domingo, 17 de maio de 2020

NA QUARENTENA, SEMENTES DA SOLIDARIEDADE BROTAM EM SOLO FÉRTIL DE ENTIDADE.


Por Célia Ribeiro

Desde o início da pandemia, o maior impacto da quarentena recaiu sobre as famílias de baixa renda em que predominam trabalhadores informais e desempregados. Para essa expressiva parcela da população, a mão estendida da sociedade pode ser a diferença entre ter ou não ter o que colocar no prato. Por isso, a atuação de ONGs como o Projeto Semear, em Marília, está contribuindo para socorrer as famílias em um momento aterrador da história mundial.
Marmitas do SESI para as famílias

Com cerca de 200 voluntários, o Projeto Semear é referência em organização e transparência. Em seu SITE, a prestação de contas detalha tudo o que recebe e como investe os recursos doados pela comunidade. Não é à toa que a entidade conta com a adesão de empresas, clubes de serviço e cidadãos comuns que querem ajudar de alguma maneira.

O Projeto Semear possui 125 famílias cadastradas e atende 173 crianças e adolescentes na zona oeste, com o desenvolvimento de inúmeras atividades educacionais, culturais (veja vídeo de Eloisa nesta página) e esportivas. Com a sede própria inaugurada em fevereiro, foi preciso pensar em alternativas.

Em entrevista por WhatsApp, a diretoria informou que, “nos adaptamos a esta nova realidade e tomamos as precauções necessárias. Suspendemos de imediato as atividades com a participação de crianças e adolescentes fazendo o devido resguardo e isolamento. Porém é importante não perder os vínculos com os atendidos, vínculo social, afetivo e emocional, sendo este último o mais importante neste momento de fragilidade coletiva em que a solidão, na suas variadas formas de expressão, pode causar mais problemas”.
125 famílias contam com o cartão abastecido para comprar comida
Utilizando mensagens por aplicativo de celular, dirigentes, voluntários e as mães e famílias atendidas, estão em contato permanente, o que facilita na hora de socorrer quando surge uma situação emergencial: “Muitas famílias precisam da continuidade no trabalho de conjunto de orientação que fazemos e toda vez que surge uma necessidade maior, mesmo material, procuramos sanar de imediato”, explicou a nota.

Bugga: a cada pizza comprada, outra é doada às famílias cadastradas
Um dos grandes parceiros da ONG é o Tauste Ação Social. Dos 125 cartões recarregáveis doados às famílias, com crédito de 70 reais, a empresa doou 10 reais. Por três meses, as famílias contarão com esse reforço que não permite compra de cigarros ou bebidas alcoólicas. Através da conta do Semear em que a comunidade e empresários têm feito doações da campanha “Marília Contra o Covid-19”, foram carregados 350 cartões com 70 reais e doados a entidades para distribuição a famílias carentes cadastradas, além de adquiridos dois respiradores doados ao Hospital de Clínicas de Marília.

ORIENTAÇÃO

“A ONG Semear só está com as portas físicas fechadas, porém os trabalhos continuam e todo o dia tem novas situações que demandam nossa atenção e soluções. São muitas famílias com histórico e realidades diferentes. Educar para que tenham mais autonomia, para que aprendam a utilizar os recursos assistenciais oferecidos pelos governos, contribuir para a formação de um núcleo familiar mais integrado, entre si, e com a sociedade em que estão inseridos é trabalho contínuo”, informou a direção.
 
O Fundo de Solidariedade doou 200 cestas para a ONG
Segundo a presidente Sônia Mara Mattar, “apesar de estarmos sem atividades, não poderíamos deixar as crianças sem chocolate na Páscoa. Prezamos muito na ONG em fazer para as crianças e adolescentes o mesmo que fazemos para os nossos filhos. No mesmo dia que entregamos os chocolates, foram entregues sabonetes arrecadados pelo Projeto Semeando Amor formado por jovens”.
 
Na Páscoa teve chocolate
Além disso, com a queda da temperatura, a ONG está doando 180 cobertores para crianças e adolescente assistidos. E, através de ação solidária do Bugga Pizzaria, semanalmente, as famílias estão recebendo uma pizza quentinha: de segunda a quinta-feira, a cada pizza vendida ao público, outra é destinada à ONG. Na primeira semana, foram sorteadas 50 famílias entre as 125. E, assim, a cada semana, quem não recebeu a pizza entra no sorteio da sexta-feira seguinte.

A parceria com o SESI é outro reforço: “Recebemos as marmitas e por iniciativa de uma das funcionárias, que conhece bem a realidade de cada célula familiar, conseguimos direcionar um número de marmitas por residência que satisfaça a fome do grupo, e não enviar apenas uma por família, o que seria incoerente da nossa parte. Fazemos assim um rodízio das famílias que recebem, em determinado dia, as marmitas prontas e nos dias em que não contam com as marmitas podem se socorrer da cesta básica recebida”, explicou a diretoria.

