domingo, 1 de julho de 2018

UM MUNDO MELHOR: ATIVISTA REUNIU EM LIVRO SUAS EXPERIÊNCIAS COM A PERMACULTURA.

Por Célia Ribeiro

Quando menino, ele corria livre pelo imenso quintal de pé no chão em harmonia com a natureza. A terra fértil, onde se plantando tudo dá, também fez brotar no rapaz alto, magro e de olhar doce o desejo de descobrir uma alternativa à exploração desmedida dos recursos naturais que está levando o planeta ao colapso. Adulto, o ativista e sociólogo Djalma Nery tem agora o desafio de compartilhar o que aprendeu sobre a permacultura.
Dia de campo para conhecer de onde vem o alimento
Na última semana, ele esteve em Marília para proferir uma palestra no CEEJA (Centro de Educação de Jovens e Adultos) e lançar o livro “Uma Alternativa para a Sociedade – Caminhos e Perspectivas da Permacultura no Brasil” que reuniu tudo o que ele aprendeu em anos de viagens ao Brasil  e diversos países da América Latina conhecendo modelos inovadores de interação do homem com o meio ambiente.

“Permacultura é um sistema em que o habitante, a moradia e o meio-ambiente estão integrados em um único organismo vivo”: esta é uma das inúmeras definições e que se encontra no portal www.ecycle.com.br As pesquisas que Djalma Nery fez ao longo de vários anos foram sistematizadas na sua tese de Mestrado (USP/Piracicaba) em 2014, “quando decidi trazer essa paixão da permacultura para dentro da academia”.
Limpeza de terreno para horta urbana em S. Carlos
Ele explicou que realizou “um trabalho de mapeamento dos grupos que estavam trabalhando com isso a nível nacional e o resultado está neste trabalho que virou livro”. Se esta é a parte mais visível do seu trabalho, vale voltar alguns anos quando ele fundou a ONG Associação Veracidade (www.veracidade.eco.br) em 2012, em São Carlos, cidade que considera seu berço porque ali chegou aos seis meses de idade.

“Cresci com meus pais muito conectados com a questão ambiental. Sempre tive horta em casa, cresci em quintal grande e sempre fui sensível a esta questão. Mas, conheci mesmo uma proposta concreta em 2008 em contato com o movimento de hortas urbanas. Comecei a ver um grupo de pessoas se organizando para ocupar espaços ociosos transformando em horta e produzindo dentro da cidade”, recordou.
(Esq.) Gustavo Schorr e Djalma Nery em Marília
O fascínio pelo movimento fez com que Djalma começasse a viajar em busca de conhecimento: “Visitei grupos, pessoas e iniciativas que estavam desenvolvendo esses projetos de permacultura no Brasil e na América Latina. Fui para a Argentina e Peru e passei três anos viajando. Ficava dois meses aqui, seis meses ali, trabalhando como voluntário, trocando hospedagem e alimentação por trabalho e depois disso voltei para São Carlos”.

Aproveitando o quintal de 1.000 metros quadrados na propriedade da família, na Vila Prado, o ativista fundou a Associação Veracidade em uma espécie de comunidade urbana: além dele, de sua companheira e da mãe, alguns amigos vivem no local em que são aplicados os conceitos da permacultura.

PRÁTICAS SOCIOAMBIENTAIS

“Mais do que só falar do assunto e pesquisar, o lance é viver”, afirmou, assinalando que a experimentação é a base de tudo. As propostas são testadas e o que dá certo é implementado. Segundo Djalma, aquele espaço familiar e comunitário “acabou se tornando uma referência regional. A gente recebe visita de grupos, de escolas com crianças e também de universitários”.
Sistema de produção sem agrotóxico
Para viabilizar a difusão do conhecimento, foi criado um roteiro de visitas “passando por cada um desses espaços. Mostramos como funciona a horta orgânica, a nossa compostagem, o banheiro seco, pegamos a água da chuva, geramos nossa energia, enfim, mostramos todas as tecnologias e apresentamos esse universo da permacultura”.

Em pouco tempo a proposta ganhou visibilidade, chamando a atenção em outras regiões. Atualmente, a ONG possui projetos em outras cidades, como um desenvolvido em parceria com a Fundação Banco do Brasil no Vale do Ribeira.
Compostagem: solução para resíduos
Voltando ao livro, diante das dificuldades do mercado editorial, Djalma partiu para o financiamento coletivo, um tipo de “vaquinha virtual”, arrecadando 37 mil reais para a impressão de 1.500 exemplares. Cerca de 1.000 pessoas adquiriram a obra antecipadamente e outros quinhentos exemplares estão com o autor que tem visitado várias cidades divulgando a permacultura.

