domingo, 13 de maio de 2012

ARQUITETA E AGRÔNOMO RECUPERAM ÁREA DEGRADADA PARA VIVEREM NUM PARAÍSO ECOLÓGICO, À BEIRA DOS ITAMBÉS.

Por Célia Ribeiro

Logo que os primeiros raios de sol surgem no horizonte, anunciando o novo dia, um grupo especial de habitantes já está acordado. Saltando de uma árvore a outra, recolhendo os frutos da terra que caíram na madrugada e celebrando a renovação da vida, dezenas de espécies, que habitam os itambés no entorno de Marília, encontraram o lugar perfeito para se reproduzirem depois que uma família começou a devolver à natureza um pouco do que foi perdido com a exploração desenfreada.

Festa na floresta: vizinhos especiais exploram a área recuperada
O paraíso perdido, que o Correio Mariliense citou na reportagem de domingo passado, existe na zona leste: a Shangri-la, na verdade, é a propriedade onde vivem a arquiteta Ângela Torres, seu marido, o engenheiro agrônomo Fábio e o filho Enrico. Em menos de 04 anos, eles transformaram o lugar num santuário ecológico aonde o respeito ao meio-ambiente vem em primeiro lugar.

Angela Torres na varanda da propriedade
Dedicada às construções com foco na sustentabilidade, há 10 anos, a arquiteta levou para casa as ideias que oferece aos clientes: reaproveitamento do que for possível, desperdício zero e uso racional dos recursos naturais. Não por acaso, a família mandou drenar as cinco nascentes d’água da propriedade que desembocam num lago, repleto de tilápias, e seguem o curso devolvidas às cachoeiras do vale, no fundo do terreno.

 A visão da residência, construída em posição estratégica, é inebriante. Em níveis, o terreno abriga ampla área verde que está sendo reflorestada com mais de 400 mudas de árvores nativas, um playground reformado após ser adquirido em um ferro-velho, o campo de futebol e o lago margeando o pomar.

Vista privilegiada de casa: o paraíso é logo ali!
O casal mandou construir uma fossa séptica para que o esgoto não seja lançado no vale, ao contrário do que acontece com as demais construções das imediações. E isso é uma das coisas que mais entristece a arquiteta: a falta de tratamento de esgoto da cidade faz com que os dejetos sejam despejados na natureza, comprometendo a fauna e a flora, e colocando em risco uma das mais belas formações naturais que, além de Marília, só existe nos estados de Minas Gerais e da Bahia.

Dormentes de madeira da antiga estrada de ferro foram comprados a baixo
custo e formam a escada que interliga os níveis do terreno.
“Quando conheci este lugar, fiquei encantada”, recorda a arquiteta, acrescentando que ela e o marido tentam “amenizar o impacto ambiental do lugar devolvendo à natureza um pouco do que outra pessoa tirou”. Ela reconheceu as dificuldades da empreitada, mas ressaltou que continuará fazendo sua parte.

CONSTRUÇÕES SUSTENTÁVEIS

Na reforma para um cliente, arquiteta reaproveitou a
madeira que seria descartada. O resultado foi essa
parede que divide a área de lazer do imóvel.
Desde os tempos da universidade, Ângela torres pesquisa o assunto. Nas obras que projeta, sejam reformas ou novas construções, oferece aos clientes a possibilidade de economizarem evitando o desperdício, reaproveitando materiais e utilizando alternativas mais práticas como placas cimentícias e tijolo ecológico.

“Nos Estados Unidos, se usa placa cimentícia há mais de 60 anos. É uma coisa mais minimalista e demanda menos mão-de-obra”, observou a arquiteta. No caso das reformas, possui inúmeras obras em que reutilizou a madeira que seria jogada fora, como na casa que ganhou uma área de lazer, com balcão da churrasqueira e parede lateral confeccionados justamente com a madeira que seria descartada. O resultado, na foto desta página, é muito interessante.