A ONG recebeu a doação de 200 cestas básicas do Fundo Social de Solidariedade, além de doações da live do Programa “Arena de Ouro” junto com a loja JJ Ranch. Por sua vez, uma voluntária confeccionou e doou 200 máscaras de tecido para as famílias.

VOLUNTÁRIOS

A diretoria destacou a importância do trabalho voluntário: “Sem ele não se faz nada, as atividades correm o risco de não se realizarem porque um, ou outro, deixou de fazer a parte que lhe cabia, deixou por exemplo de enviar aquele ofício na data prevista, deixou de comparecer no horário combinado, deixou seu posto, sua missão. Ser voluntário é algo que requer disponibilidade, organização do tempo e disciplina, para com você mesmo e para com os outros”.
(Esq.) Sônia Mattar com Dra. Paloma Libanio Nunes
Superintendente do HC-Famema
E prosseguiu: “Na ONG Semear ninguém é dono de nada, não tem chefe, porém temos a consciência da formação de lideranças para garantir a continuidade do projeto e a sua ampliação quando assim for possível. Lembramos sempre da parábola dos voo dos gansos em que os líderes do grupo se revezam continuamente na ponta e emitem sons que entusiasmam os que estão atrás a continuar batendo as asas e voando mais alto e mais longe”.
Cobertor doado neste
fim de semana

Para ajudar, acesse: http://www.projetosemearmarilia.org.br/como-ajudar/ São bem-vindos: alimentos, ingredientes para compor as cestas básicas, material de limpeza, material de higiene pessoal, fraldas geriátricas, temperos, farinha de trigo, leite, pães, achocolatados e sucos, entre outros.  

Reportagem publicada na edição de 17.05.2020 do Jornal da Manhã

Neste blog há outras reportagens sobre o Projeto Semear.
Acesse AQUI  e AQUI








LEIA A ENTREVISTA COMPLETA:

A ONG tinha inaugurado, há pouco tempo, sua sede própria quando fomos surpreendidos pela pandemia. Como a instituição está atuando no período de quarentena?

“Nos adaptamos a esta nova realidade e tomamos as precauções necessárias. Suspendemos de imediato as atividades com a participação de crianças e adolescentes fazendo o devido resguardo e isolamento. Porém é importante não perder os vínculos com os atendidos, vínculo social, afetivo e emocional, sendo este último o mais importante neste momento de fragilidade coletiva em que a solidão, na suas variadas formas de expressão, pode causar mais problemas.
Temos vários grupos de watSapp, dos dirigentes, dos dirigentes e voluntários e o das mães/famílias que é muito ativo.Estamos sempre à disposição, ouvir é uma atitude que gera mais resultados muitas vezes do que servir uma cesta básica ou dar algo material. Muitas famílias precisam da continuidade no trabalho de conjunto de orientação que fazemos e toda vez que surge uma necessidade maior, mesmo material, procuramos sanar de imediato. 
Ser presente na vida das pessoas é algo muito importante, sabemos disso e cultivamos relacionamentos com vistas a passar este mesmo sentimento e atitude a todos que compartilham do Semear”. 

As crianças e adolescentes atendidos realizavam uma série de atividades no contra turno. Como vocês equacionaram essa situação?

“Não há como resolver tudo de imediato. Eleger prioridades é uma decisão que ajuda a administrar situações inesperadas e é isto que temos feito. Suspendemos as atividades presenciais porque requerem contato físico. Como dito, procuramos estar presentes de outras formas.”

Está acontecendo algum tipo de atividade na nova sede?

“Sim. Cumprindo os requisitos de segurança e saúde prescrita na quarentena está com dois funcionários que fazem o “meio de campo” com as famílias atendidas e com os devidos equipamentos de proteção quando se faz necessário o contato mínimo pessoal. Diretores e voluntários ficam atentos a qualquer possibilidade de arrecadação de doações de alimentos e outros itens, e quando conseguem já procedemos a distribuição imediata do que recebemos, sempre com muito critério. Nossa principal ferramenta de apoio neste e em outros momentos das atividades é o cadastro sempre atualizado que mantemos das famílias assistidas.
Saber e conhecer a realidade de cada célula social atendida faz a diferença no momento de separar e distribuir alimentos e montar as cestas básicas, em outro aspecto, de manter uma constante atenção para a questão psicossocial e encaminhar pessoas para profissionais voluntários que estão se dispondo a trabalhar em conjunto.
A ONG Semear só está com as portas físicas fechadas, porém os trabalhos continuam e todo o dia tem novas situações que demandam nossa atenção e soluções. São muitas famílias com histórico e realidades diferentes. Educar para que tenham mais autonomia, para que aprendam a utilizar os recursos assistenciais oferecidos pelos governos, contribuir para a formação de um núcleo familiar mais integrado, entre si, e com a sociedade em que estão inseridos é trabalho contínuo.
Saber buscar direitos, por exemplo, é uma orientação que fazemos rotineiramente com vistas a formar cidadãos e cidadãs mais autônomos e menos dependentes de uma sociedade cada vez mais individualista”.

