sábado, 27 de janeiro de 2018

A PIANISTA E BAILARINA QUE VIROU PEDAGOGA USA A MÚSICA NO DESENVOLVIMENTO INFANTIL

Por Célia Ribeiro

Ela queria ser pianista. E conseguiu. Mas, também foi tecladista, bailarina, sapateadora, acrobata, cantora, contadora de história e atriz. Com a arte saindo pelos poros, a profissional que cruza o País atrás de alguma novidade para incrementar sua formação, desenvolve um trabalho inovador através da música na educação infantil. Caroline Alaby Manzano é a pedagoga por trás de um projeto que tem chamado a atenção de pais e educadores.
As apresentações na escola são concorridas
Aos 28 anos, mas com jeito de menina, Carol diz que nasceu artista. Desde muito cedo queria aprender piano por influência de uma prima que tocava lindamente na casa dos avós. “Eu gosto de arte desde que me entendo por gente”, conta, revelando que sua primeira matrícula não foi em pré-escola, mas em uma escola de balé. Apaixonada pela dança, ela explicou que pratica “amadoramente e nunca parei porque queria parar, foi por uma questão financeira ou de tempo”.

Carol prosseguiu afirmando que “a dança veio primeiro porque foi o que a gente teve oportunidade, eu tinha só três aninhos. Gostei do balé porque foi o que minha mãe me ofereceu. Acho que qualquer coisa artística que tivessem oferecido eu teria amado”. Paralelamente ao balé, ela queria piano e a mãe, Luciana, vencida pela sua insistência, a colocou para estudar teclado, com 8 anos. Só alguns anos depois, finalmente, ela pode ir ao conservatório, onde realizou o primeiro sonho.
Recital de piano: primeiro sonho realizado
Determinada, Carol contou que estudou “um tempão de teclado e aos 13 anos fui para o Conservatório Musical e Artístico Carlos Gomes. Aos 17 anos comecei a dar aula e foi maravilhoso porque consegui terminar o curso pagando com meu trabalho. Depois, fiquei até os 23 anos trabalhando no mesmo conservatório, que foi uma escola para minha vida. Foi o primeiro lugar em que fui professora, que descobri que eu gostava de ensinar e especialmente que eu gostava muito de ensinar criança”, pontuou.

FORMAÇÃO SUPERIOR

De família musical --- os pais, irmã e cunhado cantam e tocam nas missas da Igreja São Miguel --- Carol seguiu encantada pela música. Foi estudar técnica vocal, mas sempre explorando outras possibilidades artísticas, como o tecido acrobático de circo e o teatro. Envolvida com o Grupo de Jovens da igreja, ela desenvolveu vários projetos em que unia sua fé e a arte.
Café com Música: presença em eventos culturais
Chegando a época de optar por um curso superior, ela revelou o temor de “estudar música ou dança, apesar de ser o que eu queria. Na época, 10 anos atrás, não tinha tantos cursos de educação musical como tem hoje, não era muito comum as pessoas fazerem música e dança; pelo menos não na minha realidade. Era uma coisa muito distante. Eu pensava o que vou fazer? Vou passar fome com isso”.

O curso de Pedagogia, na UNESP de Marília, mostrou-se a escolha acertada: “Não me arrependo nem por um segundo, me identifiquei muito. Se quero ensinar, por mais que seja arte, eu tenho que ser pedagoga, tenho que saber sobre o desenvolvimento infantil, como a criança pensa, entender a criança para eu poder ensinar. Quando eu saí da pedagogia, falei que queria fazer alguma coisa na educação musical”, recordou.
Tecido acrobático circense: experimentação

Carol revelou o sonho de ter um espaço próprio “para ensinar arte para as pessoas. Na época que eu entrei na faculdade foi sancionada a lei da volta da música nas escolas e fiquei super empolgada, fiz TCC (Trabalho de Conclusão de Curso) sobre isso e comecei a procurar pós-graduação, mas era tudo longe. Inscrevi-me em Bauru duas vezes e não abria turma até que surgiu a oportunidade de uma pós-graduação em pedagogia da dança e do teatro”.

