domingo, 26 de agosto de 2018

GRATUS: QUANDO O AMOR AO PRÓXIMO UNE VOLUNTÁRIOS PARA DIFERENTES CAUSAS

Por Célia Ribeiro

Nas primeiras horas da manhã de um domingo ensolarado, quem passava pelas imediações da praça da Igreja São Bento, na região central de Marília, notava a movimentação de um grande número de pessoas, de idades variadas, posicionando mesas e cadeiras sob as árvores. Algumas horas depois, o local foi palco de um almoço coletivo oferecido às pessoas em situação de rua que chegavam ressabiadas, mal acreditando que participariam de um “Almoço em família”.
“Almoço em Família”: solidariedade no prato. 
Organizado pelo Gratus, plataforma social gratuita, criada em 2015 em Marília para conectar pessoas interessadas em fazer o bem, o almoço é um dos exemplos da atuação do grupo de voluntários que desenvolveu uma série de projetos e que, em 2018, “devido a diversos compromissos pessoais, nós estamos em hiato”, segundo explicou uma das coordenadoras, a jornalista Raquel, que prefere não citar o sobrenome das organizadoras.
A causa ambiental atrai muitos voluntários 
“A idealizadora do Gratus é a Isabela Guilen. Inspirada pelo trabalho da ONG atados, que atua em São Paulo, a Isa quis elaborar uma plataforma semelhante em Marília. Ao retornar à cidade, em 2015, visitou as entidades sociais apresentando a ideia. A conheci por intermédio de uma amiga em comum. Como apoiadora do trabalho voluntário, entrei em contato com a Isa”, recordou Raquel. Ela disse que a Isabela já havia convidado a Thaís e logo após a primeira ação (Amor no Cabide), “ganhamos o reforço da Maewa. Portanto somos em quatro”.
Evento “Café com leitura” teve voluntários do Gratus
Sobre a primeira ação, “Amor no Cabide” inspira voluntários por todo lado. Movimento iniciado em Porto Alegre (RS), consiste em coletar roupas e calçados limpos e em bom estado e doa-los a quem precisa. Em Marília, a ação disponibiliza roupas às pessoas em situação de rua, como se estivessem em uma loja. A diferença é que os cabides ficam ao ar livre e quem precisa pode pegar o que quiser.
Roupas para escolher à vontade 

ENTIDADES

Em três anos, as quatro jovens lideraram um trabalho de fôlego usando a solidariedade como combustível: “Nosso maior desafio foi levar uma nova consciência aos marilienses. Nossa meta foi mostrar que as entidades sociais realizam um trabalho que deveria ser feito pelo Poder Público e que, portanto, necessitam de todo o apoio”, afirmou Raquel.

Ela acrescentou que o Gratus realizou “um trabalho de capacitação das ONGs para que elas pudessem ser cada vez mais auto suficientes. Também capacitamos voluntários e demonstramos na prática que ‘fazer o bem nos faz bem’. Primeiro demos a teoria do que é ser voluntário, depois realizamos diversas ações”.

Desde 2015, o Gratus promoveu ações de grande impacto social: foram quatro edições de “Amor no Cabide”, dois “Almoços em Família” que reuniram pessoas em situação de rua e voluntários lado a lado; duas edições do “Dia das Boas Ações”, que é um movimento mundial, e que em Marília mobilizou voluntários transformando espaços públicos com atividades voltadas às crianças, idosos e deficientes; duas edições da “Feira das Boas Ações”; limpeza da Represa Cascata, “Lenços que Unem” (evento realizado na ACC  voltado às portadoras de câncer); campanha de Vaga Consciente; mobilização para doação de sangue etc.
Voluntários se envolvem nas ações  (Foto Babi Borba)
Dia de visita na Casa do Caminho: amor e atenção (Foto Gabriela Massela)