Vista interna da área de lazer do cliente: madeira reaproveitada
deu um efeito muito bonito, sem apertar o orçamento.
Na obra do Jardim Santa Gertrudes, apresentada na reportagem de domingo passado, a arquiteta também está inovando com o emprego do tijolo ecológico que, através de sistema de encaixe, tem um resultado final muito bonito e os custos das obras ficam entre 20 e 25% mais baratos.

Aliás, a questão econômica é uma das que mais pesa quando clientes a procuram. Então, aproveitando as inúmeras possibilidades que uma reforma ou nova obra permitem, a arquiteta sugere aos clientes alternativas que agradem ao bolso, mas também aos olhos. Que sejam bonitas, confortáveis, mas também, ecologicamente corretas.

Ela citou a reforma de vários imóveis na Rua das Turquesas, no valorizado bairro Esmeralda, como um bom exemplo de sustentabilidade: “Nas seis lojas conseguimos vender tudo: tacos, janelas, portas, guarda-roupas etc”. Para a arquiteta, “obra que demanda muita caçamba é obra em que tem muito desperdício”.

Sistema de encaixe dos tijolos ecológicos usados na obra da zona leste
Ângela Torres comentou que vai levar muito tempo até que a sustentabilidade na construção civil seja rotina. Ela frisou que não se preocupa com selo verde ou certificações em suas obras porque, para isso, teria que atender a uma série de exigências que ainda não são viáveis: “Numa construção sustentável, pra valer, não pode ter nem resíduo de terra dos pneus de caminhões e tratores que estiverem na obra. Como essa terra fica no asfalto e com a chuva vai para as galerias de águas pluviais e depois para os rios, que já estão assoreados, tem que ter o cuidado de lavar os pneus e varrer a terra para dentro da construção”.
Em sua casa, a arquiteta usou madeira de demolição para os móveis, como esse banco.
No entanto, há muitas formas de minimizar o impacto ambiental e obter economia nas construções, ponderou a arquiteta, citando o uso de placas para aquecimento solar, escolha de lâmpadas de LED que duram mais de 10 anos, aproveitamento da água da chuva para descargas dos sanitários, lavagem de quintais e jardins etc. Opções existem. É uma questão de bom senso, finalizou. O e-mail da arquiteta é: angelct@ig.com.br

PARAÍSO PERDIDO 

Subir nas árvores, brincar no playground no meio de uma grande área verde, jogar futebol com os amiguinhos em casa: quando muitos meninos vivem presos em apartamentos ou casas cheias de grades, por causa da segurança, o garoto Enrico, de 07 anos, tem o privilégio de viver em contato com a natureza que aprendeu a respeitar desde sempre.

Lago repleto de tilápias é mantido com a canalização das nascentes

Abrindo um largo sorriso ao falar do filho, Ângela Torres disse que ela e o marido ensinam o respeito à natureza ao filho para que ele também possa crescer contribuindo para a preservação ambiental: “Ele já tem uma visão bem diferente das outras crianças. Muita criança não sabe nem o que é subir em árvore. Ele tem uma luneta e curte muito essa coisa de contemplar a natureza”, comentou orgulhosa.
Angela relaxa no playground: brinquedos comprados no
ferro-velho, eram do Cristo Rei e foram reformados.
No lago, as tilápias estão visíveis nas águas cristalinas. Mas, a pesca ali só é permitida se o peixe for devolvido ao lago, logo em seguida. Assim, até mesmo os amiguinhos de Enrico, que estão sempre por lá, também aprendem a importância de valorizarem a natureza e cuidarem dela para as gerações futuras.

 *Reportagem publicada na edição de 13.05.2012 do Correio Mariliense

2 comentários:

  1. QUE REPORTAGEM LINDA!!! PARBÉNS PELO TEMA, PELA BELA COLOCAÇÃO DAS PALAVRAS E PELA SENSIBILIDADE. VC É MUITO ÚTIL!

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  2. Estou procurando portas de demolição.
    Vocês tem?
    Sabem me dizer onde encontrar?
    Ou se podem me informar onde posdo encontrar?

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