E foi neste período, na USC-Bauru (Universidade do Sagrado Coração), em contato com  artistas profissionais e amadores, que Carol consolidou a crença de que podia seguir adiante com seu projeto. Com a energia das pessoas determinadas, a jovem percorreu o País atrás de cursos de aperfeiçoamento. E como uma coisa leva à outra, chegou ao “Música e Movimento” do consagrado educador musical Uirá Kulhman.

A DESCOBERTA

“Neste curso conheci muitos educadores e não parei mais de ir para São Paulo. Descobri uma abordagem nascida na Alemanha dentro da educação musical que se chama Orff Schulwerk, que traz uma proposta que me identifiquei porque tinha muito a ver com o que escolhi pra mim como pedagoga, que acredita na criança, que a criança é protagonista, que dá a possibilidade da criança se desenvolver a partir de estímulos. Você não dá a coisa pronta”, explicou.
Cacareco: música e contação de história que atraem as crianças

Carol se encantou com o mundo que se descortinava à sua frente: “Inverti. Antes eu ensinava piano, ensinava a criança a ler e a escrever música. Agora eu ensino as crianças a serem música e a sentirem a música”, contou com indisfarçável emoção. Professora dos alunos de educação infantil do Colégio Cristo Rei, Carol afirmou que a educação musical reflete no desenvolvimento e no aprendizado das crianças.

Conforme disse, “existem alguns estudos feitos por neurologistas, pessoas que analisam o cérebro especificamente, que comprovam a eficácia do aprendizado musical bem feito na primeira infância, de zero a 7 anos. Nesta fase é quando tem o maior ‘boom’ de produção de células e quando a gente vai estabelecer a base do nosso aprendizado. Depois disso a gente cria pontes e conexões, mas a base forma ali. A partir daí a gente tem possibilidades ou limites”.
Balé: eterna paixão


Carol destacou que “a música ainda é muito pensada como talento nato e isso pode ser muito perigoso, pois quem acredita que tem o talento pode pensar que não precisa estudar porque é talentoso e quem acredita não ter pode pensar que não vai aprender porque não tem talento. O Orff traz uma visão de que todo mundo é musical e pode aprender música. Pode não se tornar um Mozart, viver de música, mas pode se alimentar do benefício que essa vivência traz”.

Sobre seu trabalho no colégio, Carol explicou que “a gente oferece a música enquanto estímulo pensando que ela é uma linguagem. Pensando nisso, precisa estar imerso nela, como quando se aprende inglês em que os alunos ficam imersos na sala de aula onde a teacher só fala inglês. Para aprender essa linguagem tem que estar imerso nela. Ofereço a oportunidade de imersão coletivamente na maior variedade de composições sonoras e quase sempre cantadas por mim. Na escola faço esse trabalho”.

GRANDE PASSO

Com o apoio dos pais, Luciana e Sandro Manzano, a pedagoga multifacetada se prepara para um voo mais alto: “Chegou a hora de realizar meu sonho e de abrir minha escola. Pretendo atender a primeira infância, fazer grupos de musicalização a partir de 6 meses até 7 anos acreditando nestes benefícios que vão além da música. A intenção da minha escola vai para além da formação musical, mas trabalhar com tudo o que a música oferece: desenvolvimento emocional, afetivo, social e cognitivo, muito completo para a vida da criança”.

Ao retornar de mais um curso, na semana passada, Carol contou sobre “um outro educador, que veio complementar o Orff, que se chama Gordon. Eu acabei de vir de Brasília onde estava em uma formação dessa abordagem. O Gordon conseguiu sistematizar a educação musical no sentido de oferecer as experiências para esse aprendizado acontecer, esses estímulos, e aí a ideia da minha escola: ser um espaço de música e movimento”.
Carol Alaby: artista multifacetada
Sensível, como todo artista, Carol quer abrir a escola em março deste ano com uma proposta ousada: “Na minha escola, apesar do coletivo embasar tudo, haverá uma atenção individualizada, personalizada. Estou reformando um espaço com acessibilidade, pensada nos mínimos detalhes”, pela irmã arquiteta Daniele Mazuti. Ela almeja que “as famílias que têm filhos com necessidades especiais também se sintam muito acolhidas e possam ocupar esse espaço. Acredito muito no potencial de uma educação que possa unir essas crianças que convivam juntas”.

