domingo, 30 de setembro de 2012

PLANO DIRETOR: DOCUMENTO BASEADO EM CONSULTA POPULAR TEM A FÓRMULA DA CIDADE DOS SONHOS.

Por Célia Ribeiro

A voz do povo é a voz de Deus, dizem os mais antigos. E eles têm razão. Um bom exemplo foi a contribuição dada pela população na elaboração do Plano Diretor do Município, que completa seis anos no mês que vem. Das reuniões no campo e na cidade saíram os subsídios norteadores do documento que deveria embasar o desenvolvimento sustentável de Marília. O que se viu, entretanto, foi o pouco aproveitamento de um plano que necessita de profunda revisão e de leis complementares. Em resumo: um desafio ao próximo governo municipal.
Laerte Rosseto 

A análise é do arquiteto Laerte Rojo Rosseto, mestre em Urbanismo, com 40 anos de profissão, ex-secretário de Planejamento Urbano da Prefeitura por três vezes, além de vereador nos anos 90. Considerado um dos maiores especialistas da área, ele esteve à frente da equipe que trabalhou na elaboração do Plano Diretor de Marília, premiado como um dos cinco melhores do Estado de São Paulo.

Se na década de 70 as cidades compravam pronto o Plano Diretor apenas para cumprirem uma exigência legal e terem acesso às verbas federais, com a criação do Ministério das Cidades a coisa mudou de figura. Todos os municípios com mais de 30 mil habitantes foram obrigados a colocarem a mão na massa, levantarem prioridades e elaborarem um documento que disciplinaria o desenvolvimento dos municípios, de modo organizado.

O Plano Diretor de Marília, aprovado pela Câmara Municipal através da Lei Complementar  480, de 09 de outubro de 2.006, destaca, logo no primeiro capítulo, os princípios do documento: “Respeito às funções sociais da cidade; Respeito às funções sociais da propriedade; Desenvolvimento sustentável; Gestão democrática e participativa da sociedade civil organizada e Respeito ao princípio da supremacia do interesse público sobre o particular”.
Mobilidade urbana: trânsito caótico é um dos principais problemas;
(Foto Alexandre de Souza/Correio Mariliense)
 Belas palavras, sem dúvida. No entanto, de acordo com o arquiteto e urbanista, muito pouco foi feito. A próxima administração municipal e os novos vereadores enfrentarão um grande desafio: ler o Plano, revisá-lo e rediscuti-lo com a comunidade. Laerte destacou a maneira democrática com que as consultas populares foram feitas. Em cada região da cidade e nos distritos, os moradores opinaram, colocaram suas prioridades e disseram exatamente o que esperavam de melhoria.


PLANEJAMENTO

Entre as inúmeras sugestões, a coleta seletiva e o plano de arborização urbana foram unanimidade nas assembleias. Também foram pleiteados investimentos em espaços públicos como praças e áreas de lazer, construção de feiródromo, ciclovias etc. “É preciso entender o que a população quer, tudo a partir do trabalho que já foi feito porque não se deve voltar atrás. Tem que aprimorar, aperfeiçoar o Plano Diretor que é uma pedra que precisa ser lapidada”, afirmou o arquiteto.
População opinou no campo e na cidade

Segundo ele, a questão da mobilidade urbana é um dos grandes problemas de Marília, a exemplo das demais cidades de porte médio. As alternativas passam pelo Plano Diretor no sentido de “se rediscutir o plano viário e a criação de estímulo a novas centralidades”, sem esquecer as prioridades de sempre, como educação e saúde.

Laerte Rosseto afirmou que devem ser fortalecidos os Conselhos Municipais, que representam a população, e também a equipe técnica da administração municipal. Ele contou que visitou Uberaba (MG) onde existe um setor com mais de 200 profissionais tratando da questão da mobilidade urbana. “Dentro da Prefeitura tem que criar um espaço de Mobilidade, uma secretaria à parte que cuide do assunto, como a implantação de ciclovias, passeios, calçadas etc”, acrescentou.

Defendendo a importância da participação popular, Laerte Rosseto lembrou que nas audiências públicas “a gente não sabia que o pessoal dos bairros conhecia tanto. Eles sabem de coisas que nem imaginamos. Por exemplo, teve o caso de uma trilha, no meio do mato, que as pessoas cortam caminho passando por um córrego até uma escola. Só quem sabe disso é o morador de lá. Isso é desconhecido do poder público. Com isso fomos enriquecendo o Plano Diretor”.

