domingo, 10 de maio de 2015

Motivadas pelo amor aos idosos, irmãs criam trabalho inovador que vai além dos cuidados em saúde, levando alegria à melhor idade.

Por Célia Ribeiro

Os olhos curiosos brilham de encantamento, explorando cada novidade. O sorriso, tímido a princípio, lentamente se abre revelando a alegria repentina. Essa cena que, à primeira vista, poderia remeter ao passeio de uma criança no parque de diversões faz parte da rotina de duas irmãs que criaram em Marília/SP um projeto inovador de cuidados voltados à terceira idade.

No lugar do gira-gira e dos balanços, os idosos se deliciam com coisas simples como um passeio no shopping onde saboreiam um cafezinho em meio à movimentação natural do entorno. Como companhia, eles têm uma das irmãs Sabrina E. Vicari Talheiro e Silmara Neris Vicari, auxiliares de enfermagem por profissão, mas que adoram o convívio com o pessoal da melhor idade.
 
O passeio no bosque é um dos mais solicitados
Tudo começou em abril de 2014, período da Páscoa. Renascimento para os cristãos, essa época carrega um simbolismo para Sabrina, 36 anos, casada e mãe de uma menina de sete anos. Auxiliar de enfermagem na Santa Casa de Misericórdia de Marília, ela estava acostumada a cuidar dos idosos hospitalizados de quem ouvia muitas histórias.

“Foi aí que pensei: por que não chegar neles antes da doença?”, explicou Sabrina, contando como surgiu a ideia de criar o serviço de acompanhante para os idosos. Com o nome de “Assistência para a melhor idade”, a atividade visa trazer um pouco de brilho às pessoas idosas que muitas vezes passam o dia sozinhas em casa.
 
(Esq.) Sabrina e Silmara
“Vendo televisão o dia inteiro só assistem notícias ruins. Aí que surgem as doenças, a depressão, a pressão alta”, prosseguiu Sabrina explicando que o trabalho que oferece, em parceria com a irmã, tem trazido muito alegria a elas. Em dias alternados, por causa da carga horária nos empregos formais, as irmãs agendam a assistência conforme a necessidade.

“Às vezes, os levamos ao supermercado para fazerem compras ou para passeios no bosque, para andarem de pedalinho, ao shopping tomar um café ou ver um filme no cinema”, explica Sabrina. Mas, se for preciso, as irmãs acompanham os idosos às consultas médicas. Tudo em veículos próprios.

Amor ao próximo

“Criamos este projeto com intuito de dar amor ao próximo, dar amor aos idosos, chegar antes da doença. Eles têm tantas histórias para contar”, afirmou acrescentando que em um ano de atividades observou como tem sido compensador: “Isso muda o astral, eles ficam mais positivos”.

Os valores cobrados variam de acordo com o tipo de atividade solicitada. A auxiliar de enfermagem disse que “o trabalho ainda está no início porque temos um ano e muita gente não conhece. Mas, esperamos poder ampliar o número de idosos atendidos e expandir”.


Diversão das irmãs com aposentada de 85 anos
Pensando além, Sabrina contou que mandou fazer um uniforme logo no começo das atividades.  Trajando um elegante terninho, ela acredita no futuro da proposta e revela sorridente o sonho de ter um escritório no shopping onde formalizaria o negócio. “Rir é o melhor remédio. Arrancar um sorriso do pessoal da melhor idade é um grande presente para nós”, concluiu.

Para entrar em contato com a Sabrina e Silmara, da “Assistência para a Melhor Idade”, ligue para: (14) 997468085.

Obs: Fotos do arquivo pessoal de Silmara.


domingo, 3 de maio de 2015

Enfrentando obstáculos de toda ordem, moradores unem esforços para construção de um parque ecológico no Jardim Acapulco II.

Por Célia Ribeiro

Na agradável manhã de outono, com o céu tingido de azul profundo, uma pequena área, às margens dos vales da zona oeste de Marília, recebe alguns visitantes. Moradores da Rua Benedito Nery de Barros e de outras vias do entorno, localizadas no Jardim Acapulco II, aproveitam o final de semana para acompanharem o desenvolvimento do embrionário parque ecológico que sonham construir no local.
 
Bernardo é seguido pelo pato que levou ao lago
A iniciativa do ex-morador Osni Mieto que, cansado de ver o mato alto e a sujeira do outro lado da rua, arregaçou as mangas e começou a limpar a área plantando as primeiras mudas de espécies nativas e frutíferas, ganhou a solidariedade do vizinho, Basílio dos Anjos. Passados quase 15 anos, Osni mudou-se do Acapulco, mas deixou seu coração no lugar: ele continua cuidando da área, com o mesmo vigor de antes, ao lado do vizinho Basílio e de novos moradores que se juntaram ao grupo.

Em julho de 2013, “Marília Sustentável” publicou uma reportagem, mostrando a vontade do bairro de contar com um parque, no extinto jornal Correio Mariliense e neste blog.  Quase dois anos depois, os moradores conquistaram algumas vitórias graças à atenção do vice-prefeito Sérgio Lopes Sobrinho que se sensibilizou com o projeto ao tomar conhecimento da notícia.
 
Mais de 350 mudas de árvores já plantadas
A Prefeitura tem enviado equipes para roçar o mato e colaborou com o desassoreamento do lago formado a partir de duas nascentes d’água. No entanto, ele está assoreado, novamente. Isto porque, sem o plantio de grama para proteger as margens, as chuvas fortes arrastam a areia comprometendo todo o trabalho realizado, explicou Osni Mieto.