AGENDA CONCORRIDA

Carol pretende seguir com sua agenda concorrida conciliando as aulas no colégio e os inúmeros eventos que faz, seja em apresentações solo com a contação de histórias ou em dupla com o ator Calu Monteiro (Cacarecos) onde coloca para fora as muitas artistas que convivem com sua criatividade em ebulição.

Para o futuro, a pequena bailarina que virou pianista profissional, pedagoga e uma infinidade de outros talentos, quer devolver um pouco do que recebeu: “Meu pais apoiaram todas as minhas loucuras financeiramente. Jamais teria conseguido fazer todas as formações se não fossem meus pais”, disse.
Carol com os pais: Sandro e Luciana
E finalizou: “Eles sempre deixaram muito claro que o que esperavam, de mim e da minha irmã, sempre foi honestidade e coerência, nunca foi posição social. Meus pais sempre me incentivaram. Eu me sinto responsável por dar essa resposta para o mundo, não só para eles. Uma pessoa amparada tem a responsabilidade de ser muito inteira. Isso que faz o mundo ser um lugar melhor para viver”.
Para se comunicar com a pedagoga o e-mail é: carol_alaby@hotmail.com

sábado, 20 de janeiro de 2018

INSPIRAÇÃO: COMO UMA MÃE SUPEROU SUA DOR PARA AJUDAR PAIS DE CRIANÇAS ESPECIAIS

Por Célia Ribeiro

Gritos alegres de crianças correndo pela casa, com brinquedos espalhados naquela bagunça típica dos pequenos exploradores, eram o ideal de família que o jovem casal esperava construir quando foi surpreendido pela notícia da primeira gravidez, apenas três meses após o casamento. O que Cláudia Marin e Rafael Gomes Castelazi não imaginavam é que, naquele ambiente de tanto amor, estavam recebendo um guerreiro que transformaria suas vidas para sempre.

Bia, Cláudia e Mateus: hora de brincarem juntos
Aos 10 anos, Mateus Castelazi é portador da Síndrome de West, diagnosticada aos dois meses de idade. Muito rara, a síndrome é caracterizada pela epilepsia, um transtorno neurológico de longa duração que provoca convulsões e exige cuidados permanentes: da dieta cetogênica (alto grau de gordura e proteína e pobre em carboidrato), aos medicamentos caros e de difícil acesso como o Canabidiol (derivado da Canabis Sativa – maconha), à terapia multidisciplinar, Mateus concentra as atenções 24 horas no dia.

Mesmo despertando de hora em hora para ver o filho, Cláudia encontrou forças para, ao invés de se lamentar, pensar em como ajudar milhares de famílias especiais que passam por problemas semelhantes ou até piores, no caso de crianças ligadas a aparelhos respiratórios. Foi quando, em contato com um grupo de mães, que se comunicavam pelo aplicativo WhatsApp, brotou a ideia de fundar uma entidade. Assim nasceu a “Associação Anjos Guerreiros”.
Família reunida: inspiração na vida
DOR LANCINANTE

“A descoberta nunca é fácil para ninguém. A aceitação, pra mim, foi fácil. A descoberta não”, recordou Cláudia ao explicar o difícil caminho até o diagnóstico. Mateus nasceu com desconforto respiratório, permanecendo 09 dias na UTI onde contraiu uma infecção generalizada  tratada com uso maciço de antibióticos. Conforme disse, até hoje não se sabe se Mateus nasceu com a síndrome ou se a desenvolveu pelas complicações na UTI. O certo é que, aos 39 dias, ele começou a convulsionar obrigando os pais a fazerem uma verdadeira maratona em busca de diagnóstico, seguida de tratamento que incluiu duas cirurgias no cérebro.
Traje especial permite
participar das brincadeiras

Nestes 10 anos, com o apoio incondicional da família, Mateus tem recebido o melhor tratamento possível, registrando sensível evolução, embora não se comunique verbalmente e nem ande (só consegue sustentar o pescoço e o tronco). Isso, no entanto, não é motivo ficar trancado em casa. A família se programa para passeios no shopping, viagens e até a praia ele já conheceu.

O pequeno guerreiro não vai à escola, devido às convulsões, atualmente sob controle. Das 50 convulsões por dia, com o uso do Canabidiol e outros medicamentos de alto custo, fornecidos pelo Estado, as crises passaram de zero a duas por dia. Por isso, Mateus conta com auxílio pedagógico de uma professora da Rede Municipal de Ensino, uma vez por semana, na residência.