Itambé: plano previu preservação e exploração turística.
(Foto Ivan Evangelista)
 O trabalho foi árduo, recordou o arquiteto. Após o diagnóstico da situação nos quatro cantos da cidade e na zona rural, foram realizadas audiências públicas em que as propostas foram sintetizadas. Foi de lá que partiu a ideia da criação de áreas de preservação (Parques do Riacho Doce, Mariápolis, do Arrependido, do Ribeirão dos Índios etc).


Ele citou, também, a implantação das “Vias Verdes” na periferia: “Ninguém sabe o que é isso. As vias verdes ligariam uma escola a outra, com arborização no caminho, ciclovia etc. Assim, se uma criança se perdesse no caminho para sua escola, saberia que seguindo a ‘Via Verde’ chegaria até a outra escola na ponta”.
Área de preservação permanente
na zona norte

“O Plano Diretor está cheio de detalhes, de coisas a serem resolvidas. Se forem aplicados 50% do que foi previsto a cidade ficaria uma maravilha”, acrescentou o arquiteto que lamenta o fato da implantação do plano não ter avançado: “Na época da apresentação na Câmara Municipal fui taxado de comunista que estaria fazendo a reforma urbana”, pontuou, revelando ter tido grandes embates com os interesses do setor imobiliário.

PARQUE DOS ITAMBÉS

Com muitas ideias fervilhando, Laerte Rosseto observou que Marília tem todas as condições para se desenvolver com qualidade de vida para a população. Ele lembrou do Parque dos Itambés que está previsto no Plano Diretor e que seria um importante incremento para o turismo ambiental: “Já pensou um tour de ônibus com teto de vidro, passando pelos parques e Itambés, aos domingos?”

A questão da ciclovia, na opinião do arquiteto, poderia ser facilmente resolvida com a utilização da faixa ao lado da estrada de ferro que corta a cidade de norte a sul. Por ser um terreno plano, seria perfeito para o deslocamento de bicicleta tanto dos trabalhadores como de toda a população. Ele assinalou que “como Marília é fragmentada pela ferrovia, Rodovia do contorno e pelos itambés, está na hora de pensar na regionalização criando novas centralidades fora do centro comercial, para facilitar a mobilidade e a qualidade de vida da população”.

Faltando uma semana para a eleição, Laerte Rosseto disse acreditar que o próximo prefeito poderá fazer a diferença pensando em Marília com todas as suas potencialidades e necessidades tão bem apresentadas pela comunidade. “Ele terá o grande desafio de tirar do papel a cidade dos sonhos dos marilienses”, finalizou.

* Reportagem publicada na edição de 30.09.2012 do Correio Mariliense 

domingo, 23 de setembro de 2012

CLASSE HOSPITALAR GARANTE O DESENVOLVIMENTO DE CRIANÇAS INTERNADAS POR LONGOS PERÍODOS NA STA CASA

Por Célia Ribeiro

Potes de giz de cera coloridos espalhados nas pequenas mesas de trabalho, uma profusão de letras que saltam de tabuleiros com velcro e das lousas imantadas formando palavras e até frases completas, compõem um dos ambientes mais instigantes da Santa Casa de Misericórdia de Marília. Bem ao lado da Pediatria Oncológica funciona uma classe hospitalar modelo, cuja reputação corre de boca em boca entre os pequenos que se alvoroçam quando a moça de jaleco lilás passa pelos corredores.
Garotinha faz atividade enquanto é medicada
Antes de permitir o desenvolvimento educacional das crianças hospitalizadas ou em tratamento ambulatorial prolongado, a classe criada há dois anos pela pedagoga Michelle Fontoura da Cunha, 32 anos, funciona como um analgésico para os pequeninos que precisam ser fortes para suportarem desde sessões de quimioterapia até os dolorosos processos de recuperação da Unidade de Queimados.

Servidora da Secretaria de Estado da Educação, com diversas especializações em Pedagogia (Deficiência Física, Auditiva, Intelectual, Visual, Dificuldade de Aprendizagem, Super Dotados e Talentosos etc), Michelle, ou simplesmente “Tia Mi” como é conhecida pelas crianças, apresentou o projeto à Santa Casa após conseguir o aval da Diretoria Regional de Ensino e da Escola Estadual “Amilcare Mattei” à qual está vinculada.
Lousa imantada. painéis com velcro e outros recursos ajudam no aprendizado
Profissional entusiasmada, Michelle fala com orgulho deste trabalho: “O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) garante o direito das crianças hospitalizadas de continuarem seus estudos e não perderem o vínculo com a escola. As crianças da Oncologia e da Unidade de Queimados ficam dias, meses e até anos afastadas da escola. Se não tivessem o acompanhamento da classe hospitalar, com certeza, na hora que tivessem alta não estariam no mesmo nível que os alunos das suas turmas”, observou.
Michelle e os cadernos de atividades: controle e organização
Ela explicou que as atividades são preparadas segundo cada faixa etária, a partir dos dois anos. Em contato com a escola da criança, a pedagoga prepara as aulas segundo o conteúdo programático. Assim, os pequenos fazem atividades, tarefas e até trabalhos valendo nota. Quando recebem alta, eles levam junto o relatório completo para que possam continuar seguindo o ritmo da classe normal.

