domingo, 9 de setembro de 2012

VITÓRIA: COMO UM JOVEM BOLSISTA SUPEROU TODOS OS DESAFIOS E HOJE BRILHA NA EUROPA

Por Célia Ribeiro

Numa manhã de primavera, o canto dos pássaros no quintal é interrompido por uma gostosa gargalhada de criança. Deitado no chão, balançando as perninhas, o menino de olhos brilhantes diverte-se com os personagens da história em quadrinhos. Alfabetizado precocemente, o menino que desenvolveu o gosto pelo saber, cresceu e protagonizou uma rara história de superação. Esta semana, ele começou a escrever um novo capítulo, quando embarcou para a Europa graças à bolsa de estudos que a Universidade de São Paulo (USP) concede aos seus melhores alunos.

Lucas no embarque para a Europa.
Numa época em que os estudantes do ensino médio preparam-se para os temidos exames vestibulares, o exemplo do mariliense Lucas Henrique Eiras dos Santos, de 21 anos, chega como um sopro de esperança para quem acredita nos próprios sonhos. Atualmente cursando o quarto ano do prestigiado Instituto de Química de São Carlos/USP, em 2.009 ele passou em todos os vestibulares que prestou: Medicina (Famema), Química (USP - São Carlos), Química (Unicamp), Engenharia de Materiais (Universidade Federal de São Carlos) e Matemática (Univem).

Como as ciências exatas, a fórmula do sucesso de Lucas exigiu concentração, determinação e planejamento. O tripé formado pela família, escola e vontade de vencer explica o resultado que hoje enche de orgulho os familiares, os ex-professores e a direção do Colégio Compacto que enxergou no rapaz de 16 anos um diamante bruto pronto a ser esculpido.

Rosana e Sr. Eiras visitam o Cláudio no colégio
 O diretor do colégio, Cláudio Roberto Peres Martins, abre o maior sorriso ao falar sobre o ilustre ex-aluno: “Lucas cursou o primeiro ano do ensino médio na Escola Técnica Devisate, prestou o concurso para bolsa de estudos no Compacto e foi muito bem. Mas, se matriculou no período noturno, onde o preço da mensalidade era menor. Assim que ele começou a estudar, percebemos que era um estudante diferenciado. Por isso, oferecemos a oportunidade de transferência para o diurno, onde o Lucas teria mais tempo para aproveitar a estrutura da escola em que permanecia praticamente o dia todo”, recorda.

Cláudio conta que desde a época do mantenedor Wanderley Mendes, falecido recentemente, o Compacto adota a política de dar oportunidade de estudo àqueles que têm vontade. A escola exerce sua responsabilidade social apoiando os alunos que se destacam e não têm recursos para custearem integralmente as mensalidades, assinala o diretor.

MARMITA NO ALMOÇO

É difícil imaginar as dificuldades que Lucas precisou enfrentar para vencer. Como a família mora num condomínio de chácaras perto do Distrito de Avencas, a locomoção para Marília era um problema. O avô, José Eiras dos Santos Neto, conta que pela manhã trazia os netos (Lucas e a irmã, Ana) para a cidade e na hora do almoço comiam a marmita preparada pela mãe.

Rosana e o filho: orgulho da família
“Perdi as vezes de quantas marmitas comemos dentro do carro, perto do Compacto. A gente saía cedo de casa e só voltava à noite porque a Ana trabalhava de dia e fazia faculdade de arquitetura à noite. O Lucas passava o dia no colégio estudando e também orientando outros alunos”, recorda o avô com indisfarçável orgulho.

As bases familiares foram essenciais para a formação de Lucas. A mãe, Rosana de Fátima Fumis dos Santos, lembra que diante da doença do marido (perdeu a luta para um câncer há quatro anos) não havia espaço para supérfluos: “Nunca pudemos bancar mordomia, nem celular da moda, roupas de marca. A gente sempre viveu na simplicidade mostrando que na vida o importante é ser e não ter”.