MOTIVAÇÃO

Raquel demonstra otimismo ao falar sobre o voluntariado: “Observo que em Marília muita gente quer ajudar, mas não sabe como. A partir do momento que um grupo começa a se organizar, as pessoas passam a ‘comprar a ideia’”. Ela prosseguiu afirmando que “Marília é uma cidade extremamente conservadora e fechada a grandes mudanças; porém, existe uma geração a fim de mudar esta realidade e que precisa de apenas um empurrão para fazer a diferença. Tenho fé de que fizemos um trabalho de mudança de mentalidade”.
"Amor no Cabide": voluntário ajuda a escolher as roupas
Ela comentou que as áreas que mais chamam a atenção são a causa animal, ao lado das demandas ambientais e sociais, destacando que quem tiver interesse em colaborar com uma entidade ou realizar um trabalho voluntário pode contatar a plataforma no website: www.gratus.com.vc
Ação Social  no Espaço Cultura reuniu muitos voluntários
Finalizando, Raquel observou que a cidade “tem um potencial enorme e que as pessoas estão dispostas a se dedicar ao próximo. Pessoalmente, busco um sentido para a existência da humanidade. Encontrei a resposta quando fiz uma pessoa sorrir. Então, a partir do momento que eu dedico a minha vida para melhorar a vida do outro, encontro sentido para a minha existência. Se pararmos para pensar, quanto tempo temos por aqui? 70, 80 anos? É muito pouco, comparado ao infinito. Que marca vou deixar neste mundo? "

Idosos receberam toda atenção (Foto Mariana Granado)

VOLUNTÁRIA

O blog da plataforma é rico em fotografias, vídeos e depoimentos de voluntários como os de Greice Monteiro de Moraes que autorizou a divulgação das considerações abaixo: “As ações têm sido lições de vida. Muito clichê, todavia, inevitável: recebo bem mais que dou! Seja divulgando a ideia, seja num café da manhã com pessoas em tratamento contra o câncer ou num almoço com moradores de rua. Cada vez mais passo a entender que na verdade somos um todo”.
Greice Monteiro de Moraes na ONG “Amor de Mãe”
Ela afirmou que “é necessário se colocar na pele do outro, pois estamos aqui para nos ajudar mutuamente sem esperar nenhuma recompensa, seja do outro lado da vida ou algo semelhante. Então, o trabalho voluntário deve ser feito sem a ideia de caridade, obrigação. É uma questão de felicidade entrelaçada!”. Greice foi professora voluntária de ballet clássico na ONG “Amor de Mãe”.

Crédito Fotos  - Arquivo Gratus

Para saber mais sobre o Gratus, acesse o website: http://www.gratus.com.vc/ 

REPORTAGEM PUBLICADA NA EDIÇÃO IMPRESSA DO JORNAL DA MANHÃ EM 26.08.2018

domingo, 19 de agosto de 2018

PROFESSORA APOSENTADA TECE BOTINHAS DE LÃ PARA AQUECER IDOSOS DOS ASILOS

Por Célia Ribeiro

Era uma vez... Havia uma arca de madeira maciça cujas ferragens destacavam-se em meio à profusão de cores dos desenhos entalhados simetricamente. No seu interior, um tesouro mais valioso que as riquezas perseguidas pelos piratas: a arca está cheia de calor humano. Em forma de botinhas de lã, o bem precioso mantem-se protegido até chegar aos seus destinatários, os idosos abrigados nos asilos de Marília.

A arca guarda calor humano
As mãos que tecem as botinhas de lã movimentam-se no ritmo das batidas do coração. Uma professora de arte aposentada e artista plástica leva ao pé da letra os ensinamentos bíblicos segundo os quais a caridade não precisa de promoção. Ela concedeu esta entrevista, na noite fria de quarta-feira, sob a condição de manter-se anônima. Será chamada de IZ a partir de agora.
Iz espera juntar 60 pares, no mínimo, para doar


Há alguns anos IZ  sofre com uma terrível dor no ombro direito. Após a aposentadoria, ela conseguiu abandonar o tabagismo, mas entrou em depressão: “Ninguém me disse que isso ia acontecer. Parei de fumar sozinha, sem remédios ou ajuda”, relatou. Sem o desagradável odor do cigarro, pensou que poderia retomar uma atividade que lhe dava imenso prazer e ocupava o tempo, que era o tricô.
No entanto, com as fortes dores no ombro, até mesmo um pesado casaco que tinha começado a tricotar foi deixado de lado. A peça foi desmanchada e se transformou em um imenso novelo de lã, usado posteriormente para a produção em série das botinhas destinadas aos idosos.

“Sempre quis fazer alguma coisa para os velhinhos. Não posso visitá-los no asilo. Não aguento porque me apego muito. Então, pensei que poderia fazer as botinhas, mas eu não sabia fazer esse modelo”, recordou exibindo o sorriso de quem descobriu uma nova vocação. “Fui lá no YouTube e fiquei vendo vídeos e mais vídeos”, comentou ao explicar de onde tirou a receita para as peças de tamanhos variados, dos menores para as idosas até o número 44 para os velhinhos, como ela os chama, carinhosamente.
Iz e suas agulhas
Devido à limitação pelo ombro avariado, IZ conseguiu encontrar agulhas de tricô menores e mais leves e começou a tecer. Surpreendentemente, durante o trabalho que rende até um par e meio de botas de lã por dia, a dor desaparece como milagre. A explicação, segundo ela, “é Deus. Só pode ser Deus”.

