domingo, 27 de março de 2011

ESCOLA VERDE: UNIDADE PÚBLICA, DESTINADA A JOVENS E ADULTOS, É MODELO EM SUSTENTABILIDADE

Por Célia Ribeiro

As folhas se desprendem dos galhos e caem sem cerimônia: o outono chegou. A imagem captada pelo olhar do visitante lembra um quadro do pintor impressionista Van Gogh. Num segundo momento, observando com cuidado, o que se vê é um raro espetáculo de convivência harmônica entre homem e natureza. Tudo isso numa escola pública incrustada em uma das regiões mais movimentadas de Marília.

Paisagem de inverno lembra Van Gogh
Localizada no cruzamento das Ruas 24 de Dezembro e Coronel José Braz, o Centro Estadual de Educação de Jovens e Adultos (CEEJA) “Professora Sebastiana Ulian Pessine”, é um belo modelo de “Escola Verde”. Atraindo funcionários, professores, alunos e a direção da unidade, as sementes da solidariedade e do respeito ao meio ambiente germinam e brotam com a mesma energia das plantas que se espalham por toda parte.

Caminho leva ao espaço de leitura
O coordenador pedagógico João Paulo Francisco de Souza, mestre em Literatura e Vida Social, 30 anos, com jeitão de adolescente, contou que a escola atende em torno de 1.500 alunos, a partir dos 16 anos até mais de 70. É possível concluir o ensino médio em 03 semestres e o ensino fundamental em 04 semestres. A maioria dos estudantes é formada por “trabalhadores que perderam a oportunidade de estudo e estão retornando”, observou.

O Centro é uma escola diferente: além da flexibilidade dos cursos, que permite ao aluno se desenvolver no seu próprio ritmo, vários conceitos de cidadania são trabalhados na teoria e na prática. Por exemplo, há uma área de “escambo” em que os estudantes podem trocar roupas, calçados e livros. Mas, não tem ninguém fiscalizando: “Deixamos que cada um exerça sua cidadania e, assim, os alunos têm liberdade de trazer uma roupa e pegar outra, com responsabilidade”, contou o coordenador.
Detalhe da calçada ecológica

Um eixo geral dá o norte para outros eixos trabalhados na escola: relações interculturais e interpessoais; questões de gênero; trabalho e lazer; saúde, sexualidade e qualidade de vida; nosso meio ambiente – conhecer, apreciar e cuidar; contrastes no campo e na cidade; possibilidades de consumo; arte, imaginário social e meios de comunicação.

Ecologia

“Nosso aluno não assiste as aulas como numa escola regular. Temos salas-ambiente que permitem o estudo interdisciplinar. O aluno monta o horário dele”, explicou o professor João Paulo, observando que a ideia “é trabalhar de forma holística todos os eixos” nas aulas de manhã, tarde e noite. E espaço para criatividade não falta, como o cantinho de leitura ao ar livre. Para chegar lá, o aluno percorre vários metros de calçada ecológica até as mesas e bancos sombreados pelas copas de frondosas árvores.


Roberta e o Professor João Paulo

Livros para compartilhar conhecimento
No dia-a-dia, a escola pratica o que ensina: coleta seletiva de lixo em parceria com a Cotracil (Cooperativa de Catadores de Recicláveis Cidade Limpa), formação de uma horta cuja produção de verduras e legumes reforça a merenda escolar, bicicletário para incentivar a atividade física e o uso de um transporte não poluente pelos alunos, professores e funcionários, aproveitamento da água da chuva que é coletada numa cisterna de 12 mil litros, entre outros.

Cisterna armazena 12 mil litros de água da chuva
Ensinar e aprender

Foi por uma feliz coincidência que Roberta de Carvalho Almeida, 21 anos, acabou se integrando ao projeto do CEEJA. Ao se matricular na escola, soube da horta em formação e resolveu se apresentar: junto com a família, a lida na terra é sua rotina diária. Eles produzem verduras e legumes numa pequena propriedade próxima ao Distrito de Dirceu.


Roupas e calçados: escambo
 “Aqui, eu posso ensinar e posso aprender”, afirmou a jovem horticultora que se sente feliz por “levar alimento de qualidade para a mesa das pessoas”. A produção da família (pais, avó e irmãos) é vendida nas feiras livres da cidade.

Engajamento

Com o respaldo da vice-diretora Mônica Spadoto Righetti e da diretora Ignez Poite Cassaro, a equipe pedagógica tem liberdade de propor atividades que acabam envolvendo toda a comunidade da escola de forma muito produtiva.

Horta reforça a merenda escolar

Premiado nacionalmente (Prêmio Escola Voluntária – 2.004 e finalista no Prêmio “Instituto Cidadania Brasil” nos três últimos anos e primeiro lugar em 2.010), o CEEJA é um exemplo de escola pública onde o cidadão pagador de impostos tem orgulho do que o Estado é capaz de fazer quando pessoas determinadas sonham alto porque sabem que podem realizar seus sonhos. Para conhecer mais sobre esse projeto, acesse: http://revistadesacis.wordpress.com/
 
Verde em toda parte
* Reportagem publicada na edição impressa do Correio Mariliense de 27.03.2011

9 comentários:

  1. Que legal, Célia!!! Por coincidência, desde ontem eu estava encasquetado com esse lance de educação de jovens e adultos, por conta de uma matéria que vi na GloboNews. omara que o trabalho deles se expanda e chegue com o mesmo nível nas zonas sul e norte. E parabéns pelas pautas "boas". O que é bom deve ser mostrado e incentivado.

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  2. Querido Osvaldo, obrigada pelo comentário carinhoso. Realmente, o trabalho deste pessoal é incrível e merecia visibilidade. Pena que não é regra. Abraços!

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  3. Célia, fiquei muito feliz com o resultado de nossa conversa! Na matéria, você soube olhar a escola de um jeito positivo e com muita sensibilidade! Nós, da escola pública, precisamos de jornalistas e pessoas conscientes como você - que tem olhos para ver o que dá frutos e incentiva projetos empolgantes!!! Aquele abraço, nossa escola está sempre de portas abertas e "calçadas ecológicas" disponíveis para seu caminhar (risos)! João.

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  4. Professor João Paulo, eu que agradeço a oportunidade de registrar o belo exemplo de vocês. Convite aceito para caminhar pela calçada ecológica e ler sob as árvores que tanto me impressionaram...rs Abração!

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  5. Celinha,
    Lendo esta matéria e conhecendo o professor João Paulo, pude perceber que nem tudo está perdido na rede pública de ensino.
    Parabéns ao professor coordenador João Paulo! Parabéns à Direção do CEEJA por viabilizar esse Projeto.
    Parabéns a você por divulgar com gosto e sensibilidade o plantio dessas novas "sementes de solidariedade e respeito ao meio ambiente".
    Abraços,
    Marisa.

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  6. Célia vendo a matéria no jornal fiquei encantada com algo tão bonito acontecendo em nossa cidade.Parabéns pelo trabalho de pesquisa e divulgação feito com muita competência.
    Terezinha Coimbra.

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  7. Caras Marisa e Terezinha, muito obrigada pelos comentários. Marília tem muita coisa boa e o "garimpo" dessas matérias está sendo um exercício maravilhoso. Quando tiverem sugestões de pauta, fiquem à vontade para enviar. Grande abraço!

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  8. Adorei o texto e também ver as imagens da escola, com este exemplo para muitas outras! Abraço a todos
    Lilian

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  9. Estou tendo a oportunidade de saber e conhecer pessoas muito bacana em Marília

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