CRIATIVIDADE
Mãe de uma menina de três anos, Michelle leva jeito com as crianças. Foi com muita sensibilidade que ela notou o medo dos pequenos pacientes quando se aproximava deles usando o jaleco branco, mesma cor dos uniformes da equipe de enfermagem: “Tinha uns que começavam a chorar na hora, pensando que seriam tocados, manipulados. Foi quando pedi autorização para mudar a cor do meu jaleco”, disse sorrindo. Agora, a cor diferenciada chama a atenção de outra maneira: as crianças sabem que irão para a classe estudar, fazer atividades lúdicas o que ameniza o estresse do tratamento.
Concentração na hora de fazer as tarefas
Com muitas histórias para contar, “Tia Mi” parece lembrar-se de cada nome. Nas paredes da pequena classe especial estão fotografias e lembranças diversas dos pequenos pacientes, sempre sorrindo. As datas comemorativas são trabalhadas e muito festejadas com atividades diversas. Tudo é motivo para incentiva-los a participarem e desenvolverem suas potencialidades.

Quando perguntada sobre a principal dificuldade, a pedagoga não relacionou a falta de materiais ou estrutura, por exemplo. Usando sucatas e recicláveis, ela dá bom uso a tudo o que encontra e as crianças ajudam com ideias para que uma garrafa PET, por exemplo, se transforme num brinquedo útil ao aprendizado. A única coisa que tira o sorriso do rosto sereno da “Tia Mi” é o sentimento de impotência quando o pior acontece: “A maior dificuldade que tenho, no meu trabalho, creio que seja o de dizer ‘até breve’ quando a criança recebe alta celestial. Ou seja, é continuar a rotina da classe sem tê-la conosco".
 
Nos casos de óbito, é preciso muita determinação para seguir adiante, comenta a pedagoga quando precisa entregar à família os cadernos e relatórios do filho que se foi, que não venceu a luta contra a doença. Momento difícil, sim. Mas, segundo ela, às vezes uma palavra de apoio dos pais, dizendo que a criança viveu feliz na classe hospitalar nos seus últimos dias, parece aliviar um pouco a dor da perda, a saudade...
Crianças aprendem brincando: momento feliz
E assim, trabalhando na classe hospitalar ou levando todos os apetrechos até o leito, nos casos das crianças que não podem sair do quarto,  “Tia Mi” sente-se recompensada pelos avanços que as crianças hospitalizadas registram durante a internação. Em média, são realizados 200 atendimentos por bimestre. Todos devidamente avaliados e respaldados pela Diretoria Regional de Ensino.

SANTA CASA: HUMANIZAÇÃO
“A classe hospitalar vem romper um conceito de cuidado centrado na doença. Essa é uma luta incessante por parte dos profissionais de saúde que são comprometidos com os destinos do cuidado em saúde. Não queremos e não devemos tratar a doença, e sim o ser humano com todas as suas fragilidades e fortalezas, considerando-o dentro de um contexto bio-psico-social. A classe hospitalar vem contribuir de forma efetiva nesta perspectiva, valorizando a criança e toda a rede que compõem seu habitat natural”, afirmou o coordenador da Santa Casa de Marília, Márcio Mielo.

Ele assinalou que “estar adoecido pode significar uma ausência momentânea de boas condições de saúde, e não privar-se de outras formas de convívio que levam o ser humano a um completo estado de bem estar como é o caso da educação. A Santa Casa reconhece esta lógica de pensar em saúde de uma forma ampliada, integral e pautada na interdisciplinaridade, considerando aqui a classe hospitalar como um segmento vital para que este objetivo seja atingido”.
Painel de fotos: lembranças dos pequenos pacientes
E concluiu: “Há que se ressaltar a diferença que um professor faz dentro de um processo pedagógico. Fomos muito felizes na implantação da classe hospitalar e diria privilegiados com a professora. Michele é competente, humana, comprometida e apaixonada pelo que faz. Projetos nesta vertente e com este compromisso social devem ser valorizados por toda sociedade e também por autoridades que pensam e planejam a saúde e a educação neste país. Somente através da educação poderemos melhorar a saúde das pessoas, sua qualidade de vida e estimular a sua autonomia para uma cidadania consciente”.
MÃE DO VINICIUS

O pequeno Vinicius, de três anos, é um dos fãs da “Tia Mi” segundo sua mãe, a operadora de caixa Denise Cristina de Oliveira. “Ele adora a Michelle. Esse trabalho da Santa Casa é muito importante porque acho que a criança aprende muito, até mais do que se estivesse na escola porque tem a atenção toda para ela, naquele momento”.