CONES DE LÃ

No ano passado, IZ conseguiu fazer mais de 60 pares de botinhas com recursos próprios. Por incrível que pareça, nem na hora de entregar a doação ela aparece: “Peço para alguém levar lá pra mim”, contou. Quando perguntada sobre  o que sente ao terminar uma remessa e enviar para os asilos, a resposta flui com simplicidade: alívio!
Botinhas de lã para aquecer os velhinhos
A professora testou vários tipos de lã até chegar aos cones (foto) destinados à máquina de tricô, que utiliza para os trabalhos manuais. Ela explicou que trabalha com fios duplos e, por isso, usa sempre dois cones ao mesmo tempo, colocando de 76 a 84 pontos em cada agulha de tricô número 06. E como o milagre da multiplicação dos pães, IZ aproveita o máximo que pode, doando as pequenas sobras  de fios para uma amiga que tece colchas de retalhos de lã, também para doação. Nada se perde.
As mãos habilidosas a serviço do próximo
Com o gosto apurado e o talento dos artistas, IZ se recusa a tecer os trabalhos de qualquer jeito: “Não consigo fazer essa coisa retalhada. Tem que ficar bonitinho e bem quentinho. Uso agulha 06 para as peças ficarem bem macias, com pontos maiores”, assinalou. IZ disse que as botas não têm cordões para amarração e são confeccionadas para que os idosos coloquem  meias por baixo.

No estoque de materiais, IZ tinha apenas 03 cones de lã esta semana e mostrou-se aflita diante da dificuldade em conseguir o suficiente para chegar aos 100 pares de botas de lã até o fim do ano: “Todo mundo pensa que só serve no inverno. Mas, os velhinhos sentem frio nos pés o ano inteiro”, justificou.
Cones de lã: toda doaçao é bem-vinda
Cada cone, que ela adquire na Casa Ono, rende de 8 a 12 pares de botas, dependendo do tamanho. Por isso, ela espera contar com a solidariedade das pessoas. Aos mais próximos, ela começou uma campanha e conseguiu doações de um primo de São Paulo e até de um ex-aluno. O kit com duas unidades de cone de lã custa em torno de 53 reais e quem quiser colaborar, pode enviar os cones, na cor de preferência, para a recepção do Jornal da Manhã (Rua XV de Novembro, 883) ou entrar em contato pelo e-mail: blogmariliasustentavel@gmail.com

CARINHO

Embora seus pais tenham falecido há mais de 30 anos, IZ contou que em sua casa--- o marido e o casal de filhos universitários--- “todos têm muito carinho e paciência com os velhinhos”. Ela explicou seu interesse em ajudar os idosos dizendo que as crianças conseguem sensibilizar mais as pessoas e encontram auxilio com mais facilidade.

“Todo mundo olha a criança com meiguice, toca mais. O coitado do velhinho é meio enjeitado. Troca-se a fralda da criança com a maior boa vontade. Do velhinho, não é visto com o mesmo olhar”, observou exibindo um semblante de compaixão.
Botinha de tricô: calor o ano inteiro

E com um sorriso tímido, IZ encerrou a entrevista agradecendo o apoio do Jornal da Manhã à campanha e disse estar confiante na solidariedade humana: “No ano passado, fiz tudo sozinha. Este ano não tenho condições. Já fiz vários pares, mas ainda falta muito. Me dá uma angústia pensar que falta lã para eu terminar as botinhas e mandar logo para os velhinhos. O frio não espera”, finalizou.

