sábado, 9 de julho de 2011

ESCOLA DE JOVENS E ADULTOS USA MÉTODO ALTERNATIVO PARA FALAR DE SUSTENTABILIDADE

Por Célia Ribeiro

Aconchegados à sombra do imponente ipê rosa, sentados em rústicos banquinhos de concreto, e tendo sob os pés um tapete de flores, quatro educadores conversam animadamente. A exemplo das disciplinas que lecionam (química, física e biologia) eles estão focados num objetivo comum: o desenvolvimento integral de seus alunos, segundo uma visão transformadora capaz de replicar o conhecimento dos estudantes junto às suas famílias, aos vizinhos, enfim, junto à comunidade na qual estão inseridos.
Sílvia, Tânia, Sílvia Helena e João Paulo
O Centro Estadual de Educação de Jovens e Adultos (CEEJA) “Professora Sebastiana Ulian Pessine”, localizado no cruzamento das ruas Coronel José Braz e 24 de Dezembro, é uma instituição de ensino diferente que o “Correio Mariliense” retratou em reportagem, no início do ano (leia aqui). Passados quase 100 dias, voltamos à escola para registrar os avanços do projeto educacional modelo que está mudando a vida de pessoas de faixas etárias tão distintas (dos 16 aos 70 anos), que em comum têm a vontade de estudar e conseguir o sonhado primeiro diploma.

A água da chuva, armazenada na cisterna (ao fundo)
volta à natureza irrigando a horta orgânica
Observados pelo zelador Marcos Augusto Pereira Gomes, que acabou de molhar a horta orgânica, o coordenador pedagógico João Paulo Francisco de Souza e as professoras Sílvia Guedes (química), Tânia Mara da Silva (física) e Sílvia Helena Bernardes da Silva (biologia) escolheram o cantinho da leitura, ao lado da calçada ecológica, para conversarem sobre a proposta que une educação, sustentabilidade e qualidade de vida.

“Tem vários projetos na escola. O meu que reúne química, biologia e ciência é voltado para a saúde, a reciclagem, o meio ambiente”, explicou a professora Sílvia Guedes. A horta, prosseguiu, além de fornecer legumes e verduras fresquinhos e orgânicos para a alimentação oferecida na escola, serve de pano de fundo para experimentos e trabalhos ao ar livre.
Detalhe das bananas amadurecendo
O CEEJA é um dos pioneiros na implantação de boas práticas. Por exemplo, adotou a coleta seletiva de lixo há alguns anos e foi premiado pelo projeto que utiliza água da chuva armazenada numa grande cisterna. Aliás, é essa água que irriga a horta e o pomar onde árvores frutíferas começam a produzir bem no coração da cidade.

ATUALIDADES

Espetáculo da natureza
Aproveitando a grande repercussão de notícias como o terremoto, seguido de tsunami, que atingiu o Japão, bem como o vazamento da usina nuclear, a professora Tânia Mara da Silva usa fatos reais para estudar fenômenos físicos: “Nosso projeto é sobre os fenômenos da natureza tendo como gancho o acidente na Ásia”, disse explicando que cada professor enfoca o tema sob a ótica de sua disciplina e depois, em oficinas, o projeto global é trabalhado por todos.

De acordo com o coordenador João Paulo, os projetos serão apresentados na formatura, em outubro, mas não se encerrarão: “Nosso foco é o meio ambiente e a qualidade de vida. Mas, tem vários projetos que vão linkando com esses. A gente trabalha alguns temas transversais que são comuns a várias áreas”.
O zelador e o professor conferem a qualidade das verduras
E o resultado não poderia ser melhor, segundo a professora Sílvia: “Assim fica muito mais atraente. O aluno se interessa mais; ele é curioso e vai se sentir atraído por aquele assunto. A nossa pretensão é que eles apliquem esses conhecimentos. Por exemplo, se tiverem algum erro na alimentação, eles vão corrigir e vão levar esses conhecimentos para a comunidade onde vivem, para a família”.
 Ela assinalou que “a meta é estender tudo isso para que eles possam, fazendo acertos e consertos no meio ambiente, ter qualidade de vida. Afinal, a vida só terá qualidade se o ambiente estiver bem conservado, preservado, cuidado”.

DESAFIOS

Para o coordenador, a proposta pedagógica diferenciada é um desafio: “A gente consegue isso contextualizando todo o conhecimento. Todo o saber circula na escola e fora da escola. A gente tenta contextualizar para a nossa realidade que é uma realidade diferente. A gente lida com alunos que, em algum momento, deixaram de estudar”, observou. Ele contou que a receptividade tem sido tão boa que uma aluna, que iria se atrasar para a formatura, pediu que a aguardassem: “Ela disse que esperou 30 anos por isso”, relatou.
Por outro lado, o professor João Paulo comentou que a escola usa a criatividade para driblar a falta de recursos e lamenta que algumas ideias precisem ser adiadas. Como exemplo citou a produção de sacolas retornáveis que a escola pretende desenvolver e espera contar com apoiadores para tirar o projeto do papel. Da mesma forma, os professores querem adquirir canecas personalizadas para os alunos eliminando os copos descartáveis.

Ele disse que também faltam recursos para a produção de material de divulgação: “Um trabalho do Grêmio Estudantil é divulgar os projetos e o funcionamento da escola. Muitos alunos chegam aqui sem entender a dinâmica da escola porque eles têm 04 ou 05 professores para atendê-los. Eles não entendem que o atendimento é individual e depois tem as oficinas para complementar o trabalho em equipe, da pesquisa de campo”, assinalou.
Pátio interno dedicado à leitura

É esse modelo, digno de aplausos, que precisa ganhar visibilidade para inspirar outras iniciativas inovadoras e dar oportunidade a quem deseja concluir o ensino. Atualmente, a escola está com aproximadamente 1.400 alunos. Quem quiser visitar o projeto ou colaborar pode entrar em contato com o coordenador pedagógico no e-mail: jpgaruda@prof.sp.gov.br Para conhecer mais, acesse: http://revistadesacis.wordpress.com

* Reportagem publicada na edição de 09.07.2011 do "Correio Mariliense"

Um comentário:

  1. Celinha,
    Foi um prazer enorme, verificar que você e o Correio Mariliense estão acompanhando e divulgando o trabalho do CEEJA Professora Sebastiana Ulian Pessine.
    Faço votos que essa metodologia alternativa seja uma referência para outras escolas que pretedem unir a educação escolar à qualidade de vida.
    Aproveito o espaço para parabenizar o coordenador João Paulo e demais professores envolvidos nesse projeto.
    Abraços,
    Marisa,

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