A agenda dele é concorrida. Graças ao convênio médico, Mateus é atendido em casa por profissionais de Fisioterapia, Fonoaudiologia e Terapia Ocupacional. Segundo Cláudia, apesar do tratamento intensivo, todos tentam levar uma vida leve na medida do possível: “Temos dias alegres? Temos, porque se a gente viver de tristeza e lamentação somente, de que vale a vida?”, pergunta.

Ela recorda o período mais difícil, da descoberta da síndrome: “Doeu bastante. Era como facadas no peito, tiros na cabeça. Foi uma fase muito conturbada”. E destaca o apoio de Rafael, agradecendo “a Deus pelo marido que me deu porque ele sempre esteve ao meu lado. Eu conheço famílias que o pai, quando descobre que a criança é especial, abandona a mãe. Muitas vezes, essas mães têm que cuidar sozinhas dos seus filhos”.
Casal se dedica a apoiar as famílias e lutar contra o preconceito

MATERNIDADE

Claudia Marin era proprietária de uma Clínica de Estética quando Mateus chegou. Ela tinha duas opções: continuar trabalhando e contratar alguém para cuidar do filho ou optar pela maternidade em período integral. Ela ficou com a vocação de ser mãe.  O trabalho é árduo: o filho se alimenta a cada 4 horas, rigorosamente, com comida pastosa em porções que não podem ultrapassar o peso indicado. A água de Mateus não é líquida e sim espessada e ele também usa fraldas, além de ter horários controlados para um sem número de medicamentos.

Mesmo com uma rotina intensa, Cláudia e o marido não se esqueceram do sonho de aumentarem a família. “Quando engravidei, meu marido falou se Deus mandar outro filho especial para nós, vamos amar e cuidar igual ao Mateus. O medo persistiu até ela nascer”, revelou, referindo-se à Beatriz, menina de lindos olhos verdes que, aos dois anos, espalha brinquedos pela sala e pula alegremente de um lado para outro, cheia de energia!
Refeições pesadas com cuidado

APOIO ÀS FAMÍLIAS

 A chegada de Bia iluminou a vida da família e, mesmo dividida entre a atenção aos dois filhos, Cláudia encontrou disposição para amadurecer a ideia de criação da ONG. Do contato via WhatsApp com cerca de 100 pessoas que participam de um grupo de familiares de pessoas com deficiência, foi marcada a primeira reunião na residência de Cláudia. Do primeiro encontro, com 15 participantes, até a formalização, o processo só cresceu.

Atualmente, a Associação Anjos Guerreiros vive uma fase de expansão, seguindo os preceitos que nortearam sua fundação: a Missão de orientar as famílias e dar voz às pessoas com deficiência; a Visão de futuro de ser referência regional em orientação sobre a pessoa com deficiência; e os Valores – amor, inclusão, empatia, respeito, transparência, imparcialidade e comprometimento.

Cláudia Marin observou que a ONG se propõe a acolher e orientar as famílias desde seus direitos para conquista de medicamentos de alto custo, até a simples cartela de estacionamento em vagas especiais, passando pelo apoio no momento da descoberta da condição das crianças recém-nascidas.
Dirigentes da ONG Anjos Guerreiros
Ela lembrou que há uma avenida a percorrer, citando as dificuldades das áreas de educação, saúde e até acessibilidade para os deficientes. Para 2018, entre as metas estão a ampliação e implementação das ações para melhoria da qualidade de vida das pessoas com deficiência, promover o 2º Carna-Especial (carnaval em local e data a serem definidos), a capacitação de voluntários para fazer o acolhimento das famílias, parcerias com instituições públicas e privadas e participação nas audiências públicas para dar visibilidade à entidade “e sermos reconhecidos”.

ONG precisa de voluntpários

DIRETORIA

A ONG “Árvore da Cidadania” auxiliou a entidade na sua reestruturação. Atualmente, seus dirigentes estão assim distribuídos: Cláudia Marin (presidente do Conselho de Administração), Gledson Fonseca, Márcio Liberato, Sueli Fonseca e William Neves (Conselheiros), Nayara Mazini (Presidente da Associação Anjos Guerreiros) e diretores Bruna Montoro (Recursos Humanos), Denilson Evangelista (Marketing & Tecnologia), Eduardo Gianini (Qualidade), Ivanice Assis Silva (Relacionamento), Izilda Figueiredo (Processos) e Regiane Ferreira (Financeiro & Patrimônio).