* Reportagem publicada na edição impressa de 19.08.2018 do Jornal da Manhã

domingo, 12 de agosto de 2018

COM O APOIO DE PARCEIROS, ARQUITETA REALIZA O SONHO DE FAMÍLIAS DE BAIXA RENDA

Por Célia Ribeiro

Os traços delicados e o sorriso aberto de onde salta uma alegria infantil escondem bem a idade. Aos 42 anos, casada e mãe de dois garotos, a arquiteta Luca Moreira é reconhecida pelos projetos que desenvolve. No entanto, nos últimos anos, a genética tem falado mais forte e tudo que viu e aprendeu com a avó e seu pai, o cardiologista Paulo Moreira, moldou uma nova faceta de sua personalidade a serviço do próximo.
Luca em seu escritório: paixão por lápis
Através do Projeto “Reformando”, junto com muitos parceiros, Luca proporciona a realização dos sonhos de muitas famílias contempladas com a transformação total de um cômodo de sua residência. Inicialmente exibido pelo Canal 4, onde a profissional está há 18 anos (como colaboradora, parceira e apresentadora), o projeto chegou à TV Bandeirantes e também será exibido no Programa “Band Mulher”.
As garotinhas pediram e ganharam um quarto novo
Para entender como Luciana Gonçalves Moreira de Almeida, seu nome completo, se transformou numa referência não só em arquitetura, como em trabalho social, deve-se voltar à infância da menina bem criada, cuja família natural de Curitiba/PR, teve um papel relevante. Ela conta, com indisfarçável orgulho, que o avô paterno, médico cardiologista e coronel, foi um dos fundadores do Hospital Evangélico de Curitiba.
Profissionais voluntários doam seu trabalho por uma boa causa
Da avó, de quem guarda doces lembranças, recebeu incontáveis ensinamentos: “Ela não tinha apego às coisas materiais. Certa vez, já doente de câncer, foi autorizar um exame na Unimed e chegou ao médico sem blusa de frio no rigoroso inverno de Curitiba”. Quando confrontada pelo médico, explicou que viu a campanha do agasalho na Unimed e resolveu tirar e doar seu casaco porque tinha outros em casa.

Durante a entrevista, com os olhos brilhando pela emoção que as lembranças lhe trouxeram, Luca narrou várias passagens da avó paterna, sempre como exemplo de amor ao próximo, de solidariedade. E isso a marcou profundamente.
Com os pais Stela e Dr. Paulo Moreira
BAILARINA

Filha de Stela Moreira, que por muitos anos foi proprietária da tradicional Academia de Balé Laika, desde os dois anos Luca estava mergulhada no mundo das artes. Aplicada, ela estudou balé na Broadway (Nova York) e seguiu na dança até a faculdade sendo que, desde os 15 anos, já dava aulas na Laika.
Família: com marido e os dois filhos
Ao se formar em arquitetura, aos 21 anos, confessou que se sentiu perdida. Enquanto pensava na especialização que faria, surgiu a oportunidade de cobrir as férias da secretária do seu pai no consultório de cardiologia. O que seria apenas um mês foi se prolongando: “Quando a secretária voltou, eu passei a ficar meio período, das 8h ao meio dia. Só saí quando meu pai me despediu, um ano e meio depois, porque disse que o consultório estava virando um escritório de arquitetura”, recordou às gargalhadas.
Parte da equipe do escritório

Como nada é por acaso, Luca Moreira tirou muitas lições do período no consultório médico: “Aprendi com meu pai a tratar o ser humano. Ele tratava cada paciente com muito carinho, chamava as velhinhas de ‘minha namoradinha’, dava até três retornos. Ajudava muito essas pessoas. Hoje ele tem dois consultórios de bairro que  ama de paixão”, apesar do consultório particular.

Assim, recorda Luca, “neste um ano e meio aprendi muito isso, a valorizar as pessoas. E, coincidentemente, na minha profissão, lido com muitas pessoas. Somos a mesma equipe, uma família. Construímos uma família e não importa se a pessoa é o construtor chefe ou o servente que está começando”, frisa.

Com a sementinha do amor ao próximo plantada na infância, Luca Moreira poderia estar na Europa assistindo aos desfiles de alta costura, mas vai a Milão a trabalho para feiras de arquitetura a fim de se atualizar. E esse conhecimento é colocado à disposição de seus clientes mas, também, das inúmeras famílias que ajuda, com o apoio de sua equipe de parceiros, nos quatro cantos da cidade.

TRANSFORMAÇÃO

O Projeto “Reformando” contempla famílias que enviam cartas com fotografias contando o que gostaria de transformar e o que significaria a mudança em suas vidas. “As cartas que mais tocam nosso coração são as escolhidas”. Já foram desenvolvidos 07 projetos e a ideia é que no programa de fim de  ano seja beneficiado um dos membros da equipe: “Tem pedreiro que doa seu trabalho no projeto e instala uma torneira de metal quando na casa dele a torneira é de plástico. Vamos escolher um dos nossos para a transformação, em dezembro”, anunciou.
Luca acompanha os projetos de perto
Entre os trabalhos já desenvolvidos, ela destaca uma residência no Residencial Montana em que a ideia era repaginar a sala. No fim, trabalharam na sala, na cozinha e fizeram uma área de lazer fechada e segura para o bebê de pouco mais de um ano. Outro projeto que a arquiteta destaca foi o que atendeu duas irmãs de 8 e 10 anos que queriam um quarto novo.