EXPERIÊNCIA RICA

“Em termos gerais, o que me surpreende muito é a criatividade do povo brasileiro que tem a capacidade de superar situações e conseguir contribuir para as mudanças”, comentou ao falar sobre as viagens para conhecer os projetos em desenvolvimento no País. Conforme disse, “comecei a ver que esses grupos, que nem se conheciam entre eles, tinham um projeto comum de mudança para a sociedade”.
Visita de estudantes à ONG Veracidade
Neste sentido, prosseguiu o ativista, “estava cada um no seu espaço praticando e não tinham uma conexão. Juntos, eles põem uma possibilidade de mudança concreta. O pouco que eu trago neste livro é como transformar experiências como as que a gente vive em experiências mais amplas, mais conhecidas e mais praticadas”.

De acordo com Djalma Nery, “falta bastante comunicação entre eles. E, por serem coisas que vão na contramão do que está estabelecido, dificulta um pouco o processo de divulgação”. Ele citou como exemplo a gestão de resíduos: “É uma coisa assustadora o que a gente faz com nossos resíduos. A gente enterra, basicamente, nos buracos que chama de aterro sanitário, contamina água e solo, gera gás metano, sendo que uma coisa simples como a compostagem poderia ser uma solução para os resíduos e não é aplicada”.

Djalma em limpeza de área para plantio
O ambientalista destacou a dificuldade em expandir o conhecimento lembrando que poucos sabem o que é permacultura e até a agroecologia, mais conhecida, ainda é pouco difundida. Ele defendeu a importância “do poder público ter uma visão estratégica e incentivar esse tipo de prática”.

Em Marília, ele conheceu a Horta Comunitária Vinha do Senhor que tem à frente voluntários da Paróquia do Jardim Santa Antonieta em área cedida pela CEAGESP. “Achei um projeto social incrível. E, andando por Marília, que não é muito diferente de São Carlos, vi muitos terrenos ociosos que estão juntando entulho e lixo. Vejo que as hortas urbanas são um caminho muito simples para produzir alimentos dentro da cidade, gerando o contato da população com a natureza”, destacou.

CONCEITO DE CSA

No interior de São Paulo, vários municípios descobriram a importância das CSAs (Comunidades que Sustentam a Agricultura) onde a população, cada vez mais, apoia o relacionamento direto entre os produtores de alimentos orgânicos e os consumidores. Ourinhos, Lins, Bauru, Botucatu e São Carlos são exemplos de iniciativas bem sucedidas de CSAs que Djalma Nery acredita ser viável em Marília.
Estudantes de várias idades visitam a ONG Veracidade
O conceito da CSA é que um grupo de pessoas se reúne em torno de uma família de produtores. Mediante o pagamento mensal, que varia de 100 a 160 reais, toda semana cada uma das famílias de consumidores recebe uma cesta de alimentos orgânicos (verduras, legumes e frutas) da época. Em São Carlos, desde 2013, 40 famílias apoiam uma família de pequenos produtores, mas há casos de grupos de 30 a 50 famílias para cada produtor.
O cuidado com a terra atrai cada
vez mais pessoas

“Na CSA a ideia é colocar junto quem produz e quem consome e torna-los parceiros que estão interessados não só no pé de alface, mas no modo de produção sem veneno, que não agride a natureza”, explicou. Ele acrescentou que a sociedade vale para os tempos bons e os tempos difíceis. Isto é, se tiver uma chuva de granizo e houver perda na produção, os consumidores receberão menos produtos. O mesmo vale se houver uma grande produção e, neste caso, a cesta de orgânicos estará muito mais recheada e variada.

Finalizando, Djalma Nery afirmou que na região de Marília há vários pequenos agricultores que poderiam ser fornecedores de uma CSA: “Se come comida boa e barata garantindo o bem-estar dos produtores. O maior drama da agricultura familiar é plantar sem saber se vai vender, se vai colher. Esse modelo dá segurança porque eles plantam sabendo que serão sócios dos consumidores, colhendo ou não, e todo mundo se beneficia”.

Para saber mais sobre a ONG, acesse: http://veracidade.eco.br/ e nas redes sociais: https://www.facebook.com/AVeracidade 

Crédito das fotos:  ONG Veracidade

2 comentários:

  1. Parabéns excelente reportagem ..fica claro a importância da agricultura familiar..

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  2. Outro item tAntos terrenos com lixos.entulhos que poderiam ser aproveitos...

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