Vinicius e o carinho
na "Tia Mi"
Em tratamento oncológico, Vinicius passa alguns períodos no hospital e se mostra feliz quando sabe que vai para a salinha colorida da “Tia Mi”, revelou Denise, que fez questão de autorizar a divulgação da imagem do filho com a pedagoga: “As fotos dele com ela já dizem tudo”, comentou.


Reportagem publicada na edição de 23.09.2012 do Correio Mariliense

domingo, 16 de setembro de 2012

DA INFÂNCIA DE PÉ NO CHÃO, ARTISTA CRESCEU RESPEITANDO A NATUREZA E DANDO VIDA AOS MATERIAIS INSERVÍVEIS.

Por Célia Ribeiro

Quando o sol derrama seus primeiros raios sobre o vale, acompanhado de uma brisa fresca, que despenteia as folhas das árvores, os privilegiados moradores da tranquila Rua João Sampaio Goes, no Jardim Acapulco, são brindados com uma experiência sensorial única. O clima bucólico, que encanta os visitantes, também inspira uma artista da terra que escolheu o lugar para viver e reproduzir o ambiente da infância, de pé no chão e cumplicidade com a natureza.

Belinha e um dos quadros favoritos
Formada em design de interiores pelo Univem, Izabel Cirillo, viúva e mãe de duas filhas, nasceu talentosa. Aos 12 anos teve o primeiro contato com os trabalhos manuais ainda na fazenda em que vivia com a família: “Não tínhamos muitos brinquedos. A gente ia para o milharal e fazia boneca de espiga de milho, com roupinhas e tudo mais. Os carrinhos dos meus irmãos eram feitos de pedaços de madeira com rodas de carretel de linha”, divertiu-se contando como foi o despertar de seu interesse pelo artesanato.

Duplo aproveitamento: resto de madeira no vaso
 e cacos de azulejos no tampo da mesa
Estilista e costureira das mais criativas, Belinha, como é chamada pelos amigos e clientes, costurou e deu aula de corte e costura por muitos anos. Mas, inquieta, sempre gostou de ousar criando objetos com coisas que seriam descartadas. Há mais de 30 anos, por exemplo, ela pintou alguns blocos de concreto e caixotes de madeira para confeccionar uma prateleira para o quarto da filha mais velha, hoje com 38 anos. “Nem imaginava que um dia os caixotes virariam moda. Lá ficavam os brinquedinhos da minha filha”, recordou com uma ponta de saudade.

Garrafas de vidro pintadas usam tampas originais: restos de
acabamento, como pastilhas, e até papel machê.
Morando numa casa espaçosa com muitas plantas e flores, Belinha extrai da natureza a energia que a inspira na criação de peças originais: garrafas de vidro são pintadas e adornadas com tampas feitas com sobras de acabamento da construção civil, como pastilhas, ou com papel machê a partir de jornais e revistas velhos; garrafas PET são aproveitadas para o plantio de temperos e formam divisórias de ambiente; os pneus das brincadeiras de infância ganharam cores vibrantes e abrigam florzinhas coloridas no jardim.

Borra de café forma o rosto da mulher no quadro em que
até o filtro de papel usado é aproveitado
Os quadros são uma paixão da artista. E matéria prima não é problema: borra de café e filtro de papel usado formam belas imagens, cacos de vidro e espelho se transformam em detalhes preciosos que dão um charme aos trabalhos. “Não jogo nada fora. Nem um cabo de vassoura”, revelou Belinha, explicando que procura “dar bom uso a tudo. Se vejo uma sobra de madeira de construção, por exemplo, logo penso o que poderia fazer com aquilo e a ideia surge”.