A Associação Anjos Guerreiros necessita de voluntários, sede para a entidade e recursos financeiros para trazer benefícios às famílias, através de palestras, cursos e material informativo. O e-mail de contato é: aanjosguerreiros@gmail.com No Facebook, o perfil da ONG tem muitas informações e fotos: @Associacaoanjosguerreiros.

domingo, 14 de janeiro de 2018

PRODUTORES AGROECOLÓGICOS SUPERAM DESAFIOS ATÉ A MESA DO CONSUMIDOR.

Por Célia Ribeiro

O clima ameno no fim de tarde, após vários dias de chuva intermitente, foi recebido como um presente pelos agricultores presentes à Feira de Pequenos Produtores Agroecológicos de Marília, realizada na quarta-feira (10), no Espaço Cultural “Ezequiel Bambini”. Mas, a julgar pela rapidez com que a maior parte dos produtos foi vendida, saiu premiado quem chegou primeiro.
Márcia Zaros oferece licores à degustação
Com início às 17 horas, menos de uma hora depois, muitos expositores viram desaparecer os produtos nas bancas aonde cores e cheiros atraíam olhares curiosos: verduras, legumes, frutas, hortaliças, geleias, licores, queijos de leite de vaca e de cabra, conservas, doces caseiros e artesanato encantaram os visitantes.

Promovida pela Associação dos Pequenos Produtores Rurais e Urbanos de Marília e Região, o diferencial da feira era oferecer produtos agrícolas sem agrotóxicos. Com cerca de um ano de atividades, a entidade caminha para a formalização: ainda que não tenha obtido o certificado de produção orgânica, se norteia pelos princípios da Agroecologia. Ou seja, praticar uma agricultura ambientalmente sustentável, economicamente eficiente e socialmente justa.
Licores à base de frutas do quintal

CONSTRUÇÃO COLETIVA

Tendo no currículo vários trabalhos de arranjos produtivos, como a horta comunitária da zona oeste de Marília, Márcia Zaros cultiva ervas aromáticas, frutas e flores no quintal de casa, no Jardim Acapulco. Eles são a base de licores botânicos e geleias, sem corantes ou conservantes, que ela produz artesanalmente e comercializa pela internet.

É ela que explica o movimento desses agricultores: “A Associação iniciou pela necessidade do consumidor ter uma feira de produtos que não usam agrotóxicos, porque para falar orgânico tem que ter selo e a gente ainda não está neste processo. Não tinha feira de produtores em Marília e é uma coisa importante, que várias cidades têm, que a secretaria local e a secretaria de Estado da Agricultura abraçam. E Marília nunca teve, muito menos nesta linha ecológica que não usa agrotóxicos”, contou.

Conforme disse, os cerca de 15 produtores de Marília, Oriente, Vera Cruz e Pompeia, das zonas urbana e rural, começaram a trocar informações e amadurecer a ideia de somarem esforços em uma entidade capaz de representa-los. A Associação promoveu várias reuniões para discussão sobre o estatuto e outros temas necessários à formalização e, diante do sucesso da feira desta semana, ganharam fôlego para seguirem adiante.
Uva sem agrotóxico para geleias

“Os pequenos produtores têm que se virar para continuarem produzindo. Eles não conseguem entrar no mercado porque eles são pequenos. Para o pequeno produtor, a venda direta é de extrema importância, no caso a feira. Hoje, os pequenos produtores, não importa se usam ou não veneno, dependem da venda direta”, observou Márcia Zaros ao defender a importância de se criar mecanismos para viabilizar a realização de feiras voltadas a este segmento.

Durante o evento de quarta-feira, Márcia Zaros afirmou, enquanto atendia algumas clientes interessadas em degustar os licores, que se surpreendeu com o movimento: “Não imaginava que fosse aparecer tanta gente de uma vez. Não tem nem uma hora que começamos e já vendemos quase tudo”. A feira estava prevista para se encerrar às 21 horas.

