadastrados podem cortar o cabelo com cabeleireiros voluntários no salão instalado na entidade, e toda semana 40 famílias escolhem roupas e calçados para levarem para casa, num sistema de rodízio. Uma vez por ano, recebem cobertores de casal antes do inverno.
O depósito onde estão armazenados os alimentos da cesta básica impressiona pelo tamanho e pela organização. Empresas como Tauste, Marilan, Unimed, Construforte, Andaluz, Água de Côco Amambi, entre outras, colaboram com doações que também são feitas pela comunidade. No entanto, para arcar com tantos custos, os voluntários do Centro Luz e Verdade organizam eventos beneficentes como a venda de lasanhas e pizzas cuja renda ajuda na manutenção de toda a estrutura.
Quanto aos alimentos do café da manhã e almoço, cada grupo de voluntários se encarrega do cardápio e da lista de compras, conseguindo doações entre amigos e se cotizando para arcarem com a aquisição dos ingredientes, que chegam a 500 reais por semana.
Verci (esq.) e o marido: parceria no social |
DEDICAÇÃO
César Pillon (esq) e Roberto Monteiro |
Monteiro, que conduziu a oração da manhã, afirmou que “a gente funciona por sintonia. Nossa tela mental e nossos pensamentos precisam estar voltados para o bem para que a gente se sintonize com o bem”. E finalizou, citando a máxima do Espiritismo de Allan Kardec: “Fora da caridade não há salvação”.
PERSONAGENS
Luciana e a mãe: as primeiras a chegar |
Apesar do cansaço por sair da Vila Nova a pé, a ambulante Luciana Sayugri era a expressão da gratidão: “Meu marido está entrevado numa cama. Se não fosse a ajuda do Centro não sei o que seria da gente”, disse, só lamentando que logo terá que sair do programa: “Fico triste porque depois de um ano eles param de ajudar. Mas, sei que eles têm que ajudar outras famílias que também precisam. A gente deve entender que tem que receber um pouco de cada vez porque não tem como ajudar todo mundo ao mesmo tempo”, concluiu resignada.
A ambulante contou que aproveita muitas informações para repassar ao marido: “Quando chego em casa, além de levar o almoço que a gente come junto, também falo sobre as palestras e o que aprendi no Centro. Divido tudo com ele”, confidenciou esboçando um tímido sorriso, antes de encerrar a conversa: “Ainda temos uns três meses pela frente”.
75 ANOS DE SOLIDARIEDADE
Fundado em 08 de setembro de 1.936, o Centro Espírita Luz e Verdade completará 75 anos em 2.011. Segundo o presidente, Cezar Augusto Sad, está sendo preparada a agenda de comemorações. Além do estudo da Doutrina Espírita, a entidade possui livraria, biblioteca e clube do livro. Para conhecer melhor, acesse o site: http://www.celverdade.org.br/
Estoque de alimentos: solidariedade de muitos |
“O verdadeiro homem de bem é aquele que pratica a lei da justiça, de amor e de caridade em sua maior pureza. Se interroga a consciência em seus próprios atos, rgunta a si mesmo se não violou essa lei; se não fez o mal e se fez todo o bem que podia." Mensagem do portal da instituição
*Reportagem publicada na edição de 24.04.2011 do "Correio Mariliense"