PASISAGISMO

Izabel Cirillo passou boa parte da infância numa fazenda em Garça. De pé no chão, brincando com os irmãos, ela conserva doces lembranças. Acostumada a aproveitar qualquer coisa que tivesse à mão, ela não conseguiu frear a veia artística. Assim, da costura passou aos trabalhos manuais e sua experiência com as plantas e o artesanato formaram o casamento perfeito para os projetos de paisagismo que fazem muito sucesso.
Garrafas PET para cultivo de
temperos variados
“Quando me procuram, eu vou ao local para conhecer as expectativas do cliente. Se ele me der carta branca e me deixar à vontade para usar os recicláveis, vou fazer o projeto usando tudo o que tenho à mão, deixando a imaginação fluir”, comentou. Ela citou o exemplo da Clínica de Fisioterapia Estética e Pilates “Camomila Medeiros”, na Rua Rio Grande do Sul. A pequena garagem se transformou num jardim interno onde foram aproveitados desde estrados de cama antiga para fixação de vasos, batentes de porta, troncos e cascas de árvores, cacos de espelho, retalhos para um tapetinho e até quadros de madeira usados em estamparia.

Flores e pneus dão colorido
ao jardim da casa
Adorei o resultado e minhas clientes também. Elas se sentem acolhidas, ficam mais relaxadas e esquecem os problemas” afirmou a fisioterapeuta e instrutora de Pilates, Camomila Medeiros. Ela já utilizava vários caixotes reciclados na clínica e aprovou as soluções criativas da Belinha.

Na antiga garagem, restos de madeira, casca de árvores, cacos de espelho,
estrados de cama e retalhos de tecidos do tapete: 100% reaproveitados.
“Na clínica da Camomila nada foi comprado. É 100% material que seria jogado fora e que reaproveitamos”, disse a artista. Segundo ela, “todo mundo pode ter um ambiente bonito e agradável a partir de recicláveis, apenas soltando a imaginação sem preconceito”. Ela contou que resolveu fazer faculdade há apenas sete anos e que o curso de Design de Interiores do Univem deu mais abertura ao seu processo criativo: “Estou trabalhando no que eu gosto e que me dá muito prazer”.
Camomila aprovou as ideias

 HORTA COMUNITÁRIA

Do interior da casa espaçosa, que transpira arte em cada canto, tem-se uma visão do vale de tirar o fôlego. Mas, nem sempre foi assim. Há alguns meses, do outro lado da rua havia muito mato, sujeira e entulho. Foi quando, conversando com seu jardineiro, Belinha disse que gostaria de formar uma horta orgânica.

Tendo o vale ao fundo, a horta comunitária
 começou a produzir
Assim nasceu a horta comunitária, do outro lado da rua, que tem atraído a atenção de quem passa pelo lugar. Aproveitando uma equipe da Prefeitura que fazia limpeza de terrenos no bairro, Belinha procurou o encarregado e pediu para limparem o local, consultando-o sobre a possibilidade de fazer uma horta e preservar a área pública. Em poucos dias ela e o jardineiro Donizete já estavam trabalhando a terra que retribui tanto carinho oferecendo legumes e verduras fresquinhos.

A rua tranquila começa a atrair a atenção
“Um vizinho chega aqui com uma semente, outra vizinha já veio pegar cheiro-verde e já comemos pés de alface gigantes, fresquinhos e orgânicos”, comentou toda feliz. Para adubar a terra, eles aproveitam o esterco do pasto em frente e cascas de legumes, verduras e frutas que Belinha coloca para secar. Nem isso é jogado fora! “Temos composto orgânico, sem química, e as verduras crescem que é uma beleza”, assinalou.

Na área pública, cercada para evitar a invasão de animais, mas aberta aos moradores do entorno, além da horta orgânica, Belinha e seu jardineiro plantaram mudas de árvores (Ipê e Pau-Brasil) e se preparam para ampliar o espaço verde. “Notamos que o lugar está chamando a atenção. Os vizinhos que nem desciam aqui embaixo agora passam a pé, olhando a horta”, observou, citando que a produção está se diversificando a cada dia: salsinha, cebolinha, alface, couve, jiló, rúcula, alface, almeirão e hortelã ganharão, em breve, a companhia das mudas de berinjela, cenoura, repolho etc. “Em menos de dois meses já mudamos este lugar. Dá para fazer muito mais”, finalizou a artista que tem beleza até no nome.

Para entrar em contato com a Belinha, o email é: izabelcirillo@hotmail.com e os telefones: (14) 34132844 e 81504826.