Márcia Zaros disse que “a Associação é uma construção coletiva. Surgiu a partir da necessidade da gente se juntar e formar forças para ver o que a gente consegue fazer junto, já que não há políticas agrícolas locais que nos ajudem e nos incentivem”. Para ela, a entidade “deveria receber apoio das secretarias da Agricultura, do Meio-Ambiente e da Cultura porque nossa feira é considerada sociocultural pois também temos a parte do artesanato”.
Doces caseiros, geleias e queijos de leite de cabra foram muito disputados
Por sua vez, o secretário municipal da Agricultura, Odracyr de Oliveira Capponi, em nota de sua assessoria, afirmou que “a Secretaria se colocou e está à disposição da Associação de Pequenos Produtores Rurais e Urbanos de Marília”, informando que a pasta “tem mais de dez projetos para a agricultura familiar em Marília”.

BANHO DE CACHOEIRA

Com o astral nas alturas, José Antônio Nigro, produtor de hortifrúti há 10 anos em uma propriedade no Distrito de Padre Nóbrega, não demora a revelar o segredo do bom humor contagiante: longos banhos de cachoeira para se energizar ajudam a recuperar o fôlego para o trabalho na terra.
À frente de uma das bancas mais concorridas, ele atendia os clientes com sorriso estampado no rosto, oferecendo geleias e conservas para degustação enquanto mostrava a diversidade de ervas aromáticas e frutas exóticas  que cultiva graças à troca de sementes e mudas com produtores de outros países.
Nigro atendeu as clientes explicando o processo produtivo
“Você conhece a Achachairú?” pergunta, oferecendo uma frutinha amarela, parecida com acerola, natural da Bolívia, com alto poder antioxidante e rica em vitamina C. Assim, deixando os clientes à vontade, ele conseguiu vender rapidamente sua produção para tristeza de visitantes como a cozinheira Jucélia Borghi.

Pouco antes das 18h ela lamentava não ter chegado no início. “Espero que tenha outras feiras porque quero chegar bem cedo, logo que abrir”, disse, enquanto escolhia algumas ervas para suas receitas. Ela elogiou a organização da feira e disse que gostaria de ver mais iniciativas como essa, de venda direta, do produtor ao consumidor, de produtos livres de agrotóxicos.
Nigro e as hortaliças que cultiva
na propriedade de Padre Nóbrega

Se depender da disposição de produtores como Nigro, esse é apenas o início de uma bela história: “Levanto cedo, por volta das 6h e já vou lidar com a horta”, contou, explicando que não tem dificuldade para escoar seus produtos seja por encomenda de restaurantes ou através de pedidos nas redes sociais.

“Nunca usei veneno. É tão fácil produzir e ficam se envenenando e pagando mais caro. Isso que é pior”, finalizou celebrando seu estilo de vida saudável que inclui o trabalho na terra, a produção de geleias e conservas e, claro, os banhos na cachoeira que ele faz questão de cuidar: “Eu também me sinto um guardião da cachoeira”, concluiu antes de se despedir e atender às clientes que continuavam chegando...

domingo, 7 de janeiro de 2018

ARVORE DA CIDADANIA: ONG CULTIVA VOLUNTARIADO EM 20 PROJETOS SOCIAIS

Por Célia Ribeiro

Suas raízes rasgaram a terra desviando de rochas e obstáculos para formarem uma base resistente capaz de sustentar a copa e os numerosos galhos. Os frutos, por sua vez, geraram sementes que em contato com a mãe terra brotaram reiniciando o ciclo da vida. Esta é a “Árvore da Cidadania”, uma ONG (Organização Não Governamental) responsável por 20 projetos sociais desenvolvidos por 160 voluntários nos municípios de Pompéia (sede da instituição) e Marília.
Projeto Octo: polvinhos de lã doados aos bebês prematuros em UTI neonatal
Para conhecer o genoma desta árvore, é preciso voltar 10 anos no tempo. Ela brotou no terreno fértil da Jacto, um dos maiores grupos empresarias do País. Em dezembro de 2008, foi realizada uma campanha para convidar os colaboradores da fábrica de máquinas agrícolas a participarem de um programa de voluntariado.