“É uma pena acontecer um negócio desses porque, na verdade, foi feito um trabalho com máquina, formou esse talude e tudo mais. Nós protocolamos junto à Prefeitura um pedido para que fosse colocado grama no entorno do lago. Esse pedido andou de secretaria em secretaria, foi para o gabinete do prefeito, fizeram orçamento e nada foi às vias de fato”, lamentou Basílio dos Anjos.
 
(Esq.) Bernardo, Basílio e Osni
Segundo ele, “vieram as chuvas e se pode constatar que está cheio de areia, de sedimento, de barro que, aos poucos, vai minando o lago, vai acabando com a capacidade dele de estar renovando a água, de estar oxigenando a água. Isso é lamentável”, frisou.

Diante das mais de 350 mudas de árvores nativas (pau-brasil, cedro-rosa etc) e frutíferas plantadas, Basílio reconhece que, desde 2001, a área do futuro parque experimentou melhorias. Entretanto, disse que há muito que fazer: “Continua sendo aquele trabalho de formiguinha. Ou seja, consciência de uma minoria, de quase ninguém”, observou, destacando o trabalho de Osni e, mais recentemente, do novo morador, o engenheiro Bernardo Manchini.

Viveiro próprio
Osni levou as mudas que formou em sua casa
para plantar no fim de semana.

No sábado, 02 de maio, Osni Mieto chegou carregando várias mudas na caminhonete para plantar no fim de semana. Com muita paciência, ele formou as mudas no viveiro de sua casa, no Jardim Universitário. “A goiabeira, por exemplo, tem dois anos de cuidados para chegar neste porte e poder ser plantada”, revelou.

“Hoje eu trouxe mais frutíferas porque estava precisando. Já temos mogno, pau-brasil, ipês, ingazeiros, que são árvores rústicas. Aqui temos amora, goiaba araçá, manga, para atrair pássaros”, explicou. Como pioneiro no projeto de formação do parque ecológico, o ex-morador do bairro não se intimida de bater na porta do vice-prefeito para pedir ajuda, sempre que necessário.

Ele elogiou o apoio de Sérgio Sobrinho sem esquecer-se de cobrar a grama para o entorno do lago e outras melhorias como a instalação de iluminação e limpeza periódica do mato para inibir quem passa por lá apenas para jogar lixo e entulho.
 
(Esq.) Basílio, Osni, Márcia Zaros, João e Ricardo: união de vizinhos
E por falar em lixo, o engenheiro Bernardo mostrava-se indignado com a falta de educação das pessoas: “Esse lixo que jogam lá é porque tinha mato por todos os lados. A pessoa vem e consegue jogar escondidinho. No último caso, jogaram tanto lixo e é de uma pessoa só porque achei prova da OAB da pessoa, documento do carro da pessoa. Recolhi e está guardado. É de família de advogados da cidade”, comentou.

Patos e peixes

Terminando a construção de sua residência no bairro, Bernardo é um dos mais entusiasmados com a área verde. Com a esposa, Bianca Manchini, presentou o lago com filhotes de patos adquiridos na feira livre. As aves dão mais vida ao lugar e encantam as crianças que adoram brincar por ali.

Visionário, o casal que se encantou com a beleza natural do vale pensa grande. “Quando Bianca estava no meio da faculdade de arquitetura fez um projeto arquitetônico da praça, com pista de cooper, iluminação etc”, revelou Bernardo. Conforme disse, foram mapeadas as nascentes de água e técnicos da CETESB já teriam visitado o local que, no futuro, poderá abrigar um segundo lago. O estudo de Bianca foi entregue ao vice-prefeito e os moradores aguardam a concretização do projeto.
 
Sem a proteção da grama o lago vai sendo assoreado.
Morador do Acapulco II há 08 anos, o professor da UNESP, Ricardo Monteagudo, elogiou a união dos vizinhos: “A ideia de plantar árvores de diversas origens é para atrair pássaros e criar uma área agradável de preservação para a gente ficar”, disse. Ele só lamentou que pessoas estranhas ao bairro tivessem praticado atos de vandalismo, roubando os balanços instalados para a diversão das crianças.

Por outro lado, Ricardo contou que como resultado da manutenção da área algumas pessoas começam a aproveitar os momentos de lazer na tranquilidade do bairro, fazendo piqueniques nos finais de semana.

Ele observou que o lago, apesar de pequeno, também atrai a atenção: “Um morador colocou peixes, o outro vizinho trouxe patos. Outro tinha uma relação tão grande com o lago que tinha uma garça que vinha aqui e ele pescava para dar o peixe na boca da garça. Ela comia na mão dele. Quando tinha muita gente, ela não vinha. Então, ele pescava e deixava para a garça vir comer mais tarde. Foi criando uma relação orgânica com o lugar e a lagoa.”

Bernardo e Osni: determinação para
conseguir o sonhado parque ecológico
Já o servidor público estadual, João Augusto Soares, morador há 05 anos, disse que há planos de ampliar o plantio de mudas de árvore em outra parte do imenso terreno público. “A ideia é fazer uma área verde, de praça. Mas, é um trabalho de formiguinha quando são só 06 pessoas que encabeçam e são poucas as pessoas que vêm ajudar na preservação da área”.

Ao lado do filho pequeno, João lembrou dos riscos ao futuro do planeta: “A preservação ambiental é o que a gente tem que cuidar daqui para frente porque, se continuar do jeito que está a degradação, a geração do meu filho não vai conhecer muita coisa”, finalizou.

Para ler a reportagem de 2013 clique AQUI.