As famílias assistidas são de baixíssima renda. A ONG está apoiando essas pessoas? De que forma?

“Como dito, por meio de transferência de doações que são encaminhadas para a ONG por empresas, pessoas ou grupos que se organizam para prestar alguma assistência. Temos a parceria com o SESI, por exemplo, recebemos as marmitas e por iniciativa de uma das funcionárias que conhece bem a realidade de cada célula familiar conseguimos direcionar um número de marmitas por residência que satisfaça a fome do grupo, e não enviar apenas uma por família, o que seria incoerente da nossa parte.
Fazemos assim um rodízio das famílias que recém em determinado dia as marmitas prontas, e nos dias em que não contam com as marmitas podem se socorrer da cesta básica recebida.
Outra ajuda é o pão solidário. A Sandra, hoje funcionária da ONG, tomou a iniciativa de confeccionar pães e distribuir para as famílias. Pão caseiro, feitos com ingredientes de qualidade e embalados para transporte. Atuando de forma consciente ficou decidido que as crianças não podem comparecer na ONG para retirar as doações, apenas adultos, e mais, adultos que estejam utilizando máscara caso contrário não serão atendidos. 
Tudo é informado previamente pelo grupo do watSapp, ferramenta que se tornou extremamente eficaz no relacionamento com as famílias atendidas. Tudo funciona com um relógio e assim vamos contribuindo para outro fator que reputamos da maior importância – A integração das famílias. Ordem, organização, respeito ao próximo, solidariedade, responsabilidade civil e comunitária são assuntos trabalhados de forma subliminar em cada ação que desenvolvemos.
Desta forma queremos e esperamos que num futuro não muito distante estas mesmas famílias, e não somente as crianças atendidas, se tornem parceiras e fomentadoras de outras ações e células que visam a promoção humana.Já temos história de crianças/jovens atendidos pela ONG no passado que hoje se tornaram tutores de atividades desenvolvidas na própria ONG. Contamos sempre com a imprescindível parceria das universidades, dos clubes de serviço, de entidades autônomas, das empresas e de pessoas que se disponham a dar um pouco do seu tempo, ou mesmo do seu talento profissional em prol de outras pessoas. É uma corrente do bem.”

Como a comunidade pode contribuir com a ONG neste momento?

“Aceitamos doações de qualquer natureza. Alimentos, ingredientes para compor as cestas básicas, material de limpeza, material de higiene pessoal, fraldas geriátricas, temperos, farinha de trigo, leite, pães, achocolatados e sucos, entre outros são bem vindos. Na dúvida sobre o que doar ou de que forma contribuir pode ligar que atenderemos com o maior carinho e gratidão.
Quando tudo voltar ao normal nós mantemos um programa de inscrição para novos voluntários e para propostas de novas atividades voluntárias, programas e projetos. Assim que recebidos são analisados e avaliados de que forma podem ser postos em prática, ou em que período podem acontecer, sempre respeitando um calendário de atividades, um plano de trabalho previamente organizado a cada início de ano”.

Outras considerações que achar importante.

“Toda Organização não Governamental depende de alguns fatores que são decisivos para sua criação, manutenção e perpetuação. Um deles é o comprometimento dos voluntários. Sem ele não se faz nada, as atividades correm o risco de não se realizarem porque um, ou outro, deixou de fazer a parte que lhe cabia, deixou por exemplo de enviar aquele ofício na data prevista, deixou de comparecer no horário cominado, deixou seu posto, sua missão. Ser voluntário é algo que requer disponibilidade, organização do tempo e disciplina, para com você mesmo e para com os outros. 
Isto posto é bom dizer que temos um grupo de voluntários que está em constante aperfeiçoamento porque é sabido que ninguém é perfeito.O ideal quando pensamos o futuro de qualquer entidade que atua no terceiro setor é formar além de colaboradores capacitados para as ações sócias, também formar novos líderes, gente que esteja pronta para tomar a frente de novos projetos ou mesmo dar continuidade em já existentes quando for necessário uma substituição. 
Na ONG Semear ninguém é dono de nada, não tem chefe, porém temos a consciência da formação de lideranças para garantir a continuidade do projeto e a sua ampliação quando assim for possível. Lembramos sempre da parábola dos vôo dos gansos em que os líderes do grupo se revezam continuamente na ponta e emitem sons que entusiasmam os que estão atrás a continuar batendo as asas e voando mais alto e mais longe. 
De uma forma poética dizemos que os sons por nós emitidos são as batidas dos corações fraternos, dos que estão dentro e atuantes no projeto, das famílias atendidas e de todos os cidadãos que e a comunidade que de alguma forma se faz presente. E o melhor de tudo isto é que percebemos que nossas crianças, as famílias atendidas, o bairro, as pessoas percebem isso e querem sempre colaborar mais e como podem.
Talvez seja esta a fórmula de uma sociedade mais justa e ideal para todos. A igualdade está no SER e não apenas no TER. Muito obrigado.”



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