Entre os colaboradores estava o engenheiro Márcio Liberato que abraçou a ideia, junto com um grupo de profissionais, e que atualmente dedicam seu tempo à ONG instalada na sede do Instituto de Desenvolvimento Familiar Chieko Nishimura. Entre tantos diferenciais da instituição, chama a atenção o fato de não haver uma hierarquia engessada. Não há diretoria, apenas líderes dos projetos, e Márcio faz questão de se colocar como “voluntário, apenas voluntário”.
Comemoração do Dia Internacional do Voluntariado em dezembro de 2017
CONEXÃO

Segundo Márcio Liberato, “a Árvore da Cidadania está organizada em áreas sociais: saúde, educação, assistência social, tecnologia, artes, cidadania e geração de renda, onde cada área tem seus projetos, cada um com seu líder e seus voluntários. "A gente acompanha para ver as necessidades, para dar a condição de sustentabilidade e seguir em frente”, assinalou.

Conforme disse, “na educação, estamos reformando uma escola, temos cursinho pré-vestibular para jovens carentes; temos aula de alfabetização para adultos etc. É bem eclético e de acordo com a disponibilidade dos voluntários. A gente não cria demandas, apenas apoia”.
Projeto "Um Jacto de Amor" doou quase 2 mil litros de leite materno
No site www.arvoredacidadania.org.br e nas redes sociais estão informações detalhadas sobre as atividades da ONG. O engenheiro explicou que “a Árvore da Cidadania tem como missão incentivar e apoiar o voluntariado de forma organizada e responsável. A gente entende que para chegar na ponta e alcançar o maior número de pessoas possível a gente tem que estar nos canais que essas pessoas acessam”.

Por isso, foi natural o caminho até encontrar um voluntário para desenvolver um aplicativo para celular em que os interessados acessam os projetos e informam-se sobre cada um com suas características podendo manifestar interesse em contribuir com um ou mais trabalhos. O aplicativo para Android está em funcionamento e, nos próximos dias, estará disponível para o Sistema iOS (iPhone) também.
Antonio Bezerra, Madalena Abdo (Amigos do COM) e Márcio Liberato
PROJETOS

“Somos semente de uma árvore que cresce a cada dia e que possamos semear mais, fazendo nosso mundo cada vez melhor”. Com essa apresentação a ONG deixa claro seu objetivo: fomentar o voluntariado de maneira sustentável. E um dos projetos mais longevos, nascido em 2008, contribuiu para salvar milhares de vidas de bebês prematuros: através da coleta de leite humano enviado ao Banco de Leite de Marília, já foram captados quase 2 mil litros, desde 2008. É o projeto “Um Jacto de Amor”.

Há outros projetos voltados à saúde, como “Um Parto de Amor” que desde 2017 atua na melhoria da qualidade do parto e nascimento dos bebês; o “Projeto Cuidar”(2017) voltado à assistência psicossocial aos profissionais que trabalham em regime de estresse; a “Oficina Atelier de Bordado” (2009) que ensina artes manuais para que se perpetuem algumas técnicas em vias de desaparecimento; “Projeto Aconchego” (2008) de confecção de mantas de crochê para doações no período do inverno; a “Oficina de Crochê” (2016) que ensina crochê para crianças matriculadas no Colégio das Irmãs (Pompeia); o “Projeto Octo” (2017) confecção de polvos de crochê para bebês prematuros em UTIs neonatais; “Nossa Biblioteca” (2008) com a disponibilização de livros doados na Biblioteca do Clube da Jacto; a “Oficina de Leitura” (2009) que tem atividades de leitura e contação de estórias para crianças no Colégio das Irmãs; “Projeto Árvore do Saber” (2017) que é um cursinho preparatório para o vestibular para jovens carentes; o “Projeto Caminho Suave” (2017) de alfabetização de adultos; “Família 17” que atua na reforma de salas de aula da Escola Estadual 17 de Setembro com a participação de alunos, pais e professores; “Campanha do lacre” (2010) que coleta lacres de alumínio de latinhas para reciclagem e aquisição de cadeiras de roda; “Projeto Visão 2038” (2017) é focado no  planejamento estratégico para o município de Pompéia no ano 2038; “Projeto Amor Exigente” (2015) que dá apoio e suporte em condições familiares a dependentes químicos; “Projeto Tartania” (2017) com desenvolvimento de atividades lúdicas para educação e combate ao abuso infantil; “Equoterapia Cavalgar Esperança” (2011) através de atividades de equoterapia aos participantes da APAE de Pompeia e “Viva mais” (2017) que é a campanha municipal de proteção e apoio a crianças e adolescentes.
Oficina de leitura: obras à disposição das crianças
MOTIVAÇÃO

“O Programa de Voluntariado Árvore da Cidadania nasceu em 2008 dentro da Jacto, mas, em função da significância que ele tem para a comunidade, hoje atua dentro do Instituto de Desenvolvimento Familiar Chieko Nishimura, com a participação aberta a toda comunidade”, explicou Márcio Liberato.