Luca em Milão para a feira de arquitetura de 2018
Os trabalhos da equipe envolvem 100% de voluntários, sejam os comerciantes que doam itens de decoração e materiais de construção, até os trabalhadores (pedreiros, marceneiros, encanadores, eletricistas etc). São executados, em 07 dias,  serviços de calha, telhado, gesso, pintura, iluminação, troca de piso e na decoração instalam papel de parede, cortinas etc. Tudo de graça.

COMUNIDADE

Inquieta, Luca Moreira queria muito atuar em um projeto que contemplasse a comunidade e não apenas algumas pessoas. Suas preces foram ouvidas: surgiu a oportunidade de revitalizar uma área verde da FAMEMA (Faculdade de Medicina de Marília). Ela explicou que o complexo atrai pacientes de mais de 60 municípios que, muitas vezes, fazem as refeições sentados no meio fio da calçada.

Luca durante gravação para a TV
A ideia é criar uma área com playground de madeira, “nada de parque plastificado”, ressaltou, além de ter espaço de convivência para pacientes, acompanhantes, funcionários da instituição e um local para os pais levarem os filhos nos finais de semana. “Uma área verde, de uso público, antes que edifiquem”. Como sempre, seus valiosos parceiros compraram a ideia e o projeto deve se concretizar nas próximas semanas. O know-how Luca tem dos tempos em que estagiava no Departamento de Parques e Praças de Curitiba, na gestão de Jaime Lerner, um dos maiores urbanistas do País.

Será que, finalmente, a arquiteta tomou posse da jovem bailarina? Que nada. Luca Moreira  tem muitos sonhos por concretizar: “Ainda voltarei a dar aula de balé. E para meninas carentes”. É só uma questão de tempo!

Saiba mais sobre a arquiteta no site: http://www.lucamoreiraarquitetura.com.br/

domingo, 5 de agosto de 2018

A ARTE DA RESTAURAÇÃO RESGATA A MEMÓRIA RESPEITANDO A HISTÓRIA DOS MÓVEIS ANTIGOS

“Naquele tempo”... Quantas conversas começam assim quando se recorda, com saudade, de momentos felizes do passado? E quantas histórias são capazes de guardar os móveis e objetos de família, passados de geração em geração? Difícil precisar. Mas, quem escolheu a restauração como profissão empresta sua sensibilidade para devolver às peças a oportunidade de uma nova vida. E assim começar novas histórias.
Aurélio em sua oficina: concentração total
Da ourivesaria, em que criava finas joias a partir de metais preciosos, o restaurador Aurélio Fiorini, 48 anos, herdou a mania de perfeição. Após 10 anos dedicados à joalheria, descobriu-se restaurador de móveis e hoje leva o nome de Marília para o Brasil e o exterior. Instalado na Rua Coronel Galdino, 355, o artesão mantém uma oficina na Rua Dom Pedro onde restaura e personaliza móveis com resultados surpreendentes.
O guarda-roupa antigo renasce como uma imponente cristaleira
Segundo ele, as pessoas estão redescobrindo a beleza dos móveis antigos fabricados com madeiras nobres. Eles podem ser restaurados mantendo as características originais ou, melhor ainda, transformarem-se completamente: um pesado guarda-roupa pode receber espelhos, vidros, prateleiras, iluminação especial e ocupar lugar de destaque como uma imponente cristaleira.
Além de residências, os móveis vão para lojas, buffets e restaurantes
Da mesma forma, uma antiga cadeira de escritório, bem rústica, após muitas horas de trabalho, pode renascer com a madeira recuperada e receber um estofamento moderno, de cores vivas. As opções são inúmeras: da decoração do hall de entrada de uma residência ao quarto de uma adolescente, a cadeira renovada estará integrada ao ambiente.