* Reportagem publicada na edição de 16.09.2012 do Correio Mariliense

domingo, 9 de setembro de 2012

VITÓRIA: COMO UM JOVEM BOLSISTA SUPEROU TODOS OS DESAFIOS E HOJE BRILHA NA EUROPA

Por Célia Ribeiro

Numa manhã de primavera, o canto dos pássaros no quintal é interrompido por uma gostosa gargalhada de criança. Deitado no chão, balançando as perninhas, o menino de olhos brilhantes diverte-se com os personagens da história em quadrinhos. Alfabetizado precocemente, o menino que desenvolveu o gosto pelo saber, cresceu e protagonizou uma rara história de superação. Esta semana, ele começou a escrever um novo capítulo, quando embarcou para a Europa graças à bolsa de estudos que a Universidade de São Paulo (USP) concede aos seus melhores alunos.

Lucas no embarque para a Europa.
Numa época em que os estudantes do ensino médio preparam-se para os temidos exames vestibulares, o exemplo do mariliense Lucas Henrique Eiras dos Santos, de 21 anos, chega como um sopro de esperança para quem acredita nos próprios sonhos. Atualmente cursando o quarto ano do prestigiado Instituto de Química de São Carlos/USP, em 2.009 ele passou em todos os vestibulares que prestou: Medicina (Famema), Química (USP - São Carlos), Química (Unicamp), Engenharia de Materiais (Universidade Federal de São Carlos) e Matemática (Univem).

Como as ciências exatas, a fórmula do sucesso de Lucas exigiu concentração, determinação e planejamento. O tripé formado pela família, escola e vontade de vencer explica o resultado que hoje enche de orgulho os familiares, os ex-professores e a direção do Colégio Compacto que enxergou no rapaz de 16 anos um diamante bruto pronto a ser esculpido.

Rosana e Sr. Eiras visitam o Cláudio no colégio
 O diretor do colégio, Cláudio Roberto Peres Martins, abre o maior sorriso ao falar sobre o ilustre ex-aluno: “Lucas cursou o primeiro ano do ensino médio na Escola Técnica Devisate, prestou o concurso para bolsa de estudos no Compacto e foi muito bem. Mas, se matriculou no período noturno, onde o preço da mensalidade era menor. Assim que ele começou a estudar, percebemos que era um estudante diferenciado. Por isso, oferecemos a oportunidade de transferência para o diurno, onde o Lucas teria mais tempo para aproveitar a estrutura da escola em que permanecia praticamente o dia todo”, recorda.

Cláudio conta que desde a época do mantenedor Wanderley Mendes, falecido recentemente, o Compacto adota a política de dar oportunidade de estudo àqueles que têm vontade. A escola exerce sua responsabilidade social apoiando os alunos que se destacam e não têm recursos para custearem integralmente as mensalidades, assinala o diretor.

MARMITA NO ALMOÇO

É difícil imaginar as dificuldades que Lucas precisou enfrentar para vencer. Como a família mora num condomínio de chácaras perto do Distrito de Avencas, a locomoção para Marília era um problema. O avô, José Eiras dos Santos Neto, conta que pela manhã trazia os netos (Lucas e a irmã, Ana) para a cidade e na hora do almoço comiam a marmita preparada pela mãe.

Rosana e o filho: orgulho da família
“Perdi as vezes de quantas marmitas comemos dentro do carro, perto do Compacto. A gente saía cedo de casa e só voltava à noite porque a Ana trabalhava de dia e fazia faculdade de arquitetura à noite. O Lucas passava o dia no colégio estudando e também orientando outros alunos”, recorda o avô com indisfarçável orgulho.

As bases familiares foram essenciais para a formação de Lucas. A mãe, Rosana de Fátima Fumis dos Santos, lembra que diante da doença do marido (perdeu a luta para um câncer há quatro anos) não havia espaço para supérfluos: “Nunca pudemos bancar mordomia, nem celular da moda, roupas de marca. A gente sempre viveu na simplicidade mostrando que na vida o importante é ser e não ter”.

Nem mesmo os cursos de idiomas os pais conseguiram pagar para o filho. Mas, isso não foi problema. Lucas deu um jeito de aprender tão bem que chegou a conversar com um norte-americano durante um churrasco, traduzindo as falas para surpresa geral da família. O segredo de Lucas para ser fluente em inglês agora é revelado: ele aproveitava as aulas no colégio e em casa estudava traduzindo músicas!

Brincadeira com os cães de estimação: hora de relaxar
“O pai sempre falou que o sonho dele era ver os filhos formados”, relembra saudosa a dona-de-casa, lamentando que o marido faleceu antes de assistir as conquistas do filho: “Ele sempre dizia para os filhos irem aonde for preciso para fazerem o que tiverem vontade. Mas, lembrem-se do que a gente sempre ensinou. Vivam honestamente, com caráter acima de tudo e cresçam em cima do próprio suor e não do suor alheio”.

