domingo, 4 de novembro de 2012

COM BAIXO CUSTO E SEM EFEITO RESIDUAL, FITOTERAPIA É USADA COM SUCESSO POR VETERINÁRIO DE MARÍLIA.

Por Célia Ribeiro

Embrenhado mato adentro ou explorando aldeias indígenas, onde absorveu conhecimento dos pajés de diferentes etnias, o médico veterinário Ricardo Cavichioli Scaglion aproveita a rica diversidade da flora nativa em experiências voltadas ao tratamento fitoterápico de animais. Alguns experimentos, realizados nos últimos seis anos, e cujos resultados encontram-se em fase de sistematização para publicação científica, serão conhecidos nesta entrevista exclusiva que ele concedeu ao Correio Mariliense.

Ricardo e as ervas cultivadas no quintal
Da infância na zona rural entre os avós de descendência italiana, o veterinário de 38 anos e 16 de formado, guarda lembranças dos “remédios naturais” aplicados nos ferimentos após as travessuras: “Erva de Santa Maria com vinagre e sal, que minha avó amarrava com um pano, curava os machucados pra gente fazer estripulias tudo de novo”, conta com o olhar maroto de menino arteiro.

Ambientalista da ONG Origem, Ricardo resgatou essas lembranças quando decidiu pesquisar alternativas diante de situações que o entristeciam profundamente na vida profissional: após um período de tratamento com medicamentos veterinários alopáticos, o quadro não evoluía a contento. Tanto para animais de pequeno, médio ou grande portes, o problema permanecia aguçando sua curiosidade.

O veterinário iniciou as pesquisas a partir da literatura disponível, deparando-se com grande dificuldade para reunir informações que embasassem seus estudos. Além da fitoterapia animal não estar presente na grade curricular das faculdades de veterinária, faltam cursos de especialização e capacitações para os profissionais, observou.

Fitoterápico aplicado no lombo do cavalo
Sem se abater com os percalços, Ricardo Cavichioli deu prosseguimento às pesquisas a partir de um viveiro de plantas medicinais cultivadas no quintal de casa. Uniu a teoria dos livros aos experimentos práticos realizados  principalmente em bovinos e equinos, nas propriedades em que presta assistência veterinária, após a devida autorização dos proprietários.

SAÚDE PÚBLICA

“A maior parte dos produtos que consumimos vem de origem animal ou vegetal. No caso dos produtos lácteos e carnes, o grande vilão que está por trás disso é a danada da alopatia. São produtos sintetizados em laboratório que resolvem em parte o problema. Em contrapartida, têm efeito colateral que ninguém sabe, ninguém vê e não é divulgado”, afirmou.

Segundo ele, os medicamentos para tratar os ectoparasitas (carrapato, mosca do chifre, bernes etc) quando usados em doses maciças “têm grande poder residual. O produto é aplicado externamente, na forma de pulverização, no dorso do animal e outros são injetáveis. Todos eles vão cair na corrente sanguínea e, para produzir leite, tem que circular sangue na glândula mamária”, assinalou, citando os riscos de contaminação do produto final.

Ricardo Cavichioli alertou que, por questões econômicas, muitos pecuaristas não respeitam o período de carência entre a aplicação dos remédios e a ordenha. Mesmo com a análise do leite, no momento da venda às cooperativas, os produtos com resíduos não são descartados podendo trazer sérios prejuízos à saúde dos consumidores com o passar do tempo.

Veterinário manda manipular chá para pequenos animais
 O veterinário lembrou, ainda, outro problema: os produtos podem ser adquiridos facilmente e nem sempre os trabalhadores que vão manipulá-los no campo seguem as normas de segurança, aumentando os riscos aos animais e à saúde dos próprios aplicadores. Como consequência do uso indiscriminado, alguns medicamentos não fazem mais efeito culminando em mais prejuízos, “porque está acelerando o processo de ganho de resistência frente àquele organismo, ao carrapato, à mosca”.

A experiência do veterinário consistiu em relacionar algumas plantas com reconhecido poder repelente (Citronela, Erva de Santa Maria, Guiné, Limonete), antiinflamatório, cicatrizante etc. Muitas plantas possuem mais de um princípio ativo. Ele utiliza as plantas de três formas: macerado (ervas amassadas), chá (manda formular em farmácias de manipulação) para doenças renais, hepáticas, do aparelho urinário etc, e tintura (ervas maceradas e conservadas com álcool).

CAVALARIA: LABORATÓRIO NATURAL

Atuando como voluntário na Cavalaria da Polícia Militar, Ricardo Cavichioli fez estudos de casos relatando, semanalmente, a evolução dos equinos. “Fiz um trabalho fitoterápico paralelo ao alopático e me deparei com todo tipo de problema: lesões, machucados, além de parasitas. Foram quatro meses seguidos de acompanhamento que registrei caso a caso”, explicou. Ele contou que uma égua machucada há tempos, já aposentada, foi curada em 10 dias de tratamento fitoterápico e voltou a andar.
Cãozinho recebe chá diretamente na boca
O veterinário destacou que na Cavalaria, “o emprego da fitoterapia ficou visível. O método é indolor, não agride o animal, não gera estresse, aproximou o cavalariço do animal e a relação homem-animal melhorou muito”.

No caso de bovinocultura de leite, a grande preocupação é com a saúde pública. Casado e pai de um casal de filhos pequenos, Ricardo Cavichioli disse que existem pesquisas sérias atestando a contaminação do leite por resíduos de medicamentos veterinários. “Ao ingerir esse leite, a mãe acaba passando ao filho na amamentação”, ressaltou.

A solução, segundo ele, é o governo investir na fitoterapia para uso animal e apostar no uso consorciado de tratamento: alopatia e fitoterapia. O veterinário também acredita que os futuros profissionais devam ser formados com acesso às informações dessas alternativas e os que se encontram no mercado de trabalho necessitam receber capacitações e passar por cursos de especialização.

Do ponto de vista econômico, Ricardo acredita haver um grande mercado para os produtores que apostarem no manejo mais natural de seus rebanhos, atentando-se à questão do uso de medicamentos no tratamento das doenças. “Tem que ter pessoas vocacionadas, sem medo de ser feliz, dando a cara pra bater”, finalizou. Para contatar o médico veterinário, seu e-mail é: rcavichioliscaglion@yahoo.com.br

PALAVRA DO CRIADOR
 
No “Sítio Paixão Antiga”, localizado no Distrito de Avencas, os animais são tratados com fitoterápicos com excelentes resultados. Segundo o proprietário, Luiz Arnaldo Cunha de Azevedo, diretor-executivo do Sindicato Rural de Marília, os preparados de ervas medicinais são levados pelo veterinário Ricardo Cavichioli que monitora a aplicação: “Os animais ficam mais saudáveis, com pêlo mais bonito”.
 
Conforme disse, “as pessoas deveriam usar mais isso até por problema de saúde de quem aplica porque os remédios hoje em dia são fortes”. O criador disse ainda que “dependendo do veneno que fica no dorso do animal, cria resistência” aos parasitas, o que não ocorre com os produtos naturais.

 * Reportagem publicada na edição de 04.11.2012 do Correio Mariliense

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