Ele informou que dos 160 voluntários, 20 são de Marília: “Temos trabalhado com a Associação Anjos Guerreiros, instituída em 2016, em Marília. Fizemos um trabalho de reestruturação em conjunto com a AAG, focado no planejamento estratégico da instituição, buscando melhorar a organização para encarar a sua missão, que é orientar as famílias e dar voz às pessoas com deficiência”. A Associação Anjos Guerreiros está recebendo novos voluntários. Contatos através do telefone (14) 99613-4411, em Marília.
Projeto Aconchego: trabalhos manuais executados por voluntários
De férias do trabalho, ele concedeu a entrevista brincando que “voluntário não tira férias. Quem disse que o coração para de bater enquanto a gente dorme?” Ele falou também com entusiasmo dos resultados alcançados pelos projetos. Um dos mais emocionantes é o “Projeto Octo”: a partir de lãs doadas pela comunidade, voluntárias confeccionam polvinhos de crochê que são entregues aos bebês prematuros na UTI Neonatal do Hospital Materno Infantil de Marília.

“Eles se recuperam mais rápido. Em função da criticidade que estão passando, com o polvinho lá dentro se sentem mais confortáveis, acolhidos, ganham peso mais rápido e saem antes do tempo previsto”, observou o voluntário, acrescentando que o bebê leva o polvinho para casa após a alta. “Estas mesmas voluntárias participam do Projeto Aconchego: confeccionam mantas de lã na época do inverno ou roupinhas de bebês, casaquinhos, sapatinhos e toquinhas para doar às famílias mais carentes”, assinalou.


Com tantas histórias que renderiam um livro, a “Árvore da Cidadania” frutificou no Natal de 2017 com o “Projeto Amor de Irmão”. Vinte e cinco voluntários visitaram a Casa de Passagem na Rua Sargento Ananias, em Marília, em busca das pessoas em situação de rua quando entregaram 60 panetones, adquiridos da campanha “Panetone Solidário” do Tauste, e 70 Bíblias. Ele se emocionou ao relatar a reação das pessoas naquela noite: teve o rapaz que pediu o violão do grupo emprestado e tocou lindamente, teve o encontro de uma família (casal e filha de dois anos) que vivia na rua e recebeu uma ajuda especial.

O grupo procurou a família no dia seguinte, conseguiu emprego na construção civil para o pai e dinheiro para manter os três em um hotel modesto até que ele tivesse renda para se reerguer. Essa, na opinião dos voluntários da ONG, foi a demonstração do verdadeiro espírito de Natal.

DESAFIOS

Com tantos planos, a “Árvore da Cidadania” espera semear a solidariedade onde for possível. A meta é conquistar mais 200 voluntários em 2018, embora Márcio Liberato sonhe mais alto. Para ele, o melhor dos mundos seria ter um voluntário em cada família, atuando em prol da comunidade.

Ele destaca a importância do engajamento de todos: “A gente acredita muito nisso, que a transformação da comunidade só se consegue com engajamento de pessoas, do poder público, da iniciativa privada e do terceiro setor. Ninguém cresce sozinho. Esse é um dos valores que a gente tem no Grupo Jacto”.

Para saber mais sobre a “Arvore da Cidadania”, acesse: www.arvoredacidadania.org.br, baixe o aplicativo no celular ou acompanhe os projetos no Facebook. A ONG está sediada no Instituto de Desenvolvimento Familiar Chieko Nishimura, à Avenida Floriano Peixoto, 333 em Pompéia. Telefone para contato, informações e adesão aos projetos : (14) 98200-4080.

*Reportagem publicada na edição de 07.01.2018 do Jornal da Manhã

Fotos: Arquivo Árvore da Cidadania