RECEITA DE SUCESSO

Na última terça-feira, logo que desembarcou em Lisboa, para um intercâmbio de seis meses, Lucas Henrique concedeu entrevista ao Correio Mariliense, pela internet. Mostrando-se feliz com o desafio de estudar fora do País, ele contou um pouco da sua trajetória e aproveitou para dar algumas dicas aos estudantes que prestarão vestibular no fim do ano.

Trote pela provação em 04 universidades públicas, incluindo a Famema (Medicina)
Uma regra de ouro: “Não se cobrem, como se esta fosse a única oportunidade. Se você faz uma prova sabendo que não tem nada a perder, só a ganhar, você corre menos risco de cometer erros por nervosismo. Foi assim que passei em medicina: como não era minha primeira opção, não me senti obrigado a passar, e no final das contas, eu fui melhor do que pessoas preparadas que estavam nervosas”, ensinou.

Como um jovem absolutamente normal, Lucas deu outra dica valiosa na fase preparatória: “É bom que se descanse um pouco. É melhor diminuir o ritmo de estudo e até fazer alguma atividade de lazer para chegar à prova com pique para passar a tarde toda ali. Se você chega na prova cansado, corre o risco de cometer erros por desatenção ou por pressa de terminar a prova para poder descansar”.
Com colegas na universidade Lucas aparece
 abaixado no canto à direita
Entre as dificuldades apontadas, Lucas cita o desafio de “encontrar um ritmo de estudo que não fosse exagerado. A minha ansiedade em passar no vestibular na primeira tentativa era tanta que, no começo, eu estudava o dia todo. Com o tempo, fui me cansando, até que entrei em um ritmo em que, quando estava disposto eu estudava e, quando não, eu conversava com os amigos”.

Finalizando, Lucas falou da importância de manter a autoconfiança: “Eu sempre confiei na minha capacidade. Sempre me disseram que se eu me esforçasse eu poderia chegar onde quisesse. Assim, eu sabia que poderia ter sucesso. Não pensei que seria tanto. Passei nas quatro universidades públicas para as quais prestei vestibular e hoje, quatro anos depois do vestibular, estou em Lisboa e vou passar seis meses por aqui, com uma bolsa de intercâmbio que ganhei da universidade”.
* Reportagem publicada na edição de 09.09.2012 do Correio Mariliense

domingo, 2 de setembro de 2012

COM AJUDA DA FAMÍLIA, UNIVERSITÁRIA DESENVOLVE PROJETO SOCIAL EM ESCOLA PÚBLICA DE VERA CRUZ.

Por Célia Ribeiro

Uma família muito especial, apaixonada pelo esporte, tem contribuído para transformar a vida de dezenas de meninos e meninas da Escola Castro Alves, da cidade vizinha de Vera Cruz. Através do Projeto “Escola da Família”, onde universitários recebem bolsas de estudo de faculdades particulares em troca do trabalho realizado nas escolas públicas, uma mãe praticante de Taekwondo e bolsista do Univem conta com a cumplicidade da filha de 15 anos, faixa preta nesta arte marcial, para acompanha-la todo fim de semana no projeto.

Alunas treinam em sala de aula
Perto de completar 41 anos, casada e mãe de três filhos, a analista contábil Sônia Pinheiro cursa o último ano de Ciências Contábeis no Univem, trabalha o dia todo e, aos sábados e domingos, dedica-se a abrir os horizontes dos alunos da escola. Eclética, ela contribui não só no projeto do Taekwondo, como também com as aulas de português ministradas no cursinho dos que prestarão o exame para ingresso na ETEC Antônio Devisate.

Para conhecer essa história é preciso voltar ao ano de 2.002. Na época, o marido de Sônia e faixa preta de Taekwondo, Jorge Pinheiro, foi diagnosticado com hipertensão e princípio de depressão. A sugestão, dada pelo médico do Programa Estratégia Saúde da Família (ESF) de Vera Cruz, foi que ele aproveitasse a experiência com as artes marciais para implantar um programa social na unidade e, assim, aliviar o próprio estresse.

A ideia frutificou. Em pouco tempo o projeto social, que só tinha o Taekwondo, recebeu outros voluntários e o reforço das aulas de capoeira, maculelê, pintura etc. Foi quando Sônia se viu picada pelo bichinho da solidariedade e passou a dedicar cada vez mais tempo às atividades. No entanto, em 2.008, com seu ingresso na universidade, o tempo ficou curto demais para conciliar trabalho, estudo e os extras, culminando com seu afastamento.