RESPEITO

Acompanhado da esposa, Andrea Fiorini, o restaurador tem dedicação integral ao ofício há cerca de 20 anos. Ele é daqueles que não pode passar perto de uma caçamba que para o carro para ver se tem algum móvel descartado. Colecionando dezenas de histórias, ele recordou as muitas vezes em que encontrou móveis antigos, em péssimo estado, que após um demorado e trabalhoso processo de recuperação foram muito disputados pelos clientes.
Irreconhecível: o móvel chegou assim às mãos de Aurélio

Difícil imaginar o trabalho para chegar a este resultado
Em tempos bicudos, já não se encontra mais tantas relíquias assim. Aurélio comentou que “antigamente, era comum a gente passar e encontrar móveis antigos em caçambas na frente das casas. Hoje, quando alguém descarta alguma coisa, logo vai embora. Tenho uma cliente que disse ter se desfeito de um móvel e, logo depois, notou o vizinho recolhendo”.

Ele ressaltou que não tem o hábito de comprar móveis antigos. O que chega à sua loja são peças que as pessoas levam para restaurar ou às vezes fazer uma troca: “Os móveis têm história, têm memória e merecem respeito. Não vou colocar preço em móvel de ninguém porque não somos loja de móveis usados que compram tudo por um preço baixo para revender. Aqui, trabalhamos com restauro e personalização. Então, se o cliente quer uma peça e tem algo que nos interessa, podemos fazer o negócio e todos saem ganhando”, observou.
Uma ópera encenada no Theatro Municipal de São Paulo usou cadeiras de Aurelio
Aurélio afirmou que a maior procura por seu trabalho é pela recuperação de móveis de família. “A pessoa lembra do que viveu na casa dos avós”, assinalou. E esse carinho pelas boas lembranças acompanha os móveis que são devolvidos com uma nova roupagem respeitando sua história.
Muitas horas de trabalho para recuperar essa peça
Restaurada, a peça inicia um novo ciclo.

“O que é da vovó não é dispensado mais. Antes, os avós faleciam e todo mundo colocava os móveis para fora na caçamba. Tenho documentos de família, fotos antigas de famílias que foram encontrados em caçamba, que eu tenho devolvido”, contou, acrescentando que achou um nome conhecido em um documento dentro de um móvel e devolveu à pessoa.
No comércio, as peças valorizam o ambiente de exposição.
O restaurador disse que a mentalidade está mudando e as pessoas voltaram a valorizar o que herdaram: “Hoje em dia a pessoa têm olhado com mais atenção. Está vendo de forma diferente. Tem que preservar, em todos os sentidos, não só o material, mas a memória, porque o móvel nada mais é que a memória. Não só a memória afetiva, mas memória de estilo, de trabalho, de mão-de-obra, do tipo de material usado na fabricação”.
Com atenção aos detalhes, o conjunto de jantar ficou impecável
Perfeccionista, o artesão tem peças enviadas para várias regiões do Brasil e do exterior. Um segmento em que é muito valorizado é o da confecção e restauração de mobiliário para igrejas. Atualmente, ele está trabalhando para uma capela da Casa Paroquial de Vera Cruz e um andor giratório que fez para Nossa Senhora, a partir de um tampo de mesa redondo, já rodou o País em eventos religiosos.
Andor de Nossa Senhora: peça feita com tampo de mesa redonda
ESCOLA

Atualmente, Aurélio Fiorini possui dois auxiliares que classifica como raros. Mas, no ano que vem, quando colocar em prática uma ideia antiga, certamente contará com mais mão-de-obra especializada: ele pretende iniciar um curso de restauração em sua oficina para que os alunos, em pequeno número, possam aprender sobre os vários aspectos que envolvem o trabalho, desde a marcenaria, até a produção de pequenas peças.
Na oficina ele tem milhares de peças para restaurar
Apaixonado pelo ofício, Aurélio acalenta esse sonho há muito tempo e lamenta a falta de mão-de-obra para o setor. São horas e horas em um trabalho que exige atenção aos mínimos detalhes. Tudo é feito à mão utilizando ferramentas diversas. “Não é como colocar um pedaço de madeira na máquina, ligar e apertar o botão do computador. Tudo é manual, feito com cuidado porque cada peça é única”, assinalou.
Mesa e cadeiras restauradas: vida nova
O restaurador sabe que este será um grande desafio. Provavelmente, quem se interessar será por hobby, para se distrair. Agora, se entre os novatos aparecer algum artista talentoso, Aurélio vai logo avisando: “Terei emprego pra ele”.

Para saber mais sobre o restaurador, acesse: http://www.aureliofiorini.com.br/ O e-mail é: restaurabrasilloja@hotmail.com e o telefone (14) 32212091

Em 2013, este blog publicou a primeira reportagem com Aurélio Fiorini, que pode ser conferida AQUI