Nem mesmo os cursos de idiomas os pais conseguiram pagar para o filho. Mas, isso não foi problema. Lucas deu um jeito de aprender tão bem que chegou a conversar com um norte-americano durante um churrasco, traduzindo as falas para surpresa geral da família. O segredo de Lucas para ser fluente em inglês agora é revelado: ele aproveitava as aulas no colégio e em casa estudava traduzindo músicas!

Brincadeira com os cães de estimação: hora de relaxar
“O pai sempre falou que o sonho dele era ver os filhos formados”, relembra saudosa a dona-de-casa, lamentando que o marido faleceu antes de assistir as conquistas do filho: “Ele sempre dizia para os filhos irem aonde for preciso para fazerem o que tiverem vontade. Mas, lembrem-se do que a gente sempre ensinou. Vivam honestamente, com caráter acima de tudo e cresçam em cima do próprio suor e não do suor alheio”.

RECEITA DE SUCESSO

Na última terça-feira, logo que desembarcou em Lisboa, para um intercâmbio de seis meses, Lucas Henrique concedeu entrevista ao Correio Mariliense, pela internet. Mostrando-se feliz com o desafio de estudar fora do País, ele contou um pouco da sua trajetória e aproveitou para dar algumas dicas aos estudantes que prestarão vestibular no fim do ano.

Trote pela provação em 04 universidades públicas, incluindo a Famema (Medicina)
Uma regra de ouro: “Não se cobrem, como se esta fosse a única oportunidade. Se você faz uma prova sabendo que não tem nada a perder, só a ganhar, você corre menos risco de cometer erros por nervosismo. Foi assim que passei em medicina: como não era minha primeira opção, não me senti obrigado a passar, e no final das contas, eu fui melhor do que pessoas preparadas que estavam nervosas”, ensinou.

Como um jovem absolutamente normal, Lucas deu outra dica valiosa na fase preparatória: “É bom que se descanse um pouco. É melhor diminuir o ritmo de estudo e até fazer alguma atividade de lazer para chegar à prova com pique para passar a tarde toda ali. Se você chega na prova cansado, corre o risco de cometer erros por desatenção ou por pressa de terminar a prova para poder descansar”.
Com colegas na universidade Lucas aparece
 abaixado no canto à direita
Entre as dificuldades apontadas, Lucas cita o desafio de “encontrar um ritmo de estudo que não fosse exagerado. A minha ansiedade em passar no vestibular na primeira tentativa era tanta que, no começo, eu estudava o dia todo. Com o tempo, fui me cansando, até que entrei em um ritmo em que, quando estava disposto eu estudava e, quando não, eu conversava com os amigos”.

Finalizando, Lucas falou da importância de manter a autoconfiança: “Eu sempre confiei na minha capacidade. Sempre me disseram que se eu me esforçasse eu poderia chegar onde quisesse. Assim, eu sabia que poderia ter sucesso. Não pensei que seria tanto. Passei nas quatro universidades públicas para as quais prestei vestibular e hoje, quatro anos depois do vestibular, estou em Lisboa e vou passar seis meses por aqui, com uma bolsa de intercâmbio que ganhei da universidade”.
* Reportagem publicada na edição de 09.09.2012 do Correio Mariliense

2 comentários:

  1. Rosana de Fátima Fúmis dos Santos9 de setembro de 2012 às 10:26:00 BRT

    Agradeço seu carinho e atenção, Célia Ribeiro, você foi simplesmente fantástica, reproduziu ao pé da letra nossas falas (do vô JOSÉ EIRAS e minha)e sim, o sucesso dos meus filhos LUCAS HENRIQUE EIRAS E ANA CAROLINA FUMIS é a prova viva de que esforço e determinação valem muito a pena. Também agradeço o apoio que sempre tivemos na pessoa do diretor CLÁUDIO ROBERTO PERES MARTINS.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Querida Rosana, eu que agradeço a confiança em relatar a história do seu filho a mim. Obrigada pelas fotos do álbum de família e sua disponibilidade em me atender para a reportagem. Um beijo imenso! Que Deus abençoe muito vc e sua família.

      Excluir

Seja bem-vindo(a). Seu comentário será postado, em breve.