Sônia Pinheiro
 

Em 2012, sentindo-se valorizada e recompensada pela oportunidade de estudar, Sônia mantinha no íntimo a vontade de retomar os projetos sociais. Nos primeiros três anos do curso ela arcou com o pagamento das mensalidades. Mas, justamente no último ano as coisas ficaram difíceis e ela procurou, entre as alternativas, a bolsa do Programa “Escola da Família”.

AMOR À PRIMEIRA VISTA

Levando o projeto do Taekwondo embaixo do braço, Sônia conseguiu a tão esperada bolsa de estudos. Ansiosa por recomeçar o trabalho social, assim que colocou os pés na escola viu descortinar-se diante de seus olhos a possibilidade que tanto ansiava: contribuir para fazer a diferença na vida daquelas crianças, estimulando-as a desenvolverem suas potencialidades.

A jovem técnica Michele entre os medalhistas
 “Não tenho o entendimento das artes marciais. Mas, eu consigo levar para os alunos a parte da disciplina, da concentração. Eu treino junto com eles e as aulas são dadas pela minha filha Michele, de 15 anos, que é faixa preta. Eu quero demonstrar que não é porque somos pessoas humildes que não podemos chegar ao mesmo lugar que uma pessoa que tem recursos”, afirmou a estudante.

Sônia contou que o filho, Jorge, de 21 anos, estudou Educação Física com bolsa da Prefeitura de Marília porque compete nos jogos representando a cidade. Atualmente, o filho faz pós-graduação e continua evoluindo no esporte. Esse é um dos exemplos que ela usa para ilustrar a importância do esporte na vida dos jovens.
Alunos também aprendem a mexer com a terra
A estudante destacou que a Escola da Família da qual participa têm vários outros projetos igualmente interessantes, tocados pelos universitários. A soma de todos os trabalhos realizados aos sábados e domingos tem apresentado resultados animadores, inclusive com reflexos no rendimento escolar.

Colecionando belas histórias, Sônia recordou um comentário ouvido do pai de um dos alunos: “Certa vez, ele me disse que sabia que o filho não viraria um atleta. Mas, com o ensinamento que eu estava dando ele viraria um homem de caráter”, relatou emocionada.

A panificação atrai muitas famílias
“Eu sinto que, mesmo com 40 anos, ainda tenho alguma coisa para dar a alguém. Sinto que ainda consigo resgatar alguma coisa de alguém que acha que não pode mais nada”, assinalou a estudante que é só elogios ao programa.

Com o apoio da família, incluindo o esposo que aproveitou os conhecimentos como técnico de eletrônica para recuperar sucatas de computador, que têm uso certo no laboratório de informática da escola, Sônia Pinheiro finalizou dizendo que gosta tanto de trabalhar com as crianças que espera ansiosa pelo fim de semana: “Quando chega às cinco horas da tarde de sábado eu quero que o tempo passe logo para domingo eu voltar lá”.

No começo de agosto, os alunos de Taekwondo, que treinam sem tatame, numa sala de aula (afastando as carteiras) e com poucos recursos, conseguiram uma proeza: 04 medalhas (01 ouro, 01 prata e 02 bronze) na 13ª. Copa Open Palestra de São José do Rio Preto. Com apoio, certamente, eles poderiam ir mais longe ainda.

Quem se interessar em colaborar com equipamentos de proteção, quimonos usados etc, pode entrar em contato com a estudante no e-mail: soniapinheiro1@hotmail.com

 UNIVEM 

 “A Escola da Família é uma das maneiras que o Univem encontra em garantir a universalidade do atendimento a jovens que têm dificuldades financeiras em se manter em um curso superior. O Univem estabelece parceira com a Fundação de Desenvolvimento da Educação - FDE, subsidiando a bolsa de estudo aos universitários oriundos de família de baixa renda a continuarem os seus estudos, em nível superior, e consequentemente abrindo possibilidades destes ingressarem no mercado de trabalho”, informou em nota a universidade.
Univem: apoio a quem quer fazer o bem
(Foto Ivan Evangelista)
E acrescenta: “O Univem disponibiliza 190 vagas/bolsas de estudo entre todos os seus cursos. Entretanto, atualmente possuímos 189 vagas/bolsas de estudo ocupadas e somente 01 disponível. Lembramos que no período de 04 a 14 de setembro estarão abertas as inscrições para os candidatos se inscrevem para o programa. No Univem a interlocutora do Programa Escola da Família é Flávia Priscilla Gasparoto Pereira - assistente social e a professora responsável é Ana Laís dos Reis Martini, gerente do Núcleo de Assistência Social”. Contatos pelo e-mail: socialunivem@univem.edu.br
 
* Reportagem publicada na edição de 02.09.2